Por Tatiana Bautzer e Carolina Mandl
SÃO PAULO (Reuters) - Empresas brasileiras levantaram este ano o maior volume de recursos da década, com o impulso de taxas de juros historicamente baixas, progresso em reformas macroeconômicas e sinais de recuperação da economia, enquanto o valor de fusões e aquisições caiu.
Empresas desde a Petrobras (SA:PETR4) até a locadora de veículos Localiza (SA:RENT3) levantaram 17,1 bilhões de dólares em 34 transações nos primeiros nove meses de 2019, quase o triplo do volume no mesmo período do ano passado. O total movimentado nos primeiros nove meses do ano é maior que os totais anuais de todos os anos desde 2010.
Excluindo a mega oferta de ações da Petrobras naquele ano, o volume captado é o maior desde 2007.
O volume de transações de fusões e aquisições caiu 20%, para 31 bilhões de dólares, em parte devido à competição com mercados de capitais líquidos, que deram alternativas às empresas e seus acionistas em casos de vendas de ativos. A fraca recuperação econômica também afetou os negócios.
Mas o crescimento das captações com venda de ações poderá ter um efeito positivo sobre futuras aquisições.
"Quando as empresas conseguem captar recursos baratos com dívida ou emitem ações, é natural um posterior aumento das fusões e aquisições como consequência de empresas capitalizadas", disse o presidente do Morgan Stanley (NYSE:MS) no Brasil, Alessandro Zema.
Executivos de bancos de investimentos esperam que o ano termine com cerca de 50 ofertas, e que cresça o interesse pelas aberturas de capital conhecidas como IPOs. Neste ano, só quatro empresas fizeram IPOs: a controladora da varejista Centauro, Grupo SBF, a empresa de energia elétrica Neoenergia, a empresa de educação Afya e a joalheria Vivara (SA:VIVA3).
"O ano de 2019 será o de ofertas subsequentes de ações, mas já estou vendo empresas superando a inércia dos IPOs e planejando listagens", disse Fabio Nazari, chefe de renda variável do Banco BTG Pactual (SA:BPAC11), que assessorou 21 operações este ano.
Mesmo setores que não tiveram ofertas nos últimos anos, como construtoras e bancos, estão de volta à fila de IPOs, disse Hans Lin, chefe de banco de investimento do Bank of America no Brasil.
Em fusões e aquisições, a maior parte do volume foi relacionado a negócios de infraestrutura e petróleo e gás, principalmente pelo programa de desinvestimento da Petrobras. O leilão de áreas da cessão onerosa deve ajudar a impulsionar investimentos no setor, segundo Eduardo Miras, que chefia a área de banco de investimento do Citigroup.
Os dois maiores negócios do ano, tanto em ações quanto em fusões e aquisições, foram feitos pela Petrobras: a empresa arrecadou 2,5 bilhões de dólares com a privatização via oferta de ações da Petrobras Distribuidora (SA:BRDT3) e 8,7 bilhões de dólares vendendo a empresa de gasodutos TAG para a francesa Engie (SA:EGIE3).
"As privatizações e vendas de ativos por parte do governo brasileiro devem continuar representando grande parte dos negócios, tanto em fusões e aquisições quanto em ofertas de ações", disse Roderick Greenlees, chefe global da área de banco de investimento do Itaú BBA. O ministro da Economia, Paulo Guedes, vem tocando uma agenda de privatizações ambiciosa e já superou a meta de vendas neste ano, com vendas de 96 bilhões de reais (23,5 bilhões de dólares).
Com a taxa Selic na mínima histórica de 5,5% ao ano, investidores locais estão migrando da renda fixa para investimentos mais arriscados. A entrada líquida de recursos para fundos multimercado e de ações neste ano chegou a 21,8 bilhões de dólares em agosto, e já superou o total do ano passado.
Banqueiros como Ricardo Lacerda, sócio do banco de investimentos BR Parners, também esperam uma aceleração dos negócios envolvendo empresas de tecnologia até o ano que vem, com o investidor japonês Softbank Group Corp alocando capital de seu fundo de venture capital para a América Latina de 5 bilhões de dólares. "Acredito que algumas empresas capitalizadas podem comprar companhias da economia real", diz Lacerda.