Investing.com - O ambiente em Brasília para a aprovação da reforma da Previdência será o principal fator para a avaliação de risco dos ativos brasileiros pelos investidores. A tensa participação do ministro da Economia Paulo Guedes na audiência da CCJ na Câmara, ontem, condicionou os investidores a ter cautela sobre a real capacidade de articulação do Palácio do Planalto de construir uma coalizão que garanta os votos necessários para a aprovação das novas regras da aposentadoria, derrubando o Ibovespa e elevando o dólar.
Esta quinta-feira apareceu uma semente para a consolidação do cenário de aprovação da reforma. Após os 100 dias de mandato, o presidente Jair Bolsonaro conversou com lideranças de partidos que ele considera ser parte da “velha política”. Foram ao Palácio do Planalto conversar com Bolsonaro Geraldo Alckmin (PSDB), ACM Neto (DEM), Romero Jucá (MDB), Gilberto Kassab (PSD), Marcos Pereira (PRB) e Ciro Nogueira (PP).
Bolsonaro relatou no Twitter que as conversas não abordaram troca de apoio por cargos, apenas a convergência de interesse para aprovar a reforma da Previdência. Entre as lideranças partidárias, declarações de que não vão participar da base – mantendo a independência -, mas com apoio das novas regras previdenciárias, mas com ressalvas. Alckmin declarou, por exemplo, que seu partido, o PSDB, não vai apoiar mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) nem da aposentadoria, ecoando posicionamento de parlamentares já citado há semanas pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia.
As declarações de apoio à reforma ainda não se traduzem em votos. Mas podem se converter caso a promessa feita por Bolsonaro hoje, de criação de conselhos políticos com lideranças partidárias e líderes do Congresso. Por isso, o mercado reverteu a queda de ontem e encerrou com forte alta.
Bolsa avança
O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, fechou perto da máxima diária com ganhos de 1,9% a 96.313 pontos. O dólar fechou em baixa, após parte da sessão ficar em alta negociado a R$ 3,88. A moeda americana encerrou o dia cotado a R$ 3,85, perda de 0,3%.
As ações com destaque positivo foram Embraer (SA:EMBR3) e Linx (SA:LINX3). A fabricante brasileira de aeronaves teve uma alta de 1,8% a R$ 18,80 com a informação do jornal O Estado de S.Paulo da possibilidade da venda de caças militares Grippen produzidos no Brasil em parceria com a sueca Saab. A informação se soma ao anúncio de venda de aeronaves civis e do interesse de compra do cargueiro KC-390 pela Força Aérea de Portugal.
Já a Linx teve uma forte alta de 5% a R$ 37,79. A empresa planeja fazer emissão de novas ações e lista-las na Nasdaq, segundo o Estadão. O objetivo é levantar por volta de US$ 300 milhões para financiar a expansão da empresa.
As papeleiras Klabin (SA:KLBN11) e Suzano (SA:SUZB3) lideraram as perdas do Ibovespa no dia, com perdas de -3,4% a R$ 16,81 e -3,1% a R$ 45,44, respectivamente. As perdas foram decorrentes do relatório do Credit Suisse sobre o setor, que classificou o setor de papel e celulose com forte concorrência em meio a um cenário de demanda fraca, especialmente na China, reduzindo as marges. Inclusive, o banco suíço mudou a recomendação de Suzano de compra para neutra, reduzindo o preço-alvo de R$ 62 para R$ 53.
A Petrobras (SA:PETR4) subiu 3,38% por cento com agentes financeiros ainda atentos a desdobramentos relacionados à cessão onerosa. O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, disse que está otimista quanto a um acordo sobre o tema na próxima semana. Nos bancos, o Bradesco (SA:BBDC4) subiu 2,59% por cento, enquanto o Itáu ganhou 1,5%.
O tom positivo também se estendeu à Vale (SA:VALE3), que subiu 0,7% na esteira do aumento dos preços de minério de ferro na China em meio a uma redução nos embarques do Brasil e da Austrália e uma demanda mais alta por parte dos chineses, indicando um aperto no mercado da matéria-prima.
Exterior positivo
No exterior prevaleceu o otimismo com a perspectiva de que as negociações comerciais entre EUA e China cheguem a um acordo entre os dois países, apesar de alguns investidores adotarem a cautela sobre um desfecho positivo e ao tipo de acordo que possa ser fechado. Fontes do Financial Times e do Wall Street Journal afirmam que 90% do acordo está concluído, resta o consenso para o estabelecimento de mecanismos de fiscalização para aplicação do acordo.
Os pedidos iniciais do seguro-desemprego também vieram positivamente, contrariando outros indicadores que apontam para a uma desaceleração. Foram 202 mil pedidos, ante expectativa de 216 mil, o menor nível desde há quase 50 anos, contrapondo aos números abaixo do esperado da ADP, que mensura folhas de pagamentos, e do ISM, que é um termômetro para a atividade industrial.
Com Reuters