Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou a sexta-feira com um declínio discreto, mas acumulou um desempenho positivo na semana, beneficiado por perspectivas favoráveis para a recuperação da economia norte-americana, mas também pela ausência de novidades negativas relevantes no Brasil.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 e o Dow Jones renovaram recordes nos últimos pregões após sinais melhores sobre a atividade e de que o Federal Reserve não está nem perto de reduzir seu apoio àquela economia. O país também acelerou o ritmo de vacinação contra a Covid-19.
Na visão do sócio da Manchester Investimentos Eduardo Cubas Pereira, é esse cenário que está por trás da performance do Ibovespa nessa semana, embora ele também cite perspectivas de um aumento no ritmo de vacinação contra o coronavírus no Brasil como mais um componente.
"Há potencial de (a vacinação) ser mais rápida, temos visto comprometimento maior de órgãos públicos, de governo de modo geral para acelerar o ritmo", observou.
Pereira também citou que a grave situação da pandemia de Covid-19 no país, bem como o impasse relacionado ao Orçamento 2021 são fatores que não são novos e não mostraram nos últimos dias novidades relevantes, apenas desdobramentos, o que abriu espaço para o efeito benigno do exterior.
"Mas o Brasil vive uma situação fiscal extremamente frágil, e se as reformas eventualmente não andarem, o país pode sim passar por dificuldades mais sérias e realizações de lucros mais intensas podem ocorrer na bolsa", ponderou.
A queda no volume financeiro negociado diariamente na bolsa em abril referenda os receios com o cenário doméstico, com a média neste mês em 27,4 bilhões de reais, contra 36,9 bilhões de reais em março, 38,6 bilhões de reais em fevereiro e 36,3 bilhões de reais em janeiro.
Estrangeiros também continuam mostrando saída líquida do mercado acionário secundário brasileiro, com o saldo em abril negativo em 47,7 milhões de reais até o dia 7. Em todo o mês anterior, o déficit foi de 4,6 bilhões de reais. Em fevereiro, as saídas superaram as entradas em 6,8 bilhões.
Ainda assim, o mercado de ofertas de ações - IPOs e follow-ons - continuou aquecido, com o calendário do mês incluindo a precificação de operações de empresas como Hospital Care, Caixa Seguridade, modalmais, Infracommerce, Blau Farmacêutica, Rio Alto Energia.
Nesta sexta-feira, o Ibovespa caiu 0,54%, a 117.669,90 pontos, mas acumulou alta de 2% na semana, assegurando desempenho positivo de 0,89% no mês e reduzindo a perda no ano para 1,13%.
O Índice Small Cap avançou 0,27%, a 2.903,17 pontos, com alta de 4,62% na semana e 3,78% no mês. No ano, a performance está positiva em 2,86%
O volume negociado no pregão nesta sexta-feira somou 25,88 bilhões de reais.
DESTAQUES DO IBOVESPA DO ACUMULADO DO MÊS:
- YDUQS ON (SA:YDUQ3) avança 17,15%, buscando se recuperar após perda de quase 19% acumulada nos três primeiros meses do ano. Analistas com recomendação de compra para a ação citam entre os argumentos perspectivas positivas para a empresa de educação no longo prazo, embora os últimos dados conhecidos ainda tenham mostrado pressão em margens por maiores provisões e as expectativas no curto prazo contemplem efeito da pandemia de Covid-19 no ciclo de captação de alunos para 2021.
- EMBRAER ON (SA:EMBR3) sobe 13,92%, dando continuidade à valorização desde o começo de fevereiro, que já totaliza uma elevação de mais de 80% em 2021. No mês passado, o presidente-executivo da fabricante de aviões, Francisco Gomes Neto, afirmou que a companhia está trabalhando ativamente em novas parcerias de desenvolvimento de produtos e espera fazer um anúncio em breve. Além disso, analistas têm destacado que indicadores antecedentes dos jatos executivos estão melhorando.
- CSN ON (SA:CSNA3) valoriza-se 13,69%, tendo renovado cotações recordes, em meio um ambiente ainda favorável para os preços de aço, além de perspectivas de desalavancagem do grupo. Investidores também têm no radar a possibilidade de mais um IPO de uma de suas unidades, no caso, a de cimento. Em fevereiro, a companhia listou sua divisão de mineração. No setor, USIMINAS PNA (SA:USIM5) sobe 12,28% e GERDAU PN (SA:GGBR4) avança 2,98%.
- BRADESCO PN (SA:BBDC4) recua 5,8%, em meio a ajustes após forte valorização em março, de 16,5%, sofrendo ainda com ruídos sobre aumento de tributação no setor e atraso na retomada da economia brasileira. No setor, ITAÚ UNIBANCO PN (SA:ITUB4) contabiliza perda de 4,7%, após alta de 9,7% no mês anterior.
- ENERGISA UNIT (SA:ENGI11) perde 5,04%, com o noticiário sobre a elétrica incluindo decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de adiar reajuste tarifário de empresas da companhia que atuam no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, enquanto avalia saídas para conter uma tendência de forte aumento de custos para os consumidores neste ano. A companhia também anunciou que fará oferta pública de aquisição de ações (OPA) de emissão da Rede Energia Participações.
- QUALICORP ON (SA:QUAL3) cai 4,74%, na esteira do resultado o último trimestre de 2020 divulgado no final de março, com queda na receita e no desempenho operacional medido pelo Ebitda ajustado e nas respectivas margens, com alguns analistas avaliando que ainda não viram um "ramp up" nos números de 2020 diante da nova realidade da companhia.
Veja o comportamento dos principais índices setoriais na B3 (SA:B3SA3) no acumulado do mês:
- Índice Financeiro: -1,79%
- Índice de Consumo: +2,25%
- Índice de Energia Elétrica: -1,10%
- Índice de Materiais Básicos: +6,47%
- Índice do Setor Industrial: +3,97%
- Índice Imobiliário: +1,16%
- Índice Utilidade Pública: -0,49%