Investing.com - Agora é oficial: Sergio Moro não é mais ministro da Justiça. A demissão foi anunciada em entrevista coletiva em Brasília nesta sexta-feira (24), em que Moro fez um balanço de ações e resultados da pasta durante o seu comando e o motivo de saída.
Os investidores não veem com bons olhos a saída de Moro do governo. Por isso, o Ibovespa despenca 7,21% a 73.925 pontos às 11h58. O EWZ, fundo de bolsa negociado em bolsa que replica o Ibovespa em Nova York, derrete 9,75%.
A intensificação da crise política afeta a cotação do dólar. A moeda americana atingiu máxima histórica de R$ 5,7127 e operava em alta de 3,06% a R$ 5,7022.
"Estamos vendo um governo se desfazer em meio a uma situação gravíssima de política internacional", afirmou Fernando Bergallo, da FB Capital.
"A troca do Ministro da Saúde em plena pandemia, obviamente, já pegou muito mal para o investidor estrangeiro, e no momento em que o segundo pilar do governo, que é o Ministro da Justiça, que emprestou a credibilidade toda para o Bolsonaro sai do governo, você está perdendo outra perna desse tripé que não vai se sustentar sozinho", afirmou.
Contexto da demissão
O estopim para a saída de Moro foi a exoneração do diretor da Polícia Federal Maurício Valeixo, indicado por Moro ao cargo. Valeixo era superintendente da PF em Curitiba durante a Operação Lava-Jato, que investigou corrupção na Petrobras (SA:PETR4) durante os governos do PT. A Lava Jato tornou Moro conhecido nacionalmente como juiz de 1ª instância em Curitiba.
A exoneração de Valeixo foi publicada em edição extra do Diário Oficial, na madrugada desta sexta. De acordo com o decreto, ela ocorreu "a pedido". Não foi nomeado um substituto. O presidente deseja ter uma influência maior na instituição.
Durante a coletiva, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Polícia Federal representa uma interferência política no órgão e desfaz a promessa que recebeu de carta-branca.
Moro disse em seu pronunciamento que desde o período da Lava Jato sempre se preocupou com a possibilidade de interferência política na PF. O ministro disse lamentar ter de se demitir durante a pandemia de coronavírus, mas disse que era "inevitável".
A saída de Moro do governo é a perda de um dos pilares de sustentação do presidente no cargo. Moro assumiu o cargo em janeiro de 2019 com o status de superministro. No entanto, foi perdendo influência com recuos e derrotas desde quando estourou o vazamento de troca de mensagens entre o então juiz e procuradores da Operação Lava Jato, em que havia indício de combinação de ação entre as duas partes.
Além disso, a acusação de tentativa de interferência na PF pelo presidente Bolsonaro pode constituir crime de responsabilidade e pode abrir caminho para processo de impeachment. No momento, 24 pedidos de impeachment estão na mesa do presidente da Câmara Rodrigo Maia.
Interferência de Bolsonaro na PF
Não foi a primeira vez que Bolsonaro busca interferir no comando da instituição. As ameaças de trocar o diretor-geral ocorrem desde o ano passado, quando o presidente trocou diretores de uma superintendência da PF no Rio de Janeiro, além de ameaçar de tirar Valeixo do cargo. Além disso, Bolsonaro incentivou um movimento para recriação do Ministério da Segurança Pública, que poderia levar o desligamento da PF ao Ministério da Justiça comandado por Moro.
Mudança de política econômica?
Além de se preocupar com eventual desgaste político de Bolsonaro no cargo por causa de sua tentativa de intervenção na PF, os investidores também se preocupa com a permanência de outro superministro do governo. O ministro da Economia Paulo Guedes foi alvo, na noite de quinta-feira, de uma reportagem crítica da TV Record, exibida em seu telejornal do horário nobre. A emissora é aliada do governo Bolsonaro.
Na reportagem da TV Record, Guedes foi criticado por "demora em entender e agir diante da crise", "dificuldade de diálogo com Congresso", "não apresentar soluções para os mais pobres", "esquecimento da área social" e "conhecer mais do mercado financeiro do que de economia". Guedes e sua equipe é pilar da política econômica liberal do governo Bolsonaro.
Além disso, a reportagem enaltece o ministro-chefe da Casa Civil Braga Netto. O general capitaneou projeto de infraestrutura - Pró-Brasil - com objetivo de criar 1 milhão de empregos em resposta à crise do coronavírus, o qual não encontra apoio na equipe econômica,que o vê como "bomba fiscal".
O plano Pró-Brasil é para impulsionar a retomada do país com investimentos públicos após a crise do coronavírus. Com o quadro fiscal restrito, em meio a aumento de gastos para combater o avanço do coronavírus e seus efeitos deletérios da economia e perda de arrecadação, a alternativa para financiar R$ 180 bilhões de obras paralisadas até 2024, segundo o Ministério de Desenvolvimento Regional, seria por meio de aumento do endividamento público.
No entanto, Guedes é um árduo defensor da indução do crescimento por investimentos privados e seus secretários têm vindo a público nesta semana para bater nessa tecla, reiterando a importância das reformas passada a fase aguda da crise com o coronavírus.
Segundo o blog da jornalista Ana Flor, do G1, Guedes deixou de ser conselheiro econômico exclusivo de Bolsonaro, que tem mais ouvido o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, sobre questões econômicas para combater os efeitos deletérios da pandemia na crise. Nas redes sociais, Guedes é alvo de ataques por bolsonaristas, segundo a jornalista.
- Com contribuição de Reuters