Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos de juros futuros mais curtos tinham forte alta nesta terça-feira, praticamente eliminando as chances indicadas pela curva de corte da Selic em agosto, após o Banco Central aumentar sua projeção de inflação para este ano e informar que buscará mantê-la dentro dos limites da meta do governo em 2016.
Com isso, cresceram ainda mais as chances de que o afrouxamento monetário só comece em outubro, com a curva mostrando a Selic terminando o ano a 13,25 por cento frente aos atuais 14,25 por cento. Já os DIs mais longos recuavam, refletindo a recuperação dos mercados globais após dois dias de mau humor provocado pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE).
"É uma comunicação mais dura, deixa claro que o BC só vai discutir corte de juros concretamente quando tiver certeza de que a inflação está na direção correta", disse o operador da corretora Renascença Thiago Castellan Castro.
O BC informou no Relatório de Inflação que elevou a projeção de alta do IPCA neste ano a 6,9 por cento, mas que buscará deixá-la dentro da meta oficial --de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Sobre 2017, o BC reduziu suas contas sobre a inflação, a 4,7 por cento, e que pretende trazê-la para o centro do objetivo. Reiterou ainda que não vê espaço para cortes de juros no curto prazo.
O DI para julho de 2017 era negociado a 13,15 por cento nesta manhã, após fechar a 12,98 por cento na sessão anterior. Já o contrato para janeiro de 2023 perdia 0,12 ponto percentual, a 12,29 por cento.
Até a véspera, os DIs vinham mostrando chances levemente majoritárias de a Selic começar a ser reduzida em outubro, com chances menores de que isso acontecesse em agosto. Nesta sessão, a curva passou a indicar dois cortes de 0,50 ponto percentual na taxa a partir de outubro, praticamente acabando com as chances de redução na reunião anterior.
Investidores aguardavam agora a primeira entrevista coletiva de Ilan Goldfajn como presidente do BC, às 11:00 (horário de Brasília) em busca de mais pistas sobre a estratégia da autoridade monetária.
"Ao que parece, quem estava apostando que o Ilan seria mais tolerante com a inflação vai precisar rever essa avaliação", disse o sócio-gestor da Absolute Investimentos Renato Botto.
A manutenção da Selic em patamares elevados por mais tempo poderia abrir espaço para mais cortes no longo prazo, perspectiva que trazia algum alívio aos DIs longos.
Também contribuía para esse movimento a busca por barganhas nos mercados globais, com investidores voltando a comprar ativos de maior risco após a onda de pessimismo que marcou os dois últimos pregões.
A decisão do Reino Unido de deixar a UE provocou preocupações com possíveis impactos sobre a economia global e instabilidade política na Europa, deprimindo o apetite por papéis de países como o Brasil.
(Por Bruno Federowski)