A necessidade de uma nova reserva no valor de R$ 1,2 bilhão no balanço financeiro da varejista Via (SA:VIIA3), dona da Casas Bahia, para possíveis perdas relacionadas a processos trabalhistas, revirou a confiança do mercado em relação à companhia. Como resultado, as ações da empresa chegaram a despencar 18% na manhã desta quinta, 11. No fechamento do pregão, os principais papéis da Via fecharam em baixa de 12,5%, a R$ 6,17.
O episódio foi visto como uma espécie de "déjà vu": no ano passado, a companhia informou ao mercado sobre evidências de fraudes contábeis, descobertas por denúncias anônimas feitas no fim de 2019, no valor de R$ 1,2 bilhão - e garantiu que, com isso, a necessidade de reservas para problemas passados estava solucionada.
Mas não foi o que ocorreu. Com as novas provisões, o total de reservas para problemas na Justiça mais do que dobrou: R$ 2,5 bilhões. Com o aumento das provisões, a Via reportou um prejuízo líquido de R$ 638 milhões no terceiro trimestre.
CENÁRIO DIFÍCIL
Um gestor de mercado, que preferiu não se identificar, aponta que o novo anúncio afeta a confiança na empresa, ainda mais por conta do aumento significativo. Fora isso, a fonte acredita que a economia brasileira, com alta inflação e a taxa de juros caminhando para os dois dígitos, não deixará fácil o ambiente de negócios para a varejista, que nos últimos tempos vinha mostrando recuperação de vendas e tirando o atraso em relação a determinados concorrentes, como o Magazine Luiza (SA:MGLU3).
O banco Credit Suisse (SIX:CSGN) apontou que a empresa possui um "legado pesado e imprevisível" e rebaixou suas expectativas em relação a ação da empresa, mesmo reconhecendo que a atual gestão tem feito um bom trabalho na operação.
O Bank of America também apontou o problema com a empresa. "Um aumento nas provisões para reclamações trabalhistas é problemático. Embora a Via tenha implementado mudanças em sistemas e controles, ela pode enfrentar outros impactos, particularmente relacionados a processos mais antigos", segundo o documento do banco.
CONTENÇÃO DE DANOS
A companhia sabia do ruído que o novo provisionamento traria. Junto ao seu demonstrativo financeiro, divulgou, pela primeira vez, um vídeo para explicar o efeito do aumento de suas provisões para processos trabalhistas. A ideia, apurou o Estadão, era encarar o assunto de frente, com transparência, para reduzir danos.
No vídeo, a empresa reiterou que o aumento de 32% nos valores dessas ações, em relação ao inicialmente previsto, se relaciona a uma prática antiga da companhia de levar os casos até os tribunais superiores, o que gera correção mais alta dos valores.
Além disso, a companhia defende que "grande parte dos valores provisionados é de responsabilidade de antigos sócios". As reclamações trabalhistas da Via subiram 82% no primeiro semestre de 2021, ante o mesmo período do ano passado. A gestão afirma que as ações se referem a demissões de cerca de cinco anos atrás.
Desde 2011, para melhorar sua rentabilidade, a companhia reduziu em 39% o seu quadro de funcionários, o que impulsionou o número de processos. Agora, a gestão afirma que a rotatividade de funcionários voltou ao normal.
"Essa companhia carrega legados positivos e negativos. Os positivos são maiores e têm condições de pagar os negativos", disse o presidente da companhia, Roberto Fulcherberguer, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele diz que "ninguém está feliz" com o passivo, mas que se trata de algo que a gestão tem de "lidar e resolver".
Para mitigar os efeitos, a companhia afirma que deve recuperar valores de antigos sócios, responsáveis pelos processos, bem como usar seus cerca de R$ 9 bilhões em créditos fiscais para amortecer os impactos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.