Por Guillermo Parra-Bernal e Tatiana Bautzer
SÃO PAULO (Reuters) - Um grupo de sócios do BTG Pactual (SA:BBTG11) assumiu nesta quarta-feira o controle do banco de investimentos no lugar de André Esteves, na tentativa de distanciar a instituição do banqueiro após ele ter sido preso há uma semana acusado de interferir na investigação da operação Lava Jato.
Em fato relevante, o BTG Pactual informou que Esteves concordou em trocar ações com outros sete sócios fundadores do grupo.
Os sócios Marcelo Kalim, Roberto Sallouti, Persio Arida, Antonio Carlos Porto Filho, James Marcos de Oliveira, Renato Monteiro dos Santos e Guilherme da Costa Paes passarão a exercer o controle do BTG Pactual por meio de uma holding a ser criada por eles.
Pelo acordo, as ações com direito a voto de Esteves na BTG Pactual Holding foram transformadas em ações preferenciais. Ao mesmo, o inverso foi feito com ações dos sete sócios, que foram convertidas de preferenciais em ordinárias. Segundo o BTG Pactual, a mudança no controle não exigirá a realização de Oferta Pública de Aquisição (OPA) aos acionistas minoritários.
Mais cedo, uma fonte havia antecipado à Reuters que a saída de Esteves do controle do grupo não envolvia dinheiro. Ainda segundo essa fonte, a partir de agora todas as decisões estratégicas sobre o BTG Pactual serão tomadas por maioria dos sete principais sócios.
Esteves tinha cerca de 29 por cento do grupo e uma ação de classe especial que dava a ele poder de veto em decisões estratégicas.
O banqueiro, que era tido como um dos homens de negócios mais influentes do Brasil com trânsito entre políticos e empresários, já tinha renunciado no domingo de todos os cargos executivos na instituição financeira, onde acumulava as funções de presidente do Conselho e presidente-executivo do banco e da BTG Pactual Participations, braço de participações do grupo.
A mudança no controle depende de aprovação pelo Banco Central. Até a noite da véspera, o BTG Pactual afirmava que ainda não havia qualquer definição sobre a participação de Esteves no capital do grupo.
Na Bovespa, as units do BTG Pactual ficaram suspensas até o meio da tarde à espera de mais esclarecimentos da companhia sobre a mudança no controle. No fechamento do pregão, os papéis tinham variação negativa 0,69 por cento, a 20,16 reais.
Desde a prisão de Esteves, em 25 de novembro, as units acumularam baixa de cerca de 35 por cento. No exterior, os preços dos bônus do BTG Pactual têm apresentado forte queda nos últimos dias.
Nesta tarde, a agência de risco Standard & Poor's cortou o rating global do BTG Pactual, que já estava na faixa de grau especulativo, para "BB-", deixando a nota em observação negativa e afirmando que o banco enfrenta uma lacuna de liquidez para cumprir suas obrigações nos próximos 60 dias, a menos que consiga vender ativos e acessar linhas de crédito.
"Essa lacuna, que incorpora informações que recebemos do banco após os recentes resgates e entradas de diversas fontes, ressalta o risco de o banco não cumprir suas obrigações de curto prazo se não tomar medidas mais duras do que apenas usar seu plano de contingência para aumentar o caixa", disse a S&P.
No fim da terça-feira, a Moody's cortou a nota do BTG Pactual para grau especulativo, de "Baa3" para "Ba2", com o novo rating em revisão para potencial rebaixamento. A Moody's citou os desafios que o banco enfrenta para manter a liquidez após a prisão de Esteves.
Com necessidade de reifnanciar cerca de 55 por cento do financiamento de seu braço bancário no prazo de 90 dias, o BTG Pactual tem tentado assegurar clientes de que está operando normalmente.
"Eles têm financiamento no curtíssimo prazo... É um perfil muito diferente do resto do mercado. Isso definitivamente levanta preocupações para a contraparte", disse o responsável pela área de renda fixa para América Latina da Santander Asset Management, Alfredo Mordezki, em Londres.
VENDA DE ATIVOS
Mais cedo nesta quarta, o BTG Pactual anunciou a venda de participação na rede hospitalar Rede D'Or São Luiz para o GIG, fundo soberano de Cingapura, por 2,38 bilhões de reais. Os recursos devem ajudar o BTG Pactual a repor parte do dinheiro que deixou a instituição desde a prisão de Esteves.
O BTG Pactual também está negociando a venda de participação de cerca de 50 por cento na empresa de recuperação de créditos Recovery, disseram à Reuters três fontes. A operação poderia movimentar de 400 milhões a 1,2 bilhão de reais, dependendo da inclusão ou não da plataforma do BTG que a Recovery usa para precificar empréstimos.
Uma outra fonte disse que a procura por um potencial comprador da fatia de 68 por cento do BTG Pactual na rede de estacionamentos Estapar começou.
Em outra frente para reforçar suas finanças, o banco negocia a cessão de cerca de 4 bilhões de reais em carteiras de empréstimos aos rivais Itaú Unibanco e Bradesco (SA:BBDC4), disseram na segunda-feira duas fontes com conhecimento do assunto.
Esteves foi preso numa operação em que também foi detido o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado.
Delcídio foi acusado de ter supostamente oferecido plano de fuga ao ex-diretor da Petrobras (SA:PETR4) Nestor Cerveró, condenado a mais de 12 anos de prisão pelo envolvimento em corrupção na petroleira, e ajuda financeira mensal em troca de silêncio nas investigações. O pagamento, segundo o Ministério Público Federal, seria feito por Esteves.
A situação do banqueiro se agravou no domingo, quando sua prisão temporária foi transformada em preventiva, ou seja, por prazo indeterminado.
Além disso, reportagens na imprensa apontaram que a Polícia Federal teria encontrado anotações de suposto pagamento de propina do BTG Pactual ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a outros peemedebistas em troca de emenda a uma medida provisória que favoreceria o banco. Cunha e BTG Pactual negaram as denúncias.
(Reportagem adicional de Priscila Jordão e Alberto Alerigi Jr. em São Paulo, Carolyn Cohn em Londres e Olivia Oran em Nova York)