Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A relação entre o volume de cargas exportadas e importadas pelo Brasil dentro de contêineres inverteu-se com a crise econômica e o câmbio e já pressiona as margens de lucro das empresas que operam rotas marítimas no país, podendo gerar aumento de tarifas cobradas de companhias brasileiras que vendem seus produtos no exterior.
A constatação, que mostra agora o Brasil exportando mais do que importando em contêineres, é de um relatório setorial divulgado nesta quinta-feira pela Maersk Line, maior empresa global de transporte marítimo de contêineres.
"Como está faltando contêineres no Brasil, estamos tendo que trazer contêineres vazios, e isso é custo maior para as empresas. A tendência é haver um aumento no frete para a exportação", projetou o diretor de Trade da Maersk Line no Brasil, João Momesso, em entrevista à Reuters.
No primeiro trimestre de 2014, entraram no Brasil, por meio de importações, 236 mil contêineres (de 40 pés), e saíram 165 mil contêineres. No último trimestre de 2015, a situação ficou praticamente inversa: o Brasil exportou 233 mil contêineres e importou 164 mil contêineres em cargas, segundo o relatório.
Segundo executivos da Maersk, o quadro anterior, com uma maior entrada do que saída de contêineres, permitia aos armadores lucrar mais com as operações de importação, oferecendo preços subsidiados para as exportações.
Contudo, a alta do dólar frente o real e a desaceleração da economia do país reduziram as compras externas do Brasil, ao mesmo tempo que estimularam os embarques.
"A exportação continua muito forte, mas o incentivo do frete de retorno deixa de ser uma realidade. Já não compensa mais", disse Momesso à Reuters.
Neste cenário de importações pressionadas, a Maersk passou a projetar uma queda de 4 por cento na movimentação de entrada e saída de contêineres nos portos do país em 2016, ante uma previsão anterior de estabilidade para este ano.
TARIFAS MAIORES
Esse desequilíbrio na entrada e saída de contêineres e o menor volume no comércio exterior deverão se converter na necessidade de ajustes nas operações e nas tabelas de preços das empresas donas de navios, projetou a Maersk.
"Os fretes hoje não são sustentáveis. A indústria terá que tomar decisões de racionalização", disse o diretor de vendas da Maersk na costa leste da América do Sul, Nestor Amador.
A própria Maersk, uma das principais operadoras de contêineres no Brasil, anunciou um enxugamento em sua estrutura na região há algumas semanas, para fazer frente à nova realidade do setor de transporte marítimo global, que enfrenta uma queda generalizada nos valores de frete.
"A fórmula dos armadores vai ter que ser ajustada no médio e longo prazo... Certamente o contêiner frigorificado precisará ser reajustado. Estamos tendo conversas com grandes exportadores", relevou Momesso. Contudo, nenhuma renegociação de preços foi concluída até o momento, afirmou.
Apesar do cenário complicado, a empresa continua apostando nas operações no Brasil, em especial nas proteínas congeladas do Brasil, o maior exportador global de carnes de frango e bovina.
"Acreditamos que o Brasil precisa exportar mais. É a saída para o país na crise atual", disse o diretor-superintendente da Maersk Line no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, Antonio Dominguez.
O Brasil deverá ser o destino da maior parte dos 30 mil novos contêineres frigorificados que a Maersk colocará em circulação ao longo de 2016, revelaram os executivos.