Por Tom Polansek e Rod Nickel
CHICAGO/WINNIPEG (Reuters) - Em uma unidade de processamento de frango da Wayne Farms no Estado norte-americano do Alabama, recentemente os trabalhadores tiveram de pagar à empresa 10 centavos de dólar por dia para comprar máscaras de proteção contra o novo coronavírus, de acordo com um inspetor da indústria.
No Colorado, quase um terço dos funcionários de uma planta de carne bovina da JBS (SA:JBSS3) USA, frigorífico norte-americano do grupo brasileiro JBS, ficou em casa em meio a preocupações de segurança nas últimas duas semanas, depois de um funcionário com 30 anos de experiência morrer por complicações da Covid-19.
E desde que uma planta de suínos da Olymel em Quebec, no Canadá, foi fechada em 29 de março, o número de trabalhadores que testaram positivo para o coronavírus quintuplicou, chegando a mais de 50, segundo um sindicato local.
A instalação da Olymel e pelo menos outras 10 na América do Norte fecharam ou reduziram produção temporariamente nas últimas duas semanas devido à pandemia, o que afetou cadeias de oferta de alimentos que já enfrentavam dificuldades para acompanhar o ritmo do aumento de demanda nos supermercados.
De acordo com mais de uma dúzia de entrevistas com trabalhadores, líderes sindicais e analistas da indústria nos EUA e no Canadá, a falta de equipamentos de proteção e a natureza do trabalho necessário para processar carnes estão ressaltando os riscos para funcionários, além de limitar a produção, à medida que alguns renunciam ao trabalho mal remunerado.
Empresas que aumentaram proteções, com maior higiene ou distanciamento entre os trabalhadores, afirmam que as medidas estão desacelerando ainda mais a produção de carnes.
A Smithfield Foods, maior processadora de carne de porco do mundo, disse no domingo que está fechando por tempo indeterminado uma unidades de suínos que representa cerca de 4% a 5% da produção norte-americana.
A empresa alertou que o fechamento de fábricas está empurrando os EUA "perigosamente para perto do limite" em relação à oferta de carnes a mercados.
Os fechamentos e o aumento da ausência de funcionários contribuíram para a queda do preço dos animais nos EUA, uma vez que os produtores encontram menos locais para abate.
Desde 25 de março, os contratos futuros do suínos com vencimento mais próximo caíram 35%, enquanto o preço do gado cedeu 15%, pressionando a economia agrícola norte-americana.
A demanda por carnes na América do Norte caiu cerca de 30% no mês passado, com o declínio nas vendas de carnes em restaurantes superando o aumento da demanda no varejo, disse Christine McCracken, analista de proteína animal do Rabobank.
Os estoques de carnes congeladas nos frigoríficos norte-americanos seguem abundantes, mas a oferta pode ser reduzida em meio ao aumento das exportações para a China, depois de um acordo comercial remover obstáculos às compras de carne dos EUA pelo país asiático.
"Existe um grande risco de novos fechamentos de unidades", disse McCracken.
O mais recente aconteceu nesta segunda-feira, quando a JBS anunciou que vai fechar sua planta de carne bovina em Greeley, Colorado, que é responsável por cerca de 5% da produção do país, até 24 de abril.
A JBS já havia reduzido produção na instalação, uma vez que cerca de 800 a 1 mil trabalhadores por dia permaneciam em casa desde o final de março, segundo Kim Cordova, presidente de um sindicato local.
Ela acrescentou que até sexta-feira a entidade tinha conhecimento de ao menos 50 casos e duas mortes por coronavírus entre os funcionários.
Saul Sanchez, trabalhador do local conhecido carinhosamente como "vovô" por alguns colegas, testou positivo para o vírus e morreu no dia 7 de abril, aos 78 anos, segundo sua filha, Beatriz Rangel. Ela disse que suas únicas movimentações antes da aparição dos sintomas foram entre sua casa e a fábrica.
A JBS confirmou que um funcionário com três décadas de experiência morreu por complicações associadas ao Covid-19, sem citar Sanchez pelo nome. Ele não teve sintomas durante o trabalho e não esteve na unidade quando doente, segundo a empresa.
A JBS disse que trabalha com governos federal e estadual para obter testes para todos os funcionários da instalação.
O condado de Weld, onde a fábrica está localizada, tinha na sexta-feira o quarto maior número de casos de Covid-19 entre os condados do Colorado, de acordo com o Estado. As autoridades de saúde confirmaram casos entre funcionários da JBS.
A JBS disse que o alto índice de ausências na fábrica levou o processamento a recuar para nível inferior às taxas de abate. A empresa contestou os números do sindicato, mas não forneceu os seus.
Segundo Cameron Bruett, porta-voz da JBS USA, foram tomadas medidas pela companhia, incluindo a compra de máscaras e a instalação de escudos de acrílico nos refeitórios para proteger os funcionários.
(Reportagem de Tom Polansek, em Chicago, e Rod Nickel, em Winnipeg)