Investing.com – Apesar da saída de capital estrangeiro da bolsa brasileira neste ano, as perspectivas podem se inverter nos próximos meses com uma tendência de entrada natural de capital estrangeiro aos mercados emergentes em momentos de cortes de juros nos Estados Unidos, o que abriria oportunidades para o Brasil, que se destacaria frente aos pares, envolvidos em conflitos.
De acordo com dados da B3 (BVMF:B3SA3), até o dia 23 de fevereiro, o saldo líquido dos investimentos estrangeiros na bolsa de valores brasileira é negativo em R$ 18,2 bilhões. Com essa movimentação, o montante reverte cerca de um terço de toda a entrada líquida registrada no ano passado.
Os ajustes nas projeções sobre o início dos cortes nas taxas de juros de países desenvolvidos levaram investidores a procurar mercados de maior segurança. No entanto, para André Colares, CEO da Smart House Investments, com o início da flexibilização monetária nos EUA e Europa, grandes fundos devem começar a olhar com mais atenção para o mercado brasileiro devido ao seu valuation descontado.
Confira abaixo trechos da conversa:
Investing.com – Quais os principais fatores que podem impulsionar a bolsa nesse ano? Teriam um alvo estimado para o Ibovespa?
André Colares – Quando analisamos o preço sobre o lucro ou outras métricas financeiras, a bolsa ainda está barata na média histórica. É claro que pode continuar barata, depende de alguns fatores que podem acontecer. Um dos fatores que são intrinsecamente ligados ao Brasil é a queda de juros projetada para os próximos meses. Diminuindo, melhora o cálculo para definir o valuation de ação, trazendo a valor presente.
Outro fator estrutural brasileiro é a situação fiscal. Caso nosso governo sinalize nos próximos meses ou nesse ano que terá responsabilidade fiscal, diminuindo o déficit primário, a tendência é de apreciação da bolsa. Um fiscal mais descontrolado quer dizer inflação futura e juros maiores. Como os investidores, muitas vezes, tomam decisões ao analisar o fundamento de agora pra frente, esse fator deve ser levado em conta.
No cenário externo, quando há uma perspectiva de risco, os grandes fundos compram mais as ações americanas, que são em tese mais seguras. Guerras nos últimos anos e instabilidades de preços de commodities fazem com que o capital busque mais segurança, para mercados desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos. O recurso sai um pouco dos países emergentes, que possuem mais potencial de ganho, mas também maior risco associado. Então, se o externo estiver mais controlado, com menos risco, isso corrobora com o aumento da bolsa.
Se houver algum desalinhamento geopolítico, escalada de tensões, se os juros nos mercados americanos e europeus não tenderem a uma queda, podemos ter maior pressão local na bolsa. Mas, considerando essa conjuntura, avalio que temos uma leve tendência de apreciação da bolsa porque, olhando os fundamentos históricos, a bolsa ainda está bem barata.
Acho que é difícil cravar um alvo quando se tem tantos fatores que podem se modificar. Tivemos nos últimos anos antes da pandemia questões da bolsa mais ligadas ao mercado interno. Com a pandemia e pós-pandemia, houve muita oscilação de acordo com o mercado externo, e não houve muito o que fazer. O investimento em bolsa é importante, mas a gente tem que ser bem cauteloso para ser uma parte só do portfólio, pois existem riscos.
Inv.com – Como estão avaliando nesse começo o fluxo dos investidores internacionais, acha que essa procura pode aumentar ao longo do ano? Por quais motivos?
Colares – Eu acho que o Brasil ele está, de certa maneira, ganhando de W.O. porque os grandes fundos tendem a sempre investir uma parte pequena do capital em países emergentes. Nos países emergentes, temos a Rússia, bloqueada para investimentos devido à guerra.
A China teve uma escalada muito grande de tensão nos últimos tempos com os Estados Unidos e com outros países. A China também está com alguns problemas estruturais que apareceram no setor imobiliário, um esgotamento do modelo econômico chinês e, assim, o capital também está saindo de lá. Como tem a Rússia está em uma situação muito complicada e a China também, avalio que o Brasil é o destino natural de uma parte importante desses recursos, então o país tende a ganhar com isso.
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Esse deve ser um ano em que o que o investidor volta a ter mais aptidão para o risco Brasil. Apesar de alguns problemas fiscais e burocráticos, o Brasil ainda é relativamente seguro juridicamente, temos uma estabilidade geopolítica, temos dimensões continentais, tem uma população ainda apta para o consumo. Como há outros emergentes com problemas mais graves de ordem geral e política, espero que venha um capital importante esse ano para o Brasil, mesmo que o país muitas vezes não faça seu dever de casa tão bem-feito em um ponto de vista fiscal, por exemplo.
Inv.com – Nesse cenário, quais setores que estão considerando mais atrativos e quais o investidor deveria ficar de fora?
Colares – Para apreciação, os setores mais atrativos hoje são aqueles mais sensíveis a juros, que estão extremamente esmagados pela curva de juros alta, de capital intensivo, como construtoras, varejistas, elas estão bem amassadas na bolsa, então há uma tendência de apreciação com a queda nos juros.
Porém, é preciso ser muito criterioso na alocação porque muitas estão com dívidas muito altas. Então tem um alto potencial de ganho, mas também há um risco associado, é preciso dosar bem na hora de investir.
Não acredito que existe um setor para ficar de fora. Além da questão setorial, é preciso analisar o balanço e as estratégias de empresa por empresa. Algumas devemos ficar de fora, mas não está relacionado ao setor, mas situações intrínsecas delas. Por exemplo, existem muitas empresas que fizeram IPO na última leva do período de pandemia, que eram empresas ainda muito pequenas, ainda sem geração de caixa, sem perspectiva clara de geração de caixa, eu acho que essas são para ficar de fora.
Inv.com – Poderia mencionar alguma?
Colares – As empresas de "fake tech" que abriram capital na bolsa. Eram, na tese, para ser de tecnologia, mas não são. Acho que são empresas que podemos ficar de fora.
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