Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com - Mesmo com a alta para 2,75% ao ano da taxa Selic nesta semana, o atual patamar de juros no Brasil continua muito baixo em relação aos níveis históricos, o que tem levado cada vez mais brasileiros a olharem para os próprios investimentos à procura de alternativas que entreguem melhores resultados do que as tradicionais poupança ou títulos do Tesouro Direto.
Foi esse interesse, aliado ao crescimento de pessoas físicas no mercado financeiro e a busca por diversificação das carteiras, que fez com que o número de cotistas em fundos de investimentos aumentasse com força nos últimos meses.
Para se ter uma ideia, a participação dos investidores nessa modalidade subiu de 66,8% para 68,1% nos últimos 12 meses, chegando a R$ 150,2 bilhões no país em março, apontam dados da Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. E a tendência é não parar por aí.
Foi o caso da Western Asset Management, cujo fundo Western Asset FIA BDR Nível I, que tem R$ 2,8 bilhões sob gestão em recibos de companhias estrangeiras listadas na B3 (SA:B3SA3), ganhou quase 100 mil novos investidores somente em 2020.
Para Marc Forster, head da companhia, a necessidade de diversificação da carteira, com ativos de diferentes modalidades, inclusive do exterior, e a busca por conhecimento dos novos investidores são os responsáveis pelo aumento dessa participação.
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Mas como saber se esse é o tipo certo de investimento que você procura? Confira o que dizem Forster e outros dois especialistas em fundos consultados pelo Investing.com:
O que são os fundos de investimento
Os fundos são um tipo de condomínio do mercado financeiro, mas que não necessariamente têm a ver com o setor imobiliário.
Um investidor pessoa física que tenha, por exemplo, R$ 3.000 para investir, poderia sozinho comprar algumas ações de três ou quatro empresas listadas na bolsa, títulos do Tesouro Direto e até um papel de alguma companhia do exterior.
Acontece que, para ter sucesso, esse investidor precisaria estar disposto a acompanhar com mais frequência as notícias que envolvem esses ativos, as cotações e comunicados das empresas, além da política e das decisões de macroeconomia do Brasil para ficar atento a movimentações que possam inibir ou elevar esses rendimentos.
“Quem tem uma posição mais conservadora e é mais avesso ao risco não vai querer entrar em um mercado que não conhece, e talvez nem tenha interesse em conhecer”, aponta Igor Cavaca, gestor de investimentos da Warren.
Ele exemplifica que o investidor que tem outra ocupação, seja arquiteto, professor, advogado, pode não ter tempo de ficar frequentemente acompanhando o mercado, mas ainda assim apostar em investimentos que deem maior retorno.
Também, pelo fato do investidor iniciante geralmente começar com montantes baixos em relação ao que os grandes players do mercado investem, o retorno oferecido não é tão alto quanto para quem coloca R$ 100 mil de uma vez só, por exemplo.
Assim, os fundos de investimento surgem para que várias pessoas que tenham R$ 500, R$ 1 mil, R$ 3 mil ou mais possam se juntar e ter acesso a ativos de maior porte, que prometam uma porcentagem maior dos ganhos. É como colocar o dinheiro desses vários investidores em um saco e usá-lo para comprar itens mais caros e maiores.
Usando a ideia do condomínio, é o acesso que todos os condôminos têm à piscina, academia, salão de festas e quadra e que, sozinhos, talvez não pudessem comprar ou manter.
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Cavaca, da Warren, exemplifica que alguns investidores iniciantes sabem que preferem investir em empresas com boas práticas sociais, ambientais e de governança, mas que nem sempre conseguem identificar quais seriam.
Assim, a corretora sediada em Porto Alegre viu um aumento exponencial de cotistas no Warren Green Line, um fundo criado em 2019 que traz empresas com esse tipo de preocupação dentro do Brasil. Com ele, são 15 fundos próprios, que dobraram o patrimônio investido ao longo de 2020 para os atuais R$ 950 milhões.
Quem escolhe o que entra em um fundo?
Na mesma linha do condomínio, o “síndico” dos fundos seria o gestor, um profissional credenciado pela Anbima, com conhecimento técnico de mercado e que acompanha todos os dias as variações dos ativos e toma decisões para garantir ou superar o rendimento prometido.
É ele que, dentro dos termos e condições acordados entre os cotistas, vai escolher no que e quanto investir. E sempre tendo que prestar contas periodicamente e também sujeito a ser substituído caso não entregue o acertado.
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“Na gestão de fundos, você deixa isso para um terceiro, um gestor que pode estar há trinta anos no mercado e que sabe do que funciona no Brasil, quais os momentos de dificuldade no país, todas as pegadinhas que vemos diariamente no mercado”, explica Luiz Felippo, analista da Nord.
Ele argumenta, no entanto, que ter gente especializada e com experiência facilita a vida do investidor pessoa física, mas que isso não significa que o investimento deve ser feito e depois esquecido.
“Nenhum investimento a gente compra e larga. Mesmo ações, renda fixa, fundas, o que for, é preciso ficar reavaliando se os motivos que você comprou aquilo ainda valem. Em relação aos fundos, é importante monitorar quem está por trás dele, se os gestores estão entregando o que prometeram”, aponta.
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Na semana passada, a Nord lançou um curso gratuito sobre fundos, disponível na plataforma da casa de análises, para ajudar investidores de primeira viagem a entender melhor sobre os riscos e vantagens desses investimentos.
Se por algum motivo no meio do caminho, tem que avaliar se a tese de investimentos continua valendo. Consegue investir em gestores que já estão no mercado há muito tempo.