Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Investidores estrangeiros tendem a continuar ausentes da bolsa brasileira até que o país apresente uma recuperação econômica mais sustentada, o que passa necessariamente pela aprovação da reforma da Previdência, afirmou o executivo-chefe de investimentos da AZ Quest, Alexandre Silvério.
"Os estrangeiros continuam aguardando uma visibilidade maior", afirmou o executivo, também responsável pela estratégia de renda variável da gestora. "Ele olha para o Brasil e vê que o país ainda não começou a decolar, principalmente do ponto de vista macro", acrescentou.
Números da B3 referendam a percepção de Silvério, com o saldo de negociações no segmento Bovespa por estrangeiros negativo em 4,3 bilhões de reais no acumulado do ano até 1º de julho.
Na visão de Silvério, as companhias estão saudáveis, com baixo endividamento, com alavancagem operacional e gerando resultado, mas o Produto Interno Bruto (PIB) segue na trajetória medíocre, o que mantém o estrangeiro ressabiado.
Na mais recente pesquisa semanal Focus do Banco Central, divulgada no começo desta semana, a perspectiva de expansão do PIB neste ano foi reduzida pela 18ª vez, em 0,02 ponto percentual, para 0,85%, enquanto permaneceu em 2,20% para 2020.
Nesse contexto, ele ressalta que a aprovação da reforma da Previdência é fundamental para que o país possa trabalhar uma agenda econômica mais ampla, que inclui uma reforma tributária e uma pauta de privatizações, que pode trazer investimentos e, principalmente, a confiança.
"A Previdência não vai fazer um efeito imediato, mas ela contrói um cenário que afasta um grande problema, que é um problema fiscal", afirmou.
"Tratando da questão fiscal, se começa a abordar outras questões fundamentais para fazer o Brasil ser mais competitivo... Esse ambiente com a aprovação da reforma da Previdência começa a atrair investimento estrangeiro, não só para bolsa, mas investimento produtivo."
A comissão especial da reforma da Previdência da Câmara dos Deputados começou nesta quinta-feira a votação do parecer apresentado pelo relator Samuel Moreira (PSDB-SP).
Silvério não quis fazer uma estimativa para o Ibovespa, mas avalia que há espaço de alta de mais 30% a 50% no horizonte de 12 meses, considerando seu cenário que prevê lucro crescendo 20% na média nos próximos três meses, taxa de desconto muito baixa e múltiplo maior ao longo do tempo.
Para ele, os setores e as companhias que mais devem se beneficiar se o cenário de aprovação da reforma da Previdência e de retomada econômica se mostrar acertado são aqueles mais sensíveis à virada de ciclo econômico, tanto pela ponta de aumento de lucros e receitas quando pelo juro baixo.
Sem citar nomes específicos, o gestor comentou que fazem parte desse grupo empresas de varejo, consumo, um pouco de serviços financeiros e até construção civil, além de algumas companhias do setor elétrico.