Por Andre Romani e Gabriel Araujo
SÃO PAULO (Reuters) -Os controladores da Gol (SA:GOLL4) e da colombiana Avianca anunciaram nesta quarta-feira a formação de uma holding sob a qual os dois grupos de aviação vão compartilhar a mesma plataforma de negócios e que pode sinalizar o início de um movimento mais amplo de consolidação no setor, abalado pela pandemia, na América Latina.
O novo grupo, que tem expectativa de que o negócio seja concluído no segundo semestre deste ano, se chama Abra e reúne operações da maior companhia aérea do Brasil, Gol, e de um dos maiores grupos sul-americanos de aviação, Avianca, com operações na Colômbia, Equador e El Salvador e rotas para América do Norte, Europa e América Central.
A nova empresa terá capital fechado e sediada no País de Gales, no Reino Unido. Gol e Avianca manterão suas marcas e operações independentes, afirmaram as companhias.
O acordo foi assinado entre os principais acionistas da Avianca Holding, incluindo Kingsland International, Elliott International e South Lake One, e o veículo da família Constantino que controla a Gol. As companhias afirmaram que outros investidores financeiros vão investir até 350 milhões de dólares na Abra.
As ações da Gol subiam 3,1% às 12h45, enquanto o Ibovespa mostrava valorização de 2,1%.
O anúncio da operação acontece depois que a Avianca completou um processo de recuperação judicial em dezembro e acertou mais cedo neste ano acordo para se fundir com a companhia aérea colombiana Viva. Além disso, ocorre depois que a brasileira Azul (SA:AZUL4) confirmou em novembro ter feito uma oferta para se combinar com a Latam, atual maior empresa de aviação latino-americana. Nesta semana, porém, executivos da Azul, questionados sobre a Latam, afirmaram que a empresa está focada em seus próprios negócios.
A Latam, por sua vez, anunciou nesta quarta-feira que obteve acordo de praticamente todos os credores para o seu plano de recuperação judicial, mantendo expectativa de sair do processo no segundo semestre de 2022.
CONCORRÊNCIA
Analistas do Citi disseram que a combinação proposta implica em um potencial relevante de valorização no setor em termos de poder de precificação, bem em um momento em que os preços de passagens no Brasil disparam em meio a um forte crescimento de demanda de turismo e também início de retomada nas viagens de negócios.Os analistas, porém, alertaram que o negócio entre Gol e Avianca, além das parcerias separadas que as empresas mantêm com companhias norte-americanas, deve criar preocupações em autoridades de defesa da concorrência. A American Airlines (NASDAQ:AAL) detém participação na Gol e na chilena JetSmart e a Avianca é parceira da United Airlines (O:UAL), que por sua vez tem acordo com a Azul."Diante de eventuais acordos com uma companhia aérea norte-americana, como a que a Delta tem atualmente com a AeroMexico, uma combinação Gol-Avianca não poderia ter acordos com ambas as empresas", disseram os analistas.
"(Mas) mesmo ignorando estas questões de alianças, uma parceria entre Gol e Avianca provavelmente vai levantar preocupações concorrenciais significativas", afirmaram.
SEM OPA
Com as operações de Gol e Avianca sob um mesmo guarda-chuva, o Grupo Abra também deterá participação econômica não controladora na aérea Viva na Colômbia e no Peru e um investimento em dívida conversível em fatia minoritária na chilena Sky Airline.
"A operação não acarretará a obrigatoriedade de realização de uma oferta pública de aquisição de controle para os acionistas minoritários da Gol, uma vez que não haverá alienação ou transferência do controle acionário", disse a companhia aérea brasileira em fato relevante.
Constantino de Oliveira Junior, atual presidente do conselho de administração da Gol e fundador da companhia aérea, será o presidente-executivo da Abra. Roberto Kriete, cofundador da Avianca Holdings, comandará o conselho de administração.
Após o fechamento da operação, as partes firmarão um acordo de acionistas da Abra, sendo que os Constantino e o grupo de investidores da Avianca serão co-controladores da holding.
A Gol afirmou que a transação que envolve seu acionista controlador, o fundo de investimento MOBI FIA. O fundo vai contribuir suas ações na Gol para a nova empresa em troca por papéis ordinários da Abra.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)