Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em baixa nesta segunda-feira, contaminado pela aversão a risco global, mas distante da mínima do dia, amparado pela disparada das ações do Bradesco, após o balanço do segundo trimestre mostrar lucro líquido acima do esperado e tendências positivas para os próximos meses.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com um declínio de 0,46%, a 125.269,54 pontos, mas chegou a cair a 123.073,16 pontos no pior momento da sessão (-2,21%). Na máxima, marcou 125.850,51 pontos. O volume financeiro somou 25,4 bilhões de reais.
Divulgações recentes nos Estados Unidos reavivaram preocupações sobre o risco de recessão na maior economia do mundo, desencadeando um forte movimento de aversão a risco no exterior nesta segunda-feira, principalmente sob a tese de que o Federal Reserve possa estar atrasado no corte de juros.
Em Wall Street, o S&P 500 fechou em baixa de 3%, enquanto o rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano marcava 3,7846% no final do dia, após chegar a 3,667% na mínima da sessão, de 3,796% na última sexta-feira.
"Vemos a reação do mercado como exagerada e repercutindo um receio de uma forte e/ou grave recessão a frente, a qual vemos como altamente incerta", afirmou o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves.
Contratos futuros de juros nos EUA que medem expectativas para a política monetária do Fed precificaram nesta segunda-feira um corte na taxa de juros entre reuniões do banco central chefiado por Jerome Powell. O próximo encontro está agendado para os dias 17 e 18 de setembro.
Para economistas do Bank of America (NYSE:BAC) Securities, a economia não precisa de cortes agressivos. Eles estimam um ciclo de cortes que começa em setembro, com uma redução de 0,25 ponto percentual a cada trimestre até a taxa terminal na faixa de 3,25% a 3,5% em meados de 2026.
"Cortes agressivos de taxas de 0,50 ponto ou mais são feitos em caráter emergencial, assim como ações entre reuniões. Poderíamos chegar lá? Claro. Mas ainda não chegamos lá", afirmaram em relatório a clientes.
Eles ponderaram, contudo, que os dados podem estar dizendo que o equilíbrio de riscos mudou na direção do aumento da folga do mercado de trabalho e do risco de queda da inflação. "Se sim, então o Fed deve chegar à neutralidade rapidamente, mais rápido do que planeja", acrescentaram.
De acordo com a equipe do BofA Securities, isso poderia ocorrer na forma de cortes de 0,25 ponto em reuniões consecutivas, seguidos por uma trajetória suave para a neutralidade, o que levaria a taxa básica de juros a neutra no final de 2025.
Outro caminho seria fazer cortes de 0,25 ponto em cada reunião, o que levaria a taxa básica de juros a neutra até meados de 2025; e uma terceira via seria promover vários cortes grandes e antecipados, o que poderia levar a taxa básica de juros a neutra até o início de 2026.
Além de dados norte-americanos recentes mais fracos, em especial do mercado de trabalho, resultados e perspectivas de empresas de tecnologia aquém das expectativas, receios com a economia chinesa e efeito da valorização do iene, entre outros, também foram citados como gatilhos para o "sell-off".
DESTAQUES
- BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) disparou 7,59%, para uma máxima de fechamento desde abril, a 13,61 reais, enquanto BRADESCO ON (BVMF:BBDC3) saltou 8,3%, a 12,27 reais, também a maior cotação de fechamento desde abril, assegurando com tal desempenho um ganho de 10,1 bilhões de reais em valor de mercado. O banco reportou antes da abertura lucro líquido acima do esperado por analistas no segundo trimestre, enquanto o presidente-executivo da instituição, Marcelo Noronha, afirmou que o lucro de 2024 deve ficar acima do resultado implícito nas estimativas do banco. "No geral, vemos o banco apontando para melhores tendências futuras, o que deve apoiar nossas estimativas atuais e representar um risco potencial de alta para os números de 2025 e o ROE", destacaram analistas do Safra em relatório a clientes. No ano, as ações PN do Bradesco ainda acumulam perda de 22,81%.
- BTG PACTUAL (BVMF:BPAC11) UNIT caiu 2,9%, pior desempenho entre os bancos do Ibovespa, enquanto ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) fechou estável. SANTANDER BRASIL UNIT (BVMF:SANB11) fechou com acréscimo de 0,28% e BANCO DO BRASIL ON (BVMF:BBAS3) subiu 0,15%.
- GPA ON saltou 14,98%, ganhando fôlego à tarde, tendo no radar o balanço do segundo trimestre do dono da bandeira Pão de Açúcar (BVMF:PCAR3) na terça-feira, após o fechamento do mercado. Investidores também continuam especulando sobre o destino da participação do grupo francês Casino na rede de varejo brasileira. Na semana passada, um executivo do Casino afirmou à Reuters que o GPA não é mais estratégico e que a companhia está aberta à venda da participação, embora não exista nenhum negócio iminente envolvendo a alienação dessa fatia.
- VALE ON (BVMF:VALE3) recuou 1,06%, sucumbindo ao movimento dos mercados no exterior, descolando da alta dos preços futuros do minério de ferro na Ásia após dados da China. O contrato mais negociado em Dalian, na China, encerrou as negociações do dia com alta de 1,97%. Em Cingapura, o vencimento de referência subiu 0,57%.
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) caiu 0,08%, também contaminada pelo clima mais negativo nos mercados no exterior, onde o barril de Brent cedeu 0,66%, a 76,30 dólares.
- EZTEC (BVMF:EZTC3) ON fechou negociada em baixa de 4,24%, com papéis sensíveis a juros sofrendo com o movimento na curva de juros diante ao aumento da aversão a risco global. O índice do setor imobiliário perdeu 1,54%, enquanto o do setor de consumo caiu 0,22%. Nesse segmento, entre os destaque negativos do Ibovespa, CVC (BVMF:CVCB3) BRASIL ON recuou 5,95%