Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Credit Suisse prevê manutenção do fluxo de capital externo para a bolsa brasileira por alguns meses, o que dificulta recomendar a venda de ações da Bovespa mesmo diante do cenário desafiador para as empresas.
"Apesar da nossa opinião de que os fundamentos justificam um preço menor para as ações do que está atualmente, o mercado pode continuar nessa tendência", disse o estrategista de renda variável do Credit Suisse para América Latina, Andrew T. Campbell, em entrevista à Reuters nesta terça-feira.
Em 2015, o fluxo de capital externo na Bovespa estava positivo em 13,435 bilhões de reais até 10 de abril, dado mais recente disponível. Apenas neste mês, a entrada líquida totalizava 3,569 bilhões de reais, conforme dados da BM&FBovespa.
No mercado futuro, investidores estrangeiros estavam comprados em 88.424 mil contratos de Ibovespa até 13 de abril. Ainda é uma posição menor do que os 105.227 contratos no fim de 2014, mas supera os 79.147 contratos no encerramento de março.
A entrada de estrangeiros tem sido amparada principalmente na perspectiva de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, só comece a elevar o juro em setembro, em um movimento que reduzirá a atratividade de ativos de emergentes de uma forma geral.
Em março, o Fed removeu de seu comunicado de política monetária a referência a ser "paciente" com relação ao juro, mas reduziu projeções de crescimento e inflação, sinalizando que não tem pressa de aumentar a taxa básica, que está próxima de zero há anos.
Muitos economistas revisaram suas previsões sobre quando o Fed começará a levar o juro para níveis mais normais, incluindo a equipe de economia do Credit Suisse, com o prognóstico passando para setembro ante junho, com dois em vez de três aumentos de 0,25 ponto percentual este ano.
O principal índice da bolsa paulista acumula em 2015 alta de cerca de 8 por cento, sendo que apenas em abril o Ibovespa contabiliza um ganho de quase 6 por cento.
Para o estrategista do Credit Suisse, porém, segue inalterado o pano de fundo com retornos menores para as empresas brasileiras, dificuldade de criar valor, atividade econômica local fraca, inflação elevada e juros altos.
É esse ambiente que deixa Campbell sem convicção de recomendar a compra da bolsa brasileira como um todo a investidores que miram fundamento e médio e longo prazos.
"Esse cenário desfavorável permanece... Mas para vender (o investidor) vai contra todo esse fluxo (de capital externo)", declarou. "Podemos ter um período de vários meses em que a bolsa continuará recebendo fluxo."
Na semana passada, o Credit Suisse reiterou a classificação "underweight" (abaixo da média) para o Brasil em sua estratégia de ações na América Latina, destacando um ambiente desafiador para a rentabilidade das empresas.
O estrategista disse que encontrar setores atraentes na bolsa brasileira ficou mais complicado, em meio ao ambiente mais difícil da economia doméstica, e que a alternativa tem sido a escolha seletiva de ações, conhecida como "stock picking".
Campbell reconhece o esforço que está sendo feito pelo governo federal para equilibrar as contas públicas, com vistas a reduzir o custo de capital para toda a economia no médio e longo prazos.
Ele ponderou que, em um ambiente macroeconômico com uma economia que está em recessão, isso também cria mais dificuldade para as empresas atingirem seus retornos e aumentarem suas margens financeiras.