Investing.com – Os resultados da temporada de balanços referentes ao quarto trimestre de 2022 trouxeram surpresas positivas e negativas ao mercado, resultando em fortes oscilações em empresas como Gol (BVMF:GOLL4), Azul (BVMF:AZUL4), Natura (BVMF:NTCO3) e diversas outras. Analistas avaliaram o período como difícil, com mais indicadores abaixo das projeções – e as perspectivas para os dados relativos ao acumulado de janeiro a março não são mais animadoras.
“Nos pregões seguintes à divulgação, a Azul, por exemplo, subiu mais de 65% em 3 dias. Em seu resultado, a empresa apresentou melhores receitas e um lucro líquido bem acima do esperado, além de trazer seu guidance para o ano de 2023, esperando atingir R$20 bilhões em receita líquida e EBITDA superando os R$5 bilhões”, explica Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero, escritório credenciado do BTG (BVMF:BPAC11).
Por outro lado, De Nicola aponta a Natura como um bom exemplo de resultados abaixo do esperado pelo mercado, com queda na receita, margem inferior e aumento da alavancagem. “Nesse caso específico, as ações se recuperaram de lá para cá, mas por conta de eventos relacionados à venda de ativos (Aesop)”, pondera.
Fernando Bresciani, analista do Andbank, destaca que enquanto CVC (BVMF:CVCB3) aumentou volume de vendas, mas com queda de margem no Brasil, a Hapvida (BVMF:HAPV3) apresentou um balanço extremamente fraco, que resultou em anúncio de operações para reestruturação, incluindo follow-on de ações. Arezzo (BVMF:ARZZ3) decepcionou nas vendas e JHSF (BVMF:JHSF3) alterou o critério contábil. Em relação ao Bradesco (BVMF:BBDC4), o mercado já estava ciente de que os resultados seriam afetados pela provisão de Americanas (BVMF:AMER3), detalha.
Resultados pior do que o esperado aumentaram?
Na opinião dos analistas, ainda que diversas empresas tenham apresentado resultados positivos nos últimos três meses do ano, o período foi de dificuldades. De Nicola cita relatório do BTG que aponta para uma elevação da parcela de empresas com números fracos, abaixo do esperado, saindo de 15% no primeiro trimestre do ano passado para 39% no último. “Considerando essa tendência negativa e como as taxas de juros devem permanecer altas por algum tempo, as chances de revisões negativas de lucro são consideráveis", completa o especialista da Acqua Vero.
Flávio Conde, analista da Levante, concorda que os resultados vieram, na média, abaixo do esperado, porque as vendas não foram tão significativas em todos os setores. “Não teve exceção. As margens, começando pela margem bruta, caíram na maioria das empresas. O motivo foi a inflação, aumento de custos de vários insumos, o que fez com que a margem bruta também viesse abaixo do esperado”. Ainda, os resultados financeiros pioraram bastante, segundo o analista, com altas na despesa financeira líquida não somente pelo aumento de juros, mas endividamento mais amplo, com maior necessidade de investimento em capital de giro.
O analista do Andbank classificou o quarto trimestre do ano passado como um período de “paralisia”, mas com divergências, de forma geral, entre os balanços das empresas. Bresciani pondera, no entanto, que as quedas foram um tanto exageradas. “Foi um período difícil, com eleição, quando todo mundo se segura, e Copa do Mundo, que deixa a economia mais fraca. Uns vieram melhores e outros bem piores”.
O que esperar para a próxima temporada?
Após um período conturbado, com resultados abaixo do esperado, o primeiro trimestre pode ser pior ainda, segundo o analista da Levante. “Não há mais Natal, primeiro trimestre é quando as empresas de praticamente todos os setores têm receitas menores no ano, com famílias gastando em férias, IPVA, seguros. Aliado a esses fatores, está um governo novo, sobre o qual há desconfiança alta dos agentes econômicos e esses resultados mais fracos não foram precificados porque ainda não saíram”.
Segundo Conde, os indicadores devem decepcionar, mas a reação vai depender de como estará o humor na bolsa. “Se estiver em um mood favorável, como entrou agora, ações podem não sofrer tanto ou até desprezar o primeiro trimestre. Acho que os resultados do primeiro trimestre serão fracos, porque as dívidas das empresas continuam altas, mas vendas não estão bombando, não é o quarto trimestre. O investidor não deve dar tanto peso ao primeiro trimestre, porque é fraco, sazonalmente”, completa.
Bresciani afirma que o mercado deve ter mais surpresas com os dados que serão divulgados do primeiro trimestre, levando em conta que a inflação está mais baixa, resultando em reajustes menores em empresas de utilidade pública. “Com juros elevados, pode haver crescimento menor em alguns setores e despesa financeira igual ou maior, afetando as margens”.
Cuidado com reações exageradas
Como os resultados foram divulgados, na maior parte, no mês de março, com sentimento negativo na bolsa, a reação foi exagerada, mesmo com resultados medianos, segundo os analistas da Levante e Andbank.
“Não venda uma ação por causa de um resultado fraco ou abaixo do esperado. Aquilo pode ser pontual e o mercado, como foi em março, pode estar em um período difícil e reagir exageradamente para baixo. Não tome nenhuma decisão no dia seguinte do balanço”, orienta Conde.