SÃO PAULO (Reuters) - O Ministério da Agricultura decidiu interromper temporariamente a produção e certificação sanitária de produtos de aves da BRF (SA:BRFS3) exportados do Brasil para a União Europeia a partir desta sexta-feira, em mais um revés para a maior exportadora de carne de frango do mundo.
A suspensão ocorre depois de a BRF ter sido alvo de uma nova fase da operação Carne Fraca da Polícia Federal, no início do mês e em meio a discussões sobre mudança de gestão da companhia.
Às 12:09, as ações da companhia recuavam 2,65 por cento, a 24,60 reais. No pior momento, mais cedo, tocaram 23,70 reais, em queda de mais de 6 por cento, voltando a se aproximar de mínimas desde 2011. No começo do mês, o papel já tinha tocado 23,65 reais, menor preço intradia desde agosto de 2011.
A medida afeta 10 fábricas da companhia nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná e Goiás. A BRF tem no Brasil 35 unidades produtivas.
Segundo a BRF, os produtos já alocados na União Europeia ou produzidos e embarcados antes de 16 março podem ser comercializados e utilizados sem restrições na UE.
Técnicos do Ministério da Agricultura vão se reunir na próxima semana em Bruxelas com as autoridades sanitárias das União Europeia para prestar esclarecimentos técnicos. Após a reunião, a medida será reavaliada, disse a BRF.
No mercado há avaliações de que se trata de uma medida para evitar ações mais drásticas e duradouras pela União Europeia, até que o Brasil e o bloco se reúnam na próxima semana. A decisão, contudo, pode fazer a empresa redirecionar produtos para outras regiões e se demorar para ser suspensa poderá desequilibrar a relação de oferta e demanda de aves nesses mercados.
A BRF informou que embarcou 278 mil toneladas de aves e produtos processados para a Europa no ano passado. A companhia não detalhou quanto desse total teve origem nas fábricas brasileiras.
De acordo com um analista de uma grande corretora do país, em termos de volume, a suspensão afeta menos do que 5 por cento do volume total da BRF, assim não teria um impacto expressivo na companhia, mas vem em um momento em que a BRF tem necessidade de expandir margens e reduzir endividamento.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a avicultura e a suinocultura do país, espera que o Ministério da Agricultura encontre uma solução imediata e efetiva para a retomada das exportações da BRF para a União Europeia.
"O governo brasileiro precisa e deve esclarecer rapidamente a questão. O país não pode ceder às ameaças que colocam em risco milhares de empregos e as empresas do nosso setor", afirmou a entidade em nota, destacando que o país exportou mais de 5 milhões de toneladas de carne de frango apenas nos últimos 10 anos.
O Ministério da Agricultura não comentou imediatamente.
(Por Raquel Stenzel, Ana Mano e Paula Arend Laier)