Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições acordo envolvendo a Raízen Energia e a multinacional do agronegócio Wilmar para a formação de uma joint venture na exportação de açúcar VHP, um tipo de adoçante bastante apreciado por importadores devido ao seu alto teor de sacarose, entre outros diferenciais.
A joint venture será responsável por todas as atividades para originação do açúcar no Brasil e sua oferta ao mercado internacional, sendo encarregada da comercialização de toda produção da Raízen destinada à exportação, de acordo com documento do Cade publicado no Diário Oficial da União desta quinta-feira.
A Raízen --maior produtora individual de açúcar do Brasil, o maior produtor e exportador global da commodity-- é uma joint venture entre a Cosan e a anglo-holandesa Shell.
Ao aprovar o acordo, o Cade justificou que o volume movimentado pela Raízen e pela Wilmar em relação ao total da região centro-sul e do porto de Santos (principal porto exportador) "não permite concluir pela possibilidade de exercício de poder de mercado".
A joint venture entre a Raízen e a Wilmar pode rivalizar com outra JV do gênero, a Alvean, formada pela gigante do agronegócio Cargill e a Copersucar, a maior comercializadora brasileira de açúcar e etanol, que é associada a dezenas de empresas do setor.
O acordo, porém, foi questionado. Segundo informação que consta no processo no Cade, a trading Sucden citou que 65 por cento do produto de alta qualidade é produzido e comercializado pela Alvean e seus sócios, "o que limitaria fortemente o acesso a esse mercado", diante do nova empresa.
A Sucden disse ainda que a Raízen possui 15 por cento desse mercado e a Wilmar originou cerca de 8 por cento. "Assim, a operação aumentaria a concentração desse mercado para 90 por cento considerando apenas JV Alvean e a JV objeto da operação."
Entretanto, disse o Cade, "a manifestação da Sucden foi isolada". "Não há quaisquer outros indícios acerca da necessidade de segmentar o mercado de açúcar VHP (comum) e de açúcar VVHP (de alta qualidade)", segundo o Cade.
Segundo as empresas Raízen e Wilmar, os produtos envolvidos apresentariam elevado grau de "substitutibilidade pelo lado da demanda".
A Raízen e a Wilmar disseram ainda, segundo documento do Cade, que será um objetivo da joint venture "a realização de estudos conjuntos para identificação de oportunidades no desenvolvimento de negócios no segmento de logística, a fim de otimizar o desenvolvimento das atividades".
A joint venture será composta por duas sociedades, uma constituída na Suíça e outra no Brasil, com cada companhia tendo 50 por cento das ações, segundo documento do Cade.
Procurada, a Raízen não se manifestou imediatamente.
Além do sua importância na produção, a Raízen é a principal produtora de etanol do Brasil, atuando também na comercialização de combustíveis.
Segundo informação do site da empresa, a Raízen conta com mais de 20 unidades de produção no Brasil. Já a Wilmar atua globalmente em diversas commodities, incluindo grãos e oleaginosas, além do adoçante.
A Wilmar ainda tem oito unidades de produção de açúcar na Austrália. As operações de refino do adoçante da companhia estão situadas na Austrália, Indonésia e Nova Zelândia, segundo informação do site da companhia.