Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - O governo fará investimentos públicos para modernizar a usina nuclear Angra 1 e estudará a viabilidade de conclusão de Angra 3, segundo o novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado nesta sexta-feira.
Para a modernização de Angra 1, a primeira usina nuclear brasileira, que está perto de completar 40 anos em atividade, foram estimados 1,9 bilhão de reais em investimentos.
Já Angra 3 foi incluída no programa federal apesar de especulações que surgiram nas últimas semanas de que o projeto poderia não aparecer na lista.
Apesar disso, o status do empreendimento continua indefinido, uma vez que o governo segue avaliando a viabilidade econômica, técnica e socioambiental de finalizar as obras, em um projeto que poderia demandar 20 bilhões de reais.
Projetada com 1,4 gigawatt (GW) de potência, Angra 3 teve suas obras iniciadas na década de 1980, mas ao longo dos anos elas foram paralisadas e reiniciadas algumas vezes. Atualmente, o progresso físico total do empreendimento é de 65%.
"Angra 3 é um assunto extremamente sensível... É uma obra que tem que ser analisada do ponto de vista técnico de uma forma extremamente criteriosa, do ponto de vista socioeconômico também", afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a jornalistas após evento de apresentação do PAC.
Além do custo elevado do projeto, o governo também pesa na decisão de concluir a usina o valor da energia gerada, que seria mais cara que a proveniente de outras fontes.
Segundo estimativas apresentadas anteriormente pelo ministério, a tarifa média de energia da usina ficaria em torno de 700 reais por megawatt-hora (MWh), valor superior ao das tarifas de Angra 1 e 2 e também da energia contratada proveniente de outras fontes, como hídrica, eólica e solar.
"Precisamos ter segurança econômica de que a energia que Angra 3 vai fornecer... ela também vai ser econômica para o consumidor, porque quem paga a conta da energia é o consumidor", disse Silveira nesta sexta-feira.
O debate sobre a retomada do projeto ocorre ainda em um cenário de sobreoferta de energia no Brasil no curto e médio prazos, diante do desenvolvimento de vários grandes projetos de geração renovável e do crescimento da geração própria de energia ao mesmo tempo em que o consumo nacional de energia anda de lado.
Para Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares (Abdan), a elevada tarifa projetada pelo governo embute custos que não estão associados à fonte nuclear, mas sim à dificuldade que o país teve de tirar a usina do papel nas últimas décadas.
"(A tarifa) é para pagar financiamento (da usina), mas também o custo Brasil, que não pertence à fonte. Essa obra foi paralisada inadvertidamente três vezes, passou por Lava Jato, não se pode querer imputar à fonte esse custo", disse Cunha.
Cerca de 7,8 bilhões de reais já foram aportados em Angra 3, e o custo estimado para abandonar completamente as obras é de cerca de 13,6 bilhões de reais, segundo estimativa do Ministério de Minas e Energia.
Cunha afirmou ainda que seria um desperdício gastar recursos bilionários para desmobilizar a obra, e que uma possível solução para reduzir a contratação de financiamento para Angra 3, baixando o custo total da obra, seria realizar um aumento de capital nas controladoras do projeto.
"Imagina, nesse momento em que o Brasil precisa de dinheiro, gastar quase 14 bilhões para não ter coisa nenhuma."
Nesta semana, a Eletrobras (BVMF:ELET3), que é sócia da estatal Eletronuclear e mantém obrigações relacionadas a Angra 3, disse apostar na finalização da obra, mas indicou que fará uma avaliação de eventuais impactos para a companhia em um eventual cenário de desmobilização do projeto.
(Por Letícia Fucuchima)