Por Anna Flávia Rochas
SÃO PAULO, 28 Ago (Reuters) - A Bolognesi, grupo gaúcho que atua nos setores imobiliário, de infraestrutura e energia, poderá construir dois novos terminais de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) no Brasil, caso seus projetos térmicos vençam o leilão de energia A-5 previsto para setembro.
Essas térmicas, de cerca de 1.200 megawatts (MW) cada, usariam a partir de 2019 capacidade de regaseificação dos terminais para o GNL que abastecerá as usinas.
Os terminais seriam construídos em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e no Porto de Suape, Pernambuco. Orçados em cerca de 2,8 bilhões de reais cada, os investimentos deverão ser feitos em parcerias, disse o diretor da Bolognesi, Paulo Cesar Rutzen.
"Uma das parceiras é estrangeira, mas tem também parceiro nacional", disse Rutzen à Reuters, sem divulgar o nome das parcerias até que os acordos sejam formalizados.
Uma possibilidade é estabelecer parceria transitória com fabricantes de equipamentos, que podem ajudar no aporte de recursos num primeiro momento e depois sair do projeto. "A tendência é que num dos terminais, ao menos, a nossa participação seja majoritária, se não totalmente nossa", disse.
Em princípio os terminais serão usados para regaseificar gás natural que a Bolognesi importará para abastecer dois projetos térmicos com os quais pretende disputar o leilão A-5.
"Pelo modelo regulatório atual, entendemos que não é possível simplesmente construir um terminal de GNL para venda de gás natural ou prestar o serviço. Por isso formaremos o primeiro mercado através do consumo da própria usina termelétrica, que será instalada junto ao terminal de regaseificação. Depois, naturalmente, vem a expansão do mercado e o atendimento da demanda reprimida", disse Rutzen, à Reuters.
Cada térmica consumiria entre 5,5 milhões e 6 milhões de metros cúbicos de gás por dia, e a capacidade de regaseificação de cada terminal poderá chegar a 14 milhões de metros por dia, segundo o executivo.
Sendo construídos, os terminais poderão no futuro ser uma alternativa a outros novos projetos térmicos que usam GNL e também atender a indústria. "Uma vez instalado o terminal com a ancoragem da térmica, o próprio mercado traz consumo, quer seja através de novas térmicas, quer através de demanda industrial".
PROJETOS NO LEILÃO
A maioria dos projetos térmicos a gás que participar do leilão A-5 deve usar GNL para abastecer as usinas, já que com exceção do gás no Amazonas, não há grandes volumes de gás nacional disponível para esse fim.
Além das térmicas da Bolognesi, alguns empreendedores com projetos térmicos a gás interessados no leilão negociam com a Petrobras o uso de capacidade de regaseificação de GNL dos três terminais da companhia, segundo o diretor de Estudos de Energia Elétrica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Carlos de Miranda Farias.
Consultada, a Petrobras disse que os acordos firmados com os participantes de leilão de energia estão sob confidencialidade e que pretende participar do certame com o projeto da Usina Termelétrica Azulão, com capacidade de 102 MW, no município de Silves, no Amazonas.
No total, 20 gigawatts (GW) de usinas térmicas a gás se cadastraram para participar do leilão, mas o número de habilitação tende a ser bem menor -- especialmente porque não há muito gás natural disponível no país para a nova geração térmica. Na fase de habilitação, os projetos devem apresentar à EPE comprovação de que têm gás para as usinas.
O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, disse na terça-feira que haverá térmicas a gás habilitadas para o certame, a maioria usando GNL.
O processo de habilitação para projetos térmicos participar do leilão ainda está em curso. Segundo Farias, da EPE, a lista com os habilitados deve sair em meados de setembro.
O preço-teto da energia térmica a ser vendida no leilão é de 197 reais por megawatt-hora, o que Rutzen diz não ser "ideal". "Esperávamos que fosse pelo menos 15 reais a mais", disse.
Segundo ele, a decisão de participar do leilão, caso seus projetos sejam habilitados, ainda depende de outras informações técnicas a serem divulgadas, como a garantia física das usinas. A garantia física aponta quanta energia as usinas podem vender.