Alfonso Fernández.
Washington, 30 jul (EFE).- O Federal Reserve (Fed, banco central) dos Estados Unidos iniciou nesta terça-feira a reunião de dois dias de política monetária com a expectativa de uma redução das taxas de juros, que seria a primeira em uma década, em meio à pressão do presidente Donald Trump e com sinais de desaceleração econômica.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) emitirá amanhã um comunicado sobre a conclusão do encontro e, pouco depois, o presidente do Fed, Jerome Powell, oferecerá uma entrevista coletiva para comentar a decisão.
O último aumento da taxa de juros, que atualmente está no patamar entre 2,25% e 2,5%, aconteceu em dezembro e, desde então, o banco central apostou em um enfoque de "paciência" dentro do processo de normalização monetária gradual.
No entanto, os dados macroeconômicos mais recentes apontam para uma desaceleração dos EUA, que se soma ao crescente enfraquecimento da economia global devido às tensões comerciais.
A economia americana desacelerou no segundo trimestre do ano, segundo o primeiro cálculo oficial, com um crescimento em estimativa anual de 2,1% frente aos 3,1% registrados previamente no começo do ano.
A inflação anualizada caiu dois décimos em junho, para 1,6%, mantendo-se de maneira persistente abaixo da meta anual de 2% traçada pelo Fed.
Por sua vez, o mercado de trabalho segue mostrando força e continua com uma sólida geração de empregos a cada mês e uma taxa de desemprego inferior a 4%, níveis que não são vistos em 50 anos.
Em relação a esse panorama complexo, Powell afirmou que o Banco Central tomará a atitude "apropriada para sustentar a expansão", o que foi interpretado como um sinal verde para a redução dos juros.
Se realmente acontecer, este seria o primeiro corte nos juros desde o final de 2008, logo no começo da crise financeira.
"Os Estados Unidos não são uma ilha. Somos parte da economia global. O que ocorre no resto do mundo - na Europa, na Ásia - afeta os EUA e também é certo que a política monetária dos EUA afeta as condições de todo o mundo", frisou Janet Yellen, antecessora de Powell à frente do Fed.
Yellen, que foi substituída por Powell em 2018, se mostrou favorável à redução dos juros em uma palestra no Colorado neste domingo.
"Acredito que diante dos riscos, estaria disposta a reduzir um pouco. Eu não vejo o começo, a menos que as coisas mudem, de um grande ciclo de expansão. Mas acredito que é apropriado", disse a primeira mulher à frente do banco central americano.
Para aumentar a incerteza, as críticas da Casa Branca ao banco central não cessam e há dúvidas sobre sua independência.
Trump reivindicou mais uma vez nesta segunda-feira uma redução na taxa de juros de referência e criticou a inatividade do Fed.
"A UE e a China reduzirão ainda mais suas taxas de juros e introduzirão mais dinheiro em seus sistemas, facilitando muito mais para as suas indústrias a venda de seus produtos", disse Trump.
"Enquanto isso, e com inflação baixa, nosso Fed não faz nada, e provavelmente fará pouco em comparação" com EU e China, acrescentou o presidente.
A maioria dos analistas dão por certa a redução da taxa de juros, mas duvidam se o Fed manterá a tendência em reuniões futuras.
"O Fed não vai ditar uma redução dos juros. Acho que seria demais para os mercados. Na minha opinião, (o Fed) vai deixar a porta aberta, mas seu objetivo é que ela seja forçada para o próximo encontro. É claramente uma função de como se desenvolvem os indicadores", apontou Stephen Stanley, economista-chefe de Amherst Pierpont, em uma nota a seus clientes.