Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - A chinesa Hunan Dakang se viu perdendo muito dinheiro logo após adquirir a empresa brasileira de grãos Fiagril, em 2016, mas conseguiu promover uma reviravolta em sua subsidiária, focando nas vendas de insumos agrícolas em vez da originação de grãos, disse um executivo.
Os problemas da Fiagril expuseram os desafios para os recém-chegados ao setor agrícola do Brasil, em um momento em que as margens dos operadores se mantêm estreitas devido às colheitas abundantes e à competição mais acirrada.
A empresa registrou lucro em 2018, após prejuízo no ano anterior, graças à mudança para longe da competição cabeça a cabeça com as principais empresas de grãos no segmento de originação, disse em entrevista à Reuters o presidente-executivo da companhia, Luiz Gustavo Silva.
"O foco é distribuição de insumos com troca por soja. Aí, a gente exporta a soja e garante a margem no insumo. No trading, a margem é praticamente zero", disse, apontando que a Fiagril segue exportando grãos, mas que o verdadeiro ganho está no setor de insumos agrícolas.
Recentemente, a Fiagril garantiu mais capital para prosseguir com a reviravolta. Neste ano, o Banco de Desenvolvimento da China aprovou um empréstimo rotativo de 300 milhões de dólares, o que fornecerá capital de giro por três anos, disse Silva.
A empresa também recebeu uma injeção de capital de 180 milhões de reais de seus financiadores em abril. A aplicação foi dividida proporcionalmente entre a sócia majoritária Dakang e parceiros, para evitar a diluição de quaisquer investidores, afirmou o executivo.
Listada na Bolsa de Valores de Shenzhen, a Hunan Dakang, que opera no Brasil através subsidiária, é pertencente ao conglomerado chinês Shanghai Pengxin.
A Dakang realizou o que é visto como algumas das maiores aquisições do setor agrícola brasileiro: a Fiagril, cujo valor não foi divulgado, e a Belagrícola, na qual a empresa adquiriu parcela majoritária por 253 milhões de dólares.
A Fiagril tem sede no Mato Grosso, principal Estado produtor de soja do Brasil, enquanto a Belagrícola, que atua em setores semelhantes, é sediada no Paraná, tradicionalmente o segundo Estado sojicultor.
MUDANÇA DE CULTURA
A Dakang comprou a Fiagril com a intenção de adquirir soja para atender à crescente demanda alimentícia chinesa.
Mas, embora as vendas tenham totalizado 3,2 bilhões de reais em 2017, a empresa perdeu dinheiro. Assim, a Dakang enviou gestores chineses ao Brasil para entender os motivos.
A Dakang percebeu, então, que havia adquirido uma empresa que também vende insumos agrícolas e produz biocombustível, o que se mostrou mais lucrativo que as operações de trading em grãos.
Silva afirmou que convenceu os proprietários da Fiagril a focarem na venda de insumos agrícolas e biocombustíveis. Ainda que as vendas tenham recuado para 2,7 bilhões de reais em 2018, foram elas que levaram a empresa de volta aos lucros.
"Hoje não tem nenhum chinês na gestão. (Apenas) fazemos reunião do 'board' a cada três meses."