José Álvarez Díaz.
Xangai (China), 8 jan (EFE).- As bolsas chinesas se estabilizaram nesta sexta-feira e fecharam em alta depois que o regulador dos mercados suspendeu o mecanismo de "circuit breaker", após as fortes quedas de ontem e de segunda-feira que causaram os primeiros fechamentos prematuros de sua história,
Enquanto o índice de Xangai, que na segunda-feira afundou 6,85% e ontem outros 7,32%, terminou a sessão de hoje subindo 1,97%, o de Shenzhen, que na segunda-feira caiu 8,35% e ontem outros 8,16%, fechou hoje em alta de 1,20%, com o que parecem deixar para trás o pânico de vendas dos últimos dias.
Ambas as bolsas abriram em alta, mas após 15 minutos caíram abruptamente, embora tenham se recuperado em seguida e, após voltar às altas, continuaram assim no resto do dia.
Com os números de hoje, o índice geral de Xangai perdeu 10% na primeira semana do ano, o que eliminou a alta de 9,4% que apresentou em todo o ano de 2015.
Mesmo assim, o resultado de hoje parece demonstrar até que ponto o mecanismo de "circuit breaker" - pensado para evitar as fortes quedas do verão passado (hemisfério norte), e que começou a ser aplicado justamente na segunda-feira - na realidade tinha induzido o pânico nos investidores individuais, que são determinantes na China.
Ambas as praças viveram ontem a sessão mais breve de sua história, após apenas 27 minutos de operação (dos quais só 13 foram de cotação real), ao ser aplicado o mecanismo de paralisação, que suspende por 15 minutos a cotação se um índice misto (o CSI 300) cair mais de 5%, e fechar automaticamente se atingir 7%.
Por este motivo, o regulador da bolsa anunciou na última hora da noite da quinta-feira a suspensão temporária deste sistema, a partir de hoje mesmo, para "manter a estabilidade do mercado" e estudar como melhorá-lo.
O mecanismo se originou nas fortes quedas em cadeia do ano passado, que chegaram a afetar outros mercados mundiais.
Naquele contexto, o dia 8 de julho e após a primeira semana de quedas, o regulador proibiu os grandes acionistas (com 5% ou mais dos títulos de uma companhia) de vender suas ações durante seis meses, prazo que se completou hoje.
Isto representa que cerca de um trilhão de títulos serão desbloqueados na segunda-feira.
Embora as autoridades não esperem que haja vendas generalizadas, as fortes quedas desta semana aconteceram porque os investidores individuais temiam que os grandes acionistas pudessem vender seus pacotes de títulos.
Daí o fato de o regulador ter anunciado de surpresa, pouco depois do fechamento relâmpago das bolsas na quinta-feira, uma nova norma que limitará a partir deste sábado (ou seja, a partir do momento em que expirar o prazo das medidas do dia 8 de julho) a capacidade de venda dessas ações, agora já não tão desbloqueadas.
A Comissão Reguladora da Bolsa de Valores da China (CRMV) limitará assim, pelo menos até o próximo dia 12 de abril, a um máximo de 1% do total das ações de uma companhia a quantidade de títulos que estes grandes acionistas poderão se desfazer.
Além disso, se o fizerem, deverão anunciar seus planos ao mercado com pelo menos 15 dias de antecedência.
Esta medida, junto com a suspensão do "circuit breaker", parece ter dado hoje certa confiança aos investidores de que não acontecerá a forte queda dos preços temida a partir da próxima segunda-feira.
Contudo, as baixas desta semana não se explicam apenas pela coincidência artificial destes dois fatores, aos quais hoje se somaram seis grandes empresas estatais, que anunciaram que impedirão suas filiais de vender ações.
Tudo isto coincidiu com uma combinação de fatores relacionados com o arrefecimento da economia chinesa, apesar de que as bolsas do país, ao ter três quartos de sua atividade diária nas mãos de 90 milhões de investidores individuais não profissionais, costumam ser muito voláteis e se afastam frequentemente dos fundamentos econômicos nacionais.
Por um lado, a cotação dos títulos está supervalorizada, sobretudo nas pequenas e médias empresas, e se o "circuit breaker" não tivesse sido acionado as bolsas poderiam não ter se estabilizado, segundo explicou à Efe o especialista Rui Meng, da escola de negócios CEIBS.
Por outro, a crise mundial está fazendo com que, apesar de durante décadas ter "chovido" investimento estrangeiro na China, agora esse fluxo de capital está cada vez mais mudando de sentido, o que causou forte queda do iuane em relação ao dólar e das reservas chinesas de divisas para mantê-lo, como constatou um comentário da HSBC Global Research.