Investing.com - A escalada da retórica agressiva na disputa comercial entre EUA e China e a divulgação de PMIs desanimadores nos EUA e na zona do euro trouxeram aversão ao risco e derrubada dos principais índices na sessão desta quinta-feira pelo mundo. O Ibovespa não escapou do pessimismo global, que se somou às incertezas políticas locais em relação ao relacionamento entre Congresso e Palácio do Planalto, apesar da melhora nos últimos dias.
O principal índice acionário brasileiro caiu 0,48% aos 93.910,03 pontos, com mínima em 93.299,97 e máxima em 94.546,68 pontos. O volume de negócios foi de R$ 12,7 bilhões, com 63,5% dos papéis fechando no negativo. A segunda queda consecutiva não anula os ganhos acumulados de 4,35% na semana.
O dólar oscilou entre R$ 4,02 e 4,07 para encerrar o dia em R$ 4,0476, alta de 0,2%. A moeda americana acumula uma baixa de 1,51% na semana, com a pequena melhora no ambiente político com aprovação das MPs da reforma administrativa e da liberação de capital estrangeiro nas companhias, apesar de haver entrave na MP do saneamento básico. No entanto, o dólar se valorizou 2,96% em relação ao real no mês.
EUA-China
O banimento de a Huawei realizar negócios com empresas americanas colocou a disputa comercial entre os dois países em um novo patamar, do qual já é denominada de “guerra fria tecnológica”. Após elevar as tarifas de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões em importação de mercadorias chinesas e ameaçar impor taxas de 25% em outros US$ 325 bilhões de produtos do país asiático, os EUA estão limitando a atuação de empresas tecnológicas da China.
Nenhuma empresa americana poderá fornecer equipamentos e serviços a Huawei, assim como a companhia chinesa fazer parcerias para vendas de produtos. O pano de fundo do banimento é a corrida para implementação da rede 5G de telefonia e internet móvel, na qual os equipamentos e serviços da Huawei são apontados como de vanguarda no segmento.
O banimento pode também se estender a empresa de vigilância por câmera Hikvision. O governo dos EUA alega que a empresa desenvolve tecnologia para ser utilizada na vigilância e opressão dos uigures, etnia muçulmana que vive na província de Xinjiang, oeste da China, de acordo com reportagens do The New York Times e da Bloomberg.
Diante dessa circunstância, os chineses cobraram os EUA uma postura diferente para resolver os impasses. "Se os Estados Unidos quiserem continuar as negociações comerciais, devem mostrar sinceridade e corrigir suas ações equivocadas. As negociações só podem continuar com base na igualdade e no respeito mútuo", disse o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng.
A última conversa entre as delegações dos dois países foi em 10 de maio, dia que começou a vigorar as novas tarifas. E não há data para retomada de conversas, embora haja expectativa de um encontro bilateral entre o presidente americano Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping durante reunião do G-20 no mês que vem no Japão.
O secretário de Estado americano colocou mais pano quente na disputa ao afirmar nesta quinta-feira que os EUA devem cortar relações com mais empresas chinesas. Além disse, chamou o presidente-executivo da Huawei de mentiroso quando ele afirmou que a empresa não tinha relações com o governo chinês.
Índices no exterior
O aprofundamento da guerra comercial derrubou os principais índices acionários no mundo. Em Shanghai, a queda foi 1,36%, enquanto o Euro Stoxx 600, que reúne as principais ações da Europa, perdeu 1,42%. Em Wall Street, Dow caiu 1,11%, S&P 500 ficou em baixa de 1,19%, enquanto Nasdaq despencou 1,58%.
As incertezas também se manifestaram no rendimento nas Treasuries de 10 anos, cujo yield caiu para 2,312%. O yield cai quando aumenta a demanda por Treasuries, e vice-versa. Já o índice VIX, conhecido como índice do medo e mostra a tendência de volatilidade do mercado, subiu 14,71%.
PMIs fracos na zona do euro e nos EUA
O crescimento da indústria dos Estados Unidos enfraqueceu com força em maio, chegando ao ritmo mais lento em quase uma década, em meio à intensificação da disputa comercial entre EUA e China, mostraram dados do IHS Markit nesta quinta-feira. Em sua pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) preliminar, o Markit disse que o PMI de indústria caiu para 50,6 de 52,6 em abril, menor nível desde setembro de 2009. Economistas consultados pela Reuters esperavam uma leitura de 52,5. Número acima de 50 indica crescimento.
Os serviços também apresentaram fraqueza uma vez que o PMI preliminar do setor caiu a 50,9 de 53,0 em abril, nível mais baixo desde fevereiro de 2016. A expectativa era de 53,2. Com isso, o PMI Composto do Markit foi a 50,9, resultado mais fraco desde março de 2016, de 53,0 no mês passado.
Na zona do euro, o PMI preliminar da indústria caiu para 47,7 em maio de 47,9 em abril, permanecendo pelo quarto mês seguido abaixo da marca de 50 que separa crescimento de contração. A expectativa era de 48,1. O crescimento do setor de serviços desacelerou e o PMI preliminar caiu para 52,5 de 52,8, contra expectativa em pesquisa da Reuters de 53,0. Mas, o PMI Composto preliminar do IHS Markit avançou para 51,6 este mês de 51,5 em abril, abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de 51,7.
MPs travadas mesmo com melhora da relação governo e Congresso
A Câmara aprovou a MP da reforma administrativa que reduz o número de ministérios de 29 para 22 pastas, confirmando o retorno do Coaf ao Ministério da Economia. A votação sobre o Coaf abriu uma crise no Centrão, pois a maioria dos parlamentares do PSD votaram pelo Coaf no Ministério da Justiça de Sérgio Moro, descumprindo o acordo com outros partidos do Centrão de voltar a autarquia à Economia.
Agora a MP da reforma administrativa se encaminha para o Senado, que adiou a votação para terça-feira. A MP vence dia 3 de junho.
Em relação à MP do Saneamento Básico, ela deve caducar sem o Congresso tê-la aprovada, segundo a líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). Em seu lugar, o governo vai apresentar um projeto de lei para regulamentar novas regras para o setor. O assunto é de interesse das companhias estaduais de água e abastecimento.
Ações em destaque no Ibovespa
- GRUPO PÃO DE AÇÚCAR caiu 0,79%, após negócios com ações de seus controladores Rallye e do grupo francês de varejo Casino serem suspensos ante a iminência de divulgação de comunicado. Depois do fechamento da bolsa francesa, a Rallye informou que foi colocada sob proteção contra credores por pelo menos seis meses por um tribunal de Paris.
- NATURA recuou 8,54%, após anuncio na véspera de acordo para compra da norte-americana Avon numa transação que deve criar o quarto maior grupo de beleza do mundo. Nesta quinta-feira, executivos da Natura (SA:NATU3) disseram esperar um aumento das receitas com investimento em marca e digitalização de processos.
- DURATEX subiu 6,01%, após a empresa anunciar acordo para comprar a fabricante de revestimentos cerâmicos Cecrisa por até 539 milhões de reais, ampliando o portfólio de produtos para construção civil.
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) perdeu 1,71% e PETROBRAS ON (SA:PETR3) declinou 1,74%, pressionadas pela queda nos preços do petróleo diante de temores com a demanda global de combustível dada a piora nas relações comerciais entre EUA e China.
*Com Reuters