Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou nesta sexta-feira que as três principais companhias aéreas que atuam no país, Gol (SA:GOLL4), Azul (SA:AZUL4) e Latam, aceitaram as condições financeiras da operação de socorro de bancos para o setor e acrescentou que a ajuda à indústria automotiva será negociada com cada montadora, tendo como exigência a manutenção de operações no Brasil.
Segundo Montezano, as condições financeiras para o socorro às aéreas foram apresentadas às três empresas e, na quinta-feira, todas aceitaram o modelo.
"Ontem todas as três aceitaram a proposta do sindicato de bancos e agora é a fase de execução da operação”, disse Montezano durante entrevista online com jornalistas para falar do resultado do banco, que teve lucro de 5,5 bilhões de reais no primeiro trimestre.
A Reuters apurou que o modelo de socorro prevê ajuda de até 6 bilhões de reais para as companhias aéreas, sendo 2 bilhões de reais para cada uma das empresas. O “cheque” do BNDES seria de até 2,4 bi de reais, enquanto bancos privados entrariam com 500 milhões de reais. O restante da operação seria com instrumentos híbridos como debêntures conversíveis em ações e emissão de bônus.
As mesmas fontes disseram que a linha deve ficar pronta em junho, e a Latam, por ser uma empresa internacional e com ação negociada em Nova York, poderia ter mais dificuldades para acessar o crédito.
MONTADORAS DE VEÍCULOS
O BNDES negocia com fabricantes de veículos, desde o início da crise criada pelo Covid-19, um modelo para dar suporte ao setor. As montadoras sugerem o uso de créditos fiscais e tributários que têm com Estados e governo federal como garantia do financiamento. Mas dentro do BNDES, a medida é vista com ressalvas dada a incerteza dos créditos.
O presidente do BNDES afirmou que a possibilidade de uso desses créditos como garantia depende do Ministério da Economia e que a potencial ajuda será também no modelo de sindicato de bancos. A indústria diz que o volume de créditos acumulados é de 25 bilhões de reais.
"A negociação será por um sindicato de bancos e com cada uma das empresas (individualmente)... (o empréstimo) tem que ter o aval da matriz e o compromisso de que vai ficar no Brasil", disse o Montezano.
Na véspera, o presidente para a América Latina da Mercedes-Benz, Philipp Schiemer, afirmou a jornalistas que a discussão do setor automotivo com os bancos para a concessão de crédito "não está fácil", uma vez que as instituições financeiras estão cobrando taxas elevadas das montadoras para a concessão do dinheiro e que ainda não havia acordo para o uso dos créditos fiscais acumulados.
RESULTADO
O lucro líquido de 5,5 bilhões de reais do BNDES no primeiro trimestre foi puxado pela carteira de participações societárias. No período, o banco vendeu ao mercado uma parte relevante de ações que tinha da Petrobras (SA:PETR4), o que ajudou a impulsionar o desempenho do período.
O banco alertou, no entanto, que a carteira de renda variável sofreu um baque no primeiro trimestre, com desvalorização de mercado de cerca de 31 bilhões de reais em relação à cotação dos papéis no quarto trimestre de 2019. O valor da carteira de participações em empresas ficou em 59,2 bilhões de reais, ante 111,9 bilhões no fechamento de 2019.
"Quando você tem um mercado volátil é menos trivial fazer venda de papéis e mais desafiador, mas naturalmente a gente gostaria de ter trocado ações por mais caixa", disse Montezano. "Isso só comprova a nossa necessidade de manter a estratégia de desinvestimentos", adicionou.
O BNDES confirmou notícias dadas pela Reuters que sobre tratativas com o governo federal para não antecipar o pagamento de recursos ao Tesouro em 2020 e 2021, nem pagar dividendos adicionais por causa do foco em medidas para amenizar os efeitos da pandemia.
Segundo o banco, a projeção para o fluxo de caixa para o fim do ano é de 37,5 bilhões de reais muito em função de um programa que permite a suspensão por até seis meses o pagamento dos empréstimos contraídos por empresas junto aos bancos.
O BNDES tem várias linhas de financiamento em andamento desde o início da crise, mas cada uma delas está em ritmo diferente.
O programa de apoio com capital de giro para micro, pequenas e médias empresas já teve 2,3 bilhões de reais em operações aprovadas para um orçamento original de 5 bilhões de reais. "Não faltarão recursos às micro, pequenas e médias… daremos recursos adicionais”, disse o Montezano.
Por outro lado, uma linha de crédito de 40 bilhões de reais para bancar a folha de pagamento de empresas segue com baixa demanda (1,6 bilhão de reais) e o BNDES estima que apenas 10 bilhões de reais serão demandados.