Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A empresa de alimentos BRF (BVMF:BRFS3), uma das maiores compradoras de grãos para fabricação de rações para aves e suínos, avalia que a chegada da China como compradora de milho do Brasil não influenciará o mercado brasileiro do cereal, disse o vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da companhia nesta quinta-feira.
Fábio Mariano afirmou ainda, em teleconferência para comentar os resultados trimestrais, que a companhia tem aproveitado oportunidades após a colheita recorde de milho no Brasil, realizando compras nos melhores momentos do mercado para garantir estoques adequados da matéria-prima.
A China habilitou recentemente diversas tradings para exportar milho brasileiro, e o mercado está na expectativa do início das vendas do cereal aos chineses.
"A gente entende que isso (a importação de milho brasileiro pelos chineses) não deve ter influência nos preços, porque em termos relativos isso não exercerá uma mudança em relação ao que é a exportação de milho do Brasil, em relação à safra total", disse o executivo.
Segundo ele, a exportação de milho do Brasil --segundo exportador global do produto, atrás dos EUA-- "representa algo próximo de um terço (da produção), e os dados sugerem, vendo os dados da Conab e USDA, que esse número se mantém em termos relativos".
Alguns analistas, contudo, veem a China como possível fator de alta, especialmente para os prêmios do milho brasileiro sobre os mercados futuros globais.
As compras chinesas de milho do Brasil podem ainda remodelar os fluxos globais de comércio.
Importadores tradicionais do cereal brasileiro, como Espanha e Egito, poderiam transferir algumas das suas compras para os Estados Unidos, tradicionalmente maior produtor e exportador do grão.
As habilitações para que o Brasil possa iniciar exportações aos chineses ocorreram após problemas nos fluxos com a guerra na Ucrânia, um grande player do mercado que fornece volumes à China.
MENORES CUSTOS EM 2023
Mariano disse ainda confiar que, após uma grande safra de milho em 2021/22, o Brasil volte a colher uma produção recorde em 2022/23, o que deverá reduzir custos para a empresa em termos de matéria-prima no ano que vem.
"Fazendo um 'link' com as nossas projeções para a safra, e nesse contexto incluímos a safra de soja, há uma ótima expectativa no Hemisfério Sul tanto em área plantada quanto em produtividade...", acrescentou o executivo da BRF, lembrando projeções de safras recordes.
Baseado nessas estimativas, ele disse que os modelos já sugerem "um custo de ração declinante ao longo de 2023".
Disse também que a nova administração da companhia trabalha em formas de otimizar processos para ter o melhor aproveitamento da matéria-prima pelas criações.
"É preciso começar a falar do grão não só no fator preço, é preciso falar do fator quantidade... é preciso melhorar indicadores de mortalidade (de animais), a gente deixa de desperdiçar o grão quando perde um animal, quando a gente fala de indicadores de rendimento, deixamos de desperdiçar o grão, quando falamos da conversão alimentar não adequada a gente também está jogando o grão fora", exemplificou.
Sobre compras de milho, ele ressaltou que é comum que os estoques da companhia cresçam quando acontece a colheita da segunda safra.
"É uma oportunidade de originação a preços mais baixos, isso foi feito, então a gente tem os estoques hoje de maneira estratégica, dentro de 'range' que consideramos adequado, e que ainda assim, se observarmos novas oportunidades de originação, a gente poder materializar."
Os preços do milho no mercado interno têm oscilado perto de 85 reais a saca de 60 kg no mercado interno desde meados de outubro, segundo indicador do Cepea. O patamar está inferior aos níveis nominais recordes acima de 100 reais vistos no início do ano.
COPA E TIMING
No curto prazo, a BRF espera um aquecimento do mercado para seus produtos, com a realização da Copa do Catar estimulando o consumo, enquanto a nova direção avalia que 2023 tem que ser marcado por agilidade da empresa em decisões sobre a precificação, por exemplo.
"A empresa tem que fazer as escolhas corretas", disse Miguel Gularte, que assumiu como CEO da BRF há cerca de 45 dias.
Segundo ele, a companhia tem pessoas, informações e estrutura para capitalizar as oportunidades, com crescimento orgânico.
Na teleconferência para comentar os resultados do trimestre em que a empresa voltou a ter prejuízo milionário, Gularte disse que é preciso "olhar para frente", o que "não significa ignorar problemas que existiram".
Gularte, ex-CEO da Marfrig (BVMF:MRFG3), que é acionista majoritária da BRF, disse que a BRF tem estrutura e marcas como Sadia e Perdigão que podem "entregar resultados", mas é preciso executar um plano integrado com os vários setores da companhia.
(Por Roberto Samora)