Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A intenção do governo federal de acabar com a BNDESPar, unidade de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vai na contramão das práticas de instituições de desenvolvimento multilaterais no mundo e ameaça o fomento ao mercado de renda variável no país, segundo a AFBNDES, associação dos empregados do banco.
A manifestação vem após o secretário de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, ter dito no começo da semana que o governo Jair Bolsonaro quer fechar a BNDESPar após vender todas as fatias que detém em companhias. Mattar afirmou que tais participações valem 110 bilhões de reais.
"Quando declara que não há razão para o governo ter carteira de ações de empresas, o secretário não polemiza apenas com 40 anos de atuação da BNDESPar, também confronta a estratégia das principais instituições de desenvolvimento multilaterais, como o Banco de Desenvolvimento da Ásia, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial (...)", afirmou a AFBNDES em nota à Reuters.
A associação também argumentou que o plano ameaça o fomento ao mercado de renda variável, que, na visão da entidade, enfrenta a rentabilidade superior dos títulos de renda fixa, "anomalia causada por décadas de taxas de juros altíssimas".
Para a entidade, por meio da BNDESPar o BNDES apoia empresas em setores de alta produtividade e de alta tecnologia, incluindo setores de energia renovável e saúde, incluindo as fases pré-operacionais de empreendimentos, etapas que não costumam contar com grande interesse de outros investidores.
Hoje, a BNDESPar é a maior investidora nacional em fundos de capital semente e ventures capital, disse a associação, alegando que isso contribui para que as empresas precisem no futuro menos do banco nas captações de longo prazo.
A associação afirmou que de 2001 a 2016 a BNDESPar respondeu por cerca de 30 por cento da lucratividade do sistema BNDES, e teve valorização de 413 por cento. Já o Ibovespa, principal índice de ações do país, subiu 294,7 por cento. O CDI, referência da rentabilidade da renda fixa, saltou 675,8 por cento.
De acordo com a última demonstração financeira disponível da BNDESPar, sua carteira em setembro de 2018 compreendia títulos de 124 empresas, incluindo ações em 94, e de 42 fundos, "com valores concentrados principalmente nos setores de petróleo e gás, mineração, papel e celulose, energia elétrica, alimentos e bebidas e bens de capital".
Dentre as empresas nas quais a BNDESPar tem grandes investimentos, estão Petrobras (SA:PETR4), Vale (SA:VALE3), Suzano (SA:SUZB3), Eletrobras (SA:ELET3), AES Tietê (SA:TIET11), Klabin (SA:KLBN11), Embraer (SA:EMBR3), JBS (SA:JBSS3), Copel (SA:CPLE6) e Fibria (SA:FIBR3).
Questionado via assessoria de imprensa sobre os pontos levantados pela Reuters, Mattar não respondeu de imediato.
(Com reportagem adicional de Paula Laier; Edição de Aluísio Alves)