México, 2 jul (EFE).- O presidente mexicano, Felipe Calderón, entregará a seu sucessor da oposição um país tomado por uma onda de violência, provocada pelos cartéis de drogas, e uma economia com baixo ritmo de crescimento, mas com grande solidez macroeconômica.
Calderón, que transformou a luta contra o narcotráfico em sua principal bandeira e deixará o poder em 30 de novembro, chega à reta final de um mandato marcado pelas 50 mil vítimas da violência, embora esteja convencido de que deixará uma nação com bases sólidas a Enrique Peña Nieto.
Vários analistas consultados pela Agência Efe concordam que o maior desafio para o já ganhador das eleições deste domingo, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), é a segurança.
O México é um país que "não está em paz" e em muitas regiões "o crime organizado está literalmente governando ou disputando com o Estado os controles essenciais da segurança, inclusive a cobrança de impostos", disse à Efe o analista Salvador García Soto.
O balanço final do mandato de Calderón, que transformou a luta contra o narcotráfico em sua principal bandeira desde que chegou ao poder em dezembro de 2006, será negativo, concluiu Soto.
Embora tenha prometido durante a campanha ser o "presidente do emprego", Calderón iniciou uma "guerra" contra o crime organizado com a participação de milhares de militares que exacerbou os níveis de violência, disse o especialista.
Durante seu mandato, cresceram os registros de mortos encontrados decapitados e esquartejados, assim como de covas clandestinas com todo tipo de vítimas, incluindo imigrantes centro-americanos.
Quem enfrenta essa luta e "não o faz bem, vai pagar o custo político dos 50 mil ou mais mortos atribuídos a esse conflito entre facções criminosas", e delas com as forças de segurança, declarou à Efe o analista político Carlos Elizondo.
Em seu primeiro discurso após as eleições, Peña Nieto disse que seguirá a luta contra o crime organizado, mas com uma nova estratégia para reduzir a violência e proteger a vida dos mexicanos.
Na opinião de Elizondo, as violações aos direitos humanos serão "um dos grandes temas que perseguirão o presidente", que terminará seu mandato em 1º de dezembro próximo.
"Não vão faltar casos de abusos, de erros, de inocentes desabrigados pelas forças federais (que participam do combate ao crime organizado), problemas cujo responsável, no fim, é o presidente Calderón", opinou.
Várias ONGs denunciaram um aumento drástico dos abusos cometidos por policiais e soldados, que em sua maioria não são punidos. Além disso, o Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade (MPJD), que surgiu em maio de 2011 após o assassinato do filho do poeta Javier Sicília a mando de um cartel de drogas, pediu o fim do enfoque militarista da atual estratégia de segurança.
Calderón, cujo nível de aprovação era de 48% em junho, disse estar disposto a modificar sua política em aspectos onde puder melhorar, mas até o momento não realizou mudanças significativas.
Quanto à economia, o legado positivo é a solidez macroeconômica e um renascimento industrial e, o negativo, um baixo crescimento que gera exclusão, desigualdade e pobreza, afetando 52 milhões de mexicanos, analisou Elizondo.
Durante os seis anos de governo, o crescimento médio anual da economia foi de 1,9%, apesar de em 2009 o país ter enfrentado a pior queda desde 1934 (6,1% do PIB) devido à crise internacional que explodiu em 2008.
"Pode-se discutir se o crescimento foi ou não suficiente, mas é inegável que ele continua crescendo", disse à Efe o presidente do Grupo Consultores Internacionais (GCI), Julio A. Millán.
A administração das verbas públicas, a disciplina fiscal, a baixa inflação e o nível de reservas internacionais, que superam os 150 bilhões de dólares e dão um lastro à taxa de câmbio, são alguns dos aspectos positivos em matéria econômica.
Uma questão pendente é o emprego, que cresceu apenas 2,2% nos últimos seis anos (1,6 milhões de postos de trabalho) enquanto o desemprego se situa em 4,93% da população economicamente ativa.
Calderón privilegiou a estabilidade sobre o crescimento, o que afetou o emprego produtivo e se refletiu em um aumento dos trabalhadores no setor informal, que passaram de 11,4 milhões em 2006, para 13,7 milhões em 2012.
Sobre as fragilidades da economia, os analistas afirmaram que o crescimento se sustentou no mercado externo, por isso consideraram necessário fortalecer o mercado interno.
Outro calcanhar de Aquiles são os níveis de competitividade e concorrência, que apesar de subirem, ainda mostram retrocessos em temas como a regulação, que inibe investimentos, e o fraco desenvolvimento da infraestrutura.
Calcula-se que de 2007 a 2012 o investimento estrangeiro acumulado tenha alcançado 133,6 bilhões de dólares, número 5,5% inferior aos índices dos seis governos anteriores, queda causada principalmente pelo nível de competitividade e por fatores como a violência. EFE
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