Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - Os incêndios nos canaviais do Brasil na semana passada ajudaram a elevar os preços globais do açúcar a um pico de cinco semanas e aumentaram os problemas para a próxima safra (2025/26) do centro-sul do país, que lida com uma severa seca.
Os incêndios no Estado de São Paulo, apesar dos danos causados pelas chamas serem limitados, são mais um fator negativo para o maior produtor de açúcar do mundo.
Os especialistas disseram que as usinas perderão alguma produção de açúcar devido aos incêndios e que haverá problemas para os campos queimados no próximo ano, apesar de a área atingida pelos incêndios ser relativamente pequena, considerando a extensão das lavouras no centro-sul.
"Não se trata realmente do dano (do fogo), mas é um sinal de alerta para o estado da metade posterior da safra e um alerta para a safra 2025/26", disse o corretor de açúcar Michael McDougall, de Nova York.
Cerca de 80 mil hectares de canaviais foram queimados na última semana, de acordo com dados da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). Isso representa um pouco mais de 1% da área de cana do Centro-Sul, que é de 7,65 milhões de hectares.
Parte da cana queimada provavelmente terá que ser replantada após os incêndios, disse o presidente-executivo da Orplana, José Guilherme Nogueira, o que provavelmente prejudicará a produtividade em 2025.
"Precisa analisar a soqueira (brotos ou rebrotas). Aquela cana queimada que tinha dois, três meses, claro que perde aquela cana e ela vai ter o rebroto novamente", disse Nogueira. "Mas se a queimada foi muito intensa, nem o rebroto você consegue. Tem que replantar aquele canavial, obviamente este efeito vai impactar bastante para a próxima safra."
Ele estimou que, dos 80 mil hectares queimados, 40% estavam com soqueiras.
A maior preocupação, segundo os especialistas, é que os campos continuam extremamente secos, com algumas áreas sem chuvas por 160 dias, o que também pode reduzir o potencial de produção do próximo ano. Dezenas de municípios no Estado de São Paulo continuam em alerta máximo para novos incêndios.
Nesta quinta-feira, a Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu um alerta para o risco elevado de incêndios em quase todo o Estado nos próximos dias. Entre sexta-feira e domingo, as temperaturas voltam a subir e a umidade relativa do ar deve cair, o que aumenta as chances de queimadas.
"A última vez que tivemos um período de seca tão prolongado, em 2021, o centro-sul perdeu cerca de 80 milhões de toneladas métricas de produção de cana-de-açúcar", disse Tarcilo Rodrigues, diretor da trader Bioagência em São Paulo. Ele acredita que algo semelhante poderia acontecer em 2025, acrescentando que a safra atual poderia terminar antes.
A produtividade da cana-de-açúcar colhida em julho no centro-sul do Brasil atingiu a média de 86,6 toneladas por hectare, 12,1% inferior ao mesmo mês da safra passada, com impacto da seca, o que indica cenário negativo para o volume colhido nos próximos meses da safra 2024/25, de acordo com levantamento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) divulgado nesta semana.
Arnaldo Correa, sócio da Archer Consulting, acredita que a safra atual de cana-de-açúcar pode cair para 580 milhões de toneladas, abaixo do consenso do mercado de 600 milhões a 610 milhões de toneladas.
Ele disse que algumas usinas não estão fechando novos contratos para vender açúcar devido à incerteza quanto à sua produção futura.
"Teremos um longo período de entressafra no Brasil, do final de outubro a abril", disse ele. "Com a Índia fora do mercado de exportação e os fundos muito curtos, os preços podem subir."
(Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira)