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Por Gabriel Araujo
SÃO PAULO (Reuters) - A Embraer (BVMF:EMBR3) chega à feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra, no mês que vem aproveitando os ventos favoráveis que elevaram suas ações a um nível mais alto da história da empresa, à medida que a demanda recente mostra que a fabricante brasileira de aviões está pronta para preencher uma lacuna para as companhias aéreas que enfrentam atrasos na entrega de jatos.
A feira inglesa acontece nos dias 22 e 26 de julho, quando os fabricantes de aviões costumam anunciar o recebimento de grandes encomendas. No ano passado, os investidores ficaram decepcionados com os fracos números de pedidos anunciados pela Embraer durante a Paris Airshow.
As ações da Embraer acumulam alta de quase 70% este ano e atingiram um recorde na semana passada, de longe o maior ganho no índice Ibovespa. Vários analistas ainda veem espaço para ganhos do papel.
Este mês, a Embraer anunciou encomenda de 20 jatos E2 feita pela companhia Mexicana de Aviación, abrindo um novo mercado para seus jatos comerciais de próxima geração e aumentando sua carteira de pedidos firmes em relação ao pico de sete anos de 21,1 bilhões de dólares atingido em março.
“Continuamos vendo um ambiente saudável para novos pedidos”, disseram analistas da XP Investimentos (BVMF:XPBR31) após o anúncio.
A Embraer revelou no ano passado apenas 13 encomendas de jatos comerciais na Paris Airshow, ficando aquém das estimativas do mercado e dos anos anteriores. Mas com as companhias aéreas enfrentando cada vez mais dificuldades para conseguirem novos aviões, isso representa oportunidades para a fabricante brasileira.
A Embraer tem slots de produção disponíveis a partir de 2026, o que significa que pode entregar novos jatos antes dos rivais maiores Boeing (NYSE:BA) e Airbus (EPA:AIR), com esta última atualmente com capacidade esgotada de produção de aviões de corredor único até o final da década.
Observadores do mercado dizem que os slots disponíveis da Embraer podem ajudá-la a atender aos planos de crescimento de curto prazo de companhias aéreas como a Mexicana. O nicho tradicional da fabricante de aviões brasileira fica logo abaixo do mercado mais vendido aeronaves com capacidade para mais de 150 passageiros da Boeing e da Airbus.
A encomenda da Mexicana, disse o JPMorgan (NYSE:JPM), “corrobora nossa tese de que a Embraer deve continuar a se beneficiar da falta de slots de seus pares para entregar aeronaves no médio prazo”.
O acordo da Mexicana com a Embraer ocorreu após negociações com a Boeing, que analistas indicaram que podem não ter progredido devido aos prazos de entrega estendidos da norte-americana.
A situação pode dar um impulso extra à família E2 na América do Norte. Os jatos E1 da Embraer, menores de primeira geração, são a espinha dorsal da aviação regional nos EUA, e a Embraer espera entrar nesse mercado-chave com o modelo E195-E2, de segunda geração.
Os E2s foram tiveram vendas lentas inicialmente devido à pandemia, à escassez de motores da Pratt & Whitney e a uma incompatibilidade entre o peso da aeronave e as restrições de "cláusula de escopo" nos acordos sindicais de pilotos dos EUA.
“Acreditamos que a entrada bem-sucedida dos E2 no México ajudará posteriormente a impulsionar a estreia da aeronave no mercado regional dos EUA, uma vez que os regulamentos da cláusula de escopo sejam atualizados”, disseram analistas do BTG Pactual (BVMF:BPAC11).
O E2 voa no Canadá com a Porter Airlines, incluindo algumas rotas para os EUA.
“Todas as quatro divisões da Embraer estão vivenciando cenários industriais favoráveis”, disse o BTG, citando também campanhas bem-sucedidas de vendas do cargueiro C-390 Millennium para países como Coreia do Sul e Áustria. "Somos compradores (de ações da Embraer)."