Fabricantes de cimento estimam alta de 1% nas vendas este ano após alta de 4% em 2024

Publicado 13.01.2025, 16:22
© Reuters. Edifício em construção no Rio de Janeiron27/11/2020nREUTERS/Pilar Olivares
GS
-
JPM
-

SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de cimento do Brasil previu nesta segunda-feira desaceleração no ritmo de crescimento este ano após um 2024 acima do esperado, em meio a uma forte base de comparação e questões como a alta dos juros, que pressiona o consumo das famílias e os financiamentos imobiliários.

O setor terminou o ano passado com vendas no Brasil de 64,65 milhões de toneladas, uma expansão de 4,2%, puxada em grande parte pelo desempenho da Região Nordeste, onde a comercialização de cimento saltou 7,5%, para 13,6 milhões de toneladas, com impulso do programa residencial Minha Casa, Minha Vida (MCMV), segundo dados divulgados nesta segunda pela associação que representa os fabricantes do material, Snic.

Para 2025, a expectativa do setor é de crescimento de cerca de 1% nas vendas no país, a 65,5 milhões de toneladas, segundo o Snic.

"Recuperamos as perdas de 2022 e 2023", disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna. "Mas temos que lembrar que além da base forte (ante 2024) há ainda um elevado endividamento das famílias e inadimplência, e taxa de juros indo a 15%", acrescentou o executivo sobre a previsão do Snic para este ano.

Segundo Penna, com juros a partir dos 12% ao ano há "efetiva preocupação do investidor rever seus investimentos" -- um sintoma da concorrência do setor de construção com ativos financeiros em torno dos recursos da população. No Brasil, a maior parte do consumo de cimento ocorre em pequenas obras contratadas por pessoas físicas, a chamada autoconstrução.

O recorde de vendas da indústria do cimento ocorreu em 2014, com cerca de 73 milhões de toneladas comercializadas. Naquele ano, a Selic terminou em 11,65%, segundo dados do Banco Central.

Além dos juros, Penna citou ritmo lento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujas obras ainda não estão contribuindo de forma relevante para o consumo de cimento no país.

Porém, este ano deve haver uma demanda maior por cimento em obras de saneamento após a série de concessões realizadas desde a aprovação do marco do setor em meados de 2020, previu o presidente do Snic.

"O PAC não teve desempenho esperado no ano passado e não estamos vendo sinalização de melhoria este ano", disse Penna. "Temos visto chance de avançar (o consumo de cimento) em concreto rodoviário e urbano e saneamento", acrescentou, citando uma nova onda de concessões previstas para este ano em Estados como Pernambuco, Pará e Roraima.

 

MINHA CASA, MINHA VIDA

A expectativa do setor é que o MCMV siga impulsionando o consumo de cimento no país este ano, principalmente após 620 mil moradias construídas em 2024, afirmou Penna. O programa foi reestruturado em 2023 e o governo estima a contratação de 2 milhões de moradias até 2026. Segundo Penna, o setor já estima que esta meta pode chegar a 2,5 milhões de unidades até lá.

Caso se confirme a previsão de entregar 500 mil unidades por ano do programa MCMV, isto consumirá cerca de 2,5 milhões de toneladas de cimento, segundo dados do Snic.

O crescimento das vendas de cimento no Nordeste em 2024 foi reflexo do avanço do programa habitacional, disse Penna. "Os maior investimentos do Minha Casa Minha Vida foram nessa região."

O desempenho do Nordeste só perdeu para a expansão de 10,2% das vendas no Norte do país, onde o volume de vendas de cimento somou no ano passado 3,1 milhões de toneladas, impulsionado em parte por retomada de operações de fabricantes locais.

Enquanto isso, o Sudeste, maior mercado do país, teve crescimento das vendas de cimento de 2,8%, a 29,7 milhões de toneladas. O Sul registrou avanço de 3,5%, enquanto no Centro-Oeste as vendas subiram 2,2%, segundo os dados do Snic.

Segundo Penna, apesar da série de baixas recentes de grandes bancos norte-americanos, como Goldman Sachs (NYSE:GS) e JPMorgan (NYSE:JPM), de aliança global para fomento de investimentos que reduzam emissões de gases causadores de efeito estufa, a indústria de cimento do país continua comprometida em melhorar o uso de combustíveis menos poluidores.

O setor de cimento brasileiro projeta investimentos de cerca de 13,5 bilhões de reais até o final de 2027, a maior parte em modernização de fábricas para serem capazes de lidar com combustíveis alternativos ao coque de petróleo dolarizado.

© Reuters. Edifício em construção no Rio de Janeiro
27/11/2020
REUTERS/Pilar Olivares

"Nossos contratos de financiamento estão todos atrelados a desempenho ambiental", disse Penna. "A cartilha do (presidente eleito dos Estados Unidos Donald) Trump está prevalecendo... Mas acredito que o Brasil é um país mais sensível a este tema", afirmou.

Penna citou que "muito em breve" o setor de cimento do Brasil deverá um conjunto de metas mais ambicioso que o atual objetivo de substituição de 55% de coque de petróleo por combustíveis renováveis e alternativos como biomassa. "Resíduo urbano vai ser a principal fonte de combustível alternativo", afirmou.

(Por Alberto Alerigi Jr.)

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.