Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A elétrica Eneva (SA:ENEV3) segue interessada em uma fusão com a rival AES Tietê, mesmo após ter tido rejeitada uma proposta inicial, e o conselho de administração da empresa deverá discutir nos próximos dias a possibilidade de uma nova oferta, disse à Reuters nesta terça-feira uma fonte próxima às discussões.
A Eneva propôs em 1° de maio pagar 6,6 bilhões de reais aos acionistas da AES Tietê pela combinação dos negócios das empresas, sendo 2,75 milhões de reais em dinheiro e o restante em ações.
Mas o conselho de administração da AES Tietê rejeitou a transação, ao alegar que a oferta subavaliou a empresa e que o negócio não se encaixaria em sua estratégia de focar em renováveis e em descarbonização.
Além disso, a norte-americana AES divulgou carta em que disse entender que a fusão não poderia ir adiante sem seu aval, como controladora da empresa, defendendo que acionistas sem direito a voto não poderiam decidir sobre o destino da companhia em eventual assembleia para deliberar sobre a proposta da Eneva.
A Eneva disse então que não seguiria com negociações devido ao "provável embate acerca dos direitos dos acionistas", mas uma manifestação da bolsa paulista B3 sobre a polêmica deverá garantir base jurídica para levar as conversas adiantes, segundo a fonte.
A B3 disse em ofício na segunda-feira que todos acionistas de empresas listadas no Nível 2 de governança da bolsa, como a AES Tietê, podem votar "de maneira equitativa" em assembleias sobre propostas de incorporação, fusão ou cisão.
"Agora (com o posicionamento da B3) uma briga judicial se torna menos provável, então o interesse se acentua. Há interesse (da Eneva) em colocar uma oferta nova", disse a fonte, sob a condição de anonimato devido à sensibilidade do tema.
Após o posicionamento da B3, a AES voltou a se manifestar, acusando a bolsa de "inteferir" nas negociações e pedindo prazo de 30 dias para apresentar seus argumentos em relação à oferta hostil da Eneva.
Uma resposta da B3 confirmando seu entendimento sobre os direitos a voto e uma eventual manifestação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre o tema devem garantir as bases necessárias para que a Eneva discuta com seu conselho uma nova proposta, ainda segundo a fonte.
"Se serão os mesmos termos, se paga mais, se envolve mais ações, mais caixa, para isso deve haver resposta nos próximos dias", afirmou.
A AES controla a AES Tietê com 61,6% das ações ordinárias, mas possui apenas 24,35% do capital social da companhia, o que dá importância aos votos de acionistas minoritários.
O braço de participações do banco estatal BNDES, BNDESPar, deve ter papel-chave na definição do negócio, uma vez que detém 28,4% da empresa desde a renegociação de dívidas da AES nos anos 2000. O banco tem 37,5% das ações preferenciais e 14,4% das ordinárias.
Já a Eneva tem como principais sócios o banco BTG Pactual (SA:BPAC11) e a Cambuhy Investimentos, do banqueiro Pedro Moreira Salles, com 22,95% cada.
Nos termos da proposta da Eneva, caso aprovada a fusão com a AES Tietê, a empresa resultante da combinação de ativos teria como principais acionistas Cambuhy e BTG, com 17,8% cada, enquanto a AES teria 5,5%. O BNDESPar teria 6,4%.
Procurada, a Eneva não comentou o assunto.