SÃO PAULO (Reuters) - A CPFL Renováveis, braço de investimento em usinas de energia limpa do grupo CPFL, deverá focar o ano de 2016 em suas obras em andamento, que elevarão a capacidade instalada da empresa em quase 20 por cento até 2020, em meio a um cenário desafiador para a implementação de novos empreendimentos.
A empresa possui uma grande carteira de projetos, mas vê custos elevados e dificuldade de financiamento no atual momento do mercado, o que precisaria ser refletido nos preços teto de leilão para justificar qualquer novo investimento, afirmou à Reuters nesta quinta-feira o presidente da companhia, André Dorf.
"O foco é bastante em execução... temos um pipeline grande, de 3 gigawatts, que vão ser comercializados e implementados ao longo dos anos, mas não temos nenhuma pressa para implementar. Temos sido bastante serenos no uso de capital e disciplinados", disse.
A CPFL Renováveis fechou 2015 com prejuízo líquido de 48,7 milhões de reais, ante perda de 167,4 milhões de reais em 2014. No quatro trimestre, a companhia obteve lucro líquido de 82,6 milhões de reais, versus prejuízo líquido de 65,2 milhões de reais no mesmo período do ano anterior.
Em meio à implementação de 330 megawatts em pequenas hidrelétricas e eólicas, dos quais 255 megawatts devem ser concluídos ainda neste ano, a CPFL Renováveis deverá investir 2,1 bilhões de reais nos próximos quatro anos.
A alavancagem da companhia medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda fechou o quarto trimestre em 4,7 vezes, ante 5,5 vezes no trimestre anterior e 6,1 vezes no mesmo período de 2014.
Segundo Dorf, o complicado cenário econômico e político do país tem não só elevado os custos de financiamento, mas também reduzido a oferta de crédito, o que torna mais difícil viabilizar novas usinas.
"Faltam instrumentos de longo prazo adequados para investimento em infraestrutura. Quando a gente vai estudar um projeto novo... a gente já precifica esse patamar, então os projetos têm que pagar esse custo mais elevado, acaba sendo até mais desafiador para novos projetos, estruturar nesse ambiente", disse.
Ele afirmou, no entanto, que não há uma decisão tomada sobre entrada em leilões, até devido ao fato de o governo federal ainda não ter definido os preços teto das licitações que serão realizadas no ano.
Segundo Dorf, pode ser necessário um ajuste nos valores para atrair os investidores.
"Realismo tarifário é a gente trazer os preços para a realidade do momento do leilão... o fato de não termos vendido no último indica que para nós não foi atrativo".
Questionado sobre os planos do governo federal de realizar neste ano um leilão conjunto de usinas eólicas e linhas de transmissão, para garantir que os projetos vendidos terão conexão ao sistema, Dorf disse que é preciso analisar a proposta.
O presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse à Reuters na semana passada que o novo formato de certame poderia incentivar as empresas de energia eólica a construir as linhas para seus parques, em um momento em que o governo federal tem dificuldades para atrair investidores para o setor de transmissão.
"Precisaria avaliar em que condições se daria isso... nosso perfil busca não investir em transmissão, nosso foco é geração... precisaríamos avaliar caso a caso o investimento, qual o retorno implícito disso."
Dorf destacou que os investidores de transmissão não são os mesmos do segmento de geração, até devido às diferentes características de risco e retorno dos projetos nesses setores.
"Tem perfil diferente... não necessariamente ao reunir isso a gente otimiza os projetos, mas vamos ver, vale a tentativa... transmissão é um desafio para o setor".
(Por Luciano Costa)