Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A empresa indiana de transmissão de energia Sterlite celebrou nesta quinta-feira o início das operações de seu primeiro projeto no Brasil, uma linha em Pernambuco orçada em cerca de 164 milhões de reais que foi concluída 28 meses antes do prazo estabelecido.
Após estrear no Brasil em um leilão de concessões de transmissão em 2017, a Sterlite gradualmente conquistou um total de 10 projetos locais. Um deles, no Rio Grande do Sul, está em construção, enquanto a maior parte dos demais deve obter ainda neste ano a licença ambiental que permite início das obras, disseram executivos da companhia.
Os empreendimentos demandarão 2 bilhões de dólares até 2023, enquanto a Sterlite tem como meta atingir um portfólio de cerca de 4 bilhões de dólares no país nos próximos anos.
"Nos próximos três a cinco anos, o Brasil deve licitar de 14 a 20 bilhões de dólares em projetos de transmissão. Se você pensar, 2 bilhões de dólares é 10 por cento disso. É um número pequeno, e nós estamos comprometidos com o Brasil", disse o presidente global da Sterlite, Pratik Agarwal, em conversa com jornalistas no escritório da empresa em São Paulo.
O presidente local da companhia, Rui Chammas, disse que trabalha agora para obter a licença de instalação do projeto Novo Estado, o maior da empresa no Brasil, orçado em 1 bilhão de dólares. O empreendimento é visto como desafiador devido a seus 1,8 mil quilômetros de extensão no Pará e Tocantis que incluem trechos em áreas de floresta.
"Novo Estado, nosso terceiro projeto, deve ter a licença nas próximas semanas. A maioria dos projetos deve ter licença de instalação neste ano ainda", afirmou.
A construção de fato do projeto no Norte, no entanto, deverá começar em março de 2020, após o período de chuvas na região, acrescentou Chammas, que destacou que com isso os anos de 2020 e 2021 serão importantes para a companhia, provavelmente com o pico de atividades de implementação de seus empreendimentos.
Ele acrescentou que a Sterlite tem avaliado com as empresas contratadas para o projeto Novo Estado a possibilidade de utilizar helicópteros para levar torres de transmissão já montadas às áreas de floresta em que elas serão instaladas, o que pode agilizar operações e reduzir impactos ambientais.
"Estamos avaliando isso junto a nossos parceiros (contratados para a construção). É algo que já fizemos na Índia", afirmou.
LEILÕES E "RECICLAGEM"
Para continuar com o crescimento no país, a Sterlite aposta principalmente nos leilões de novos projetos, onde avalia ser mais competitiva frente aos rivais, mas aquisições não estão descartadas, embora a preferência nesse caso seja por ativos com obras ainda não iniciadas ou em fase de construção, disse Agarwal.
"O desenvolvimento (de projetos) 'greenfield' é onde está nosso expertise", afirmou ele, negando que a empresa vá buscar a compra de empresas de transmissão já operacionais.
O executivo também disse que a Sterlite pode no futuro realizar operações de "reciclagem de capital" no país, vendendo projetos concluídos para investir em novos empreendimentos.
O comentário vem após a Sterlite anunciar que venderá cinco projetos de transmissão na Índia a um fundo estabelecido em 2016 por ela mesma, o India Grid (IndiGrid), que recebeu recentemente aporte da empresa de private equity KKR e do fundo soberano de Cingapura, GIC.
"No Brasil, é muito cedo para dizer. É pouco provável ativos no Brasil irem para (o fundo na) Índia, por várias questões regulatórias, mas estamos avaliando muitas outras opções, incluindo um fundo no Brasil, uma parceria com alguém. Mas é muito cedo, não temos nada neste momento", afirmou.
Ele ressaltou, no entanto, que a recliclagem de capital faz parte da estratégia global da companhia. O indiGrid possui seis projetos em operação atualmente, segundo a companhia.
(Edição de Roberto Samora)