Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu mais de 1 por cento nesta quinta-feira, acumulando 2,71 por cento de valorização no mês e encostando em 2,27 reais, impulsionado por incertezas nos cenários externo e interno que devem deixar o mercado de câmbio volátil nas próximas semanas.
A divisa dos EUA avançou 1,21 por cento nesta sessão, a 2,2699 reais na venda, maior nível de fechamento desde 4 de junho, quando ficou em 2,2836 reais. A alta acumulada no mês foi a mais forte desde novembro passado (+4,61 por cento).
Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 2 bilhões de dólares, acima da média diária do mês, de 1,2 bilhão de dólares.
"O dólar tem espaço para mais volatilidade, levando em conta as incertezas no cenário interno e internacional", afirmou o diretor de gestão de recursos da corretora Ativa, Arnaldo Curvello, lembrando que o mercado aguarda o relatório de emprego dos EUA, que será divulgada no dia seguinte.
"O BC pode atuar um pouco mais para suavizar esses movimentos, mas se houver uma mudança significativa de fundamentos e o câmbio tiver que mudar de patamar, não adianta lutar contra isso", acrescentou.
Nesta sessão, a alta do dólar foi impulsionada pelos sinais de fortalecimento das condições do mercado de trabalho dos EUA, que poderiam abrir caminho para alta nos juros do país mais cedo do que se espera, e notícias de que a Argentina não foi capaz de chegar a acordo com credores e entrou em default.
"A Argentina não tem o mesmo poder de contágio que tinha nos anos 90, mas a situação de default técnico não ajuda em nada a economia por lá e muito menos por aqui", escreveram analistas da corretora Lerosa Investimentos em relatório.
As cotações do dólar também se ajustaram após o BC brasileiro não anunciar para esta sessão leilão de rolagem de swaps cambiais --equivalentes a venda futura de dólares-- que vencem no dia seguinte.
Com isso, a autoridade monetária rolou apenas cerca de 70 por cento do lote total que vence em 1º de agosto, contra cerca de 85 por cento no mês passado. Nos meses anteriores, havia rolado entre 50 e 75 por cento dos lotes. O próximo vence em 1º de setembro e equivale a 10,07 bilhões de dólares.
Operadores especulam sobre como o BC reagirá a esse movimento de alta do dólar. A maioria acredita que deve esperar para ver onde a divisa se assenta mas alguns, contudo, acreditam que patamares mais altos da moeda podem ter vindo para ficar.
"Pelo menos por enquanto, com essas tensões no cenário externo, parece que o dólar vai se assentar na casa dos 2,26 reais", disse o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho.
O dólar vinha oscilando dentro da banda informal de 2,20 a 2,25 reais desde o início de abril, com alguns breves momentos de exceção. Especialistas acreditam que esse intervalo agradaria ao BC, por não ser inflacionário e não prejudicar a indústria.
"Mesmo com o dólar em 2,25 reais, ele (BC) acabou não fazendo leilão de rolagem. Isso faz o mercado especular se agora ele considera esse patamar confortável", disse o operador de um importante banco nacional.
Nesta sessão, o BC deu continuidade às atuações diárias no mercado de câmbio, vendendo a oferta total de até 4 mil swaps. Foram 3 mil contratos para 2 de fevereiro e 1 mil para 1º de junho de 2015, com volume correspondente a 198,5 milhões de dólares.
Em seguida, vendeu ofertas nos dois leilões de até 2,25 bilhões de dólares com compromisso de recompra em 5 de janeiro e 3 de fevereiro de 2015. O montante ofertado correspondeu exatamente ao que ainda estava para ser recomprado, segundo dados do BC.
A forte alta da moeda norte-americana foi turbinada na primeira parte da sessão pela briga antes do fechamento mensal da Ptax, taxa calculada pelo BC que serve de referência para diversos contratos cambiais. Pouco antes da divulgação da taxa, o dólar chegou a subir quase 1,5 por cento na máxima do dia, a 2,2755 reais.