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Indústria de transmissão de energia acende alerta com avanço chinês e recuo do BNDES

Publicado 14.10.2016, 14:35
© Reuters.  Indústria de transmissão de energia acende alerta com avanço chinês e recuo do BNDES
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Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O avanço de empresas chinesas nos negócios de transmissão de energia no Brasil e o fim de empréstimos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para compra de equipamentos poderão acirrar fortemente a disputa da indústria local com estrangeiros por contratos de fornecimento no setor.

Especialistas disseram à Reuters que o tema gera preocupação em um momento em que a indústria nacional já lida com menor demanda devido ao fracasso das licitações de novas linhas de energia nos últimos anos e à crise da espanhola Abengoa, que paralisou obras no Brasil em novembro passado por problemas financeiros, deixando contratos em aberto com fabricantes.

O avanço das elétricas chinesas para o Brasil é amplamente visto como uma estratégia de Pequim para que essas empresas possam continuar sua expansão em um momento de menor crescimento na China, abrindo espaço também para importação de equipamentos e serviços da indústria local.

"Os chineses vieram para cá esperando abrir mercados. Eles querem trazer equipamentos. Disjuntores, transformadores, cabos, eles querem trazer isso para o Brasil, não tenha dúvida", afirmou o sócio da consultoria Siseletro, Ambrosio Melek.

"O grande problema da indústria nacional é saber como eles vão competir", adicionou o especialista.

Os temores dos fabricantes vêm desde a chegada da State Grid ao país em 2011, mas cresceram conforme a empresa fechou contratos na China para parte dos equipamentos do segundo dos dois enormes linhões que a empresa construirá para escoar a energia da hidrelétrica de Belo Monte do Norte até o Sudeste.

"A gente soube que há uma decisão deles de comprar quase 50 por cento de suas necessidades de cabos para esse linhão no exterior... tudo isso afeta a indústria, que fica sujeita a uma competição com produtos importados fundamentalmente por questões de financiamento", afirmou à Reuters o presidente no Brasil da francesa Nexans, Marco Vitiello.

A Nexans estima que os dois linhões da State Grid para Belo Monte, que somarão 11 bilhões de reais de investimentos, demandarão cerca de 120 mil toneladas de cabos. Desse montante, entre 25 e 30 por cento devem vir de fora do país para atender ao segundo linhão, cujas obras ainda não começaram.

O temor dos fabricantes é que, com o recente anúncio do BNDES de que não haverá mais financiamentos pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para linhas de energia, a importação fique ainda mais interessante, principalmente para as chinesas, que têm acesso a financiamentos garantidos pelo governo do país.

Em entrevista recente à Reuters, o diretor da consultoria Upside Finance Humberto Gargiulo disse que, além da State Grid, que já tem forte atuação no Brasil, outras elétricas chinesas têm sondado ativos de transmissão no Brasil, como a Shanghai Electric e ao menos mais uma empresa oriental.

"Evidentemente, à medida que as empresas chinesas vão entrando com mais força em transmissão, vamos sempre concorrer com a possível compra de materiais no exterior... não é fácil, o custo-Brasil concorre com um produto que tem custos mais baixos", afirmou o diretor do comitê de cabos de energia da Associação Brasileira do Alumínio, George Fairman.

Ele lembrou que a disputa com os financiamentos internacionais deve apertar ainda mais as margens do setor, que já têm sido pressionadas pela valorização do real ante o dólar nos últimos meses.

Questionada sobre as compras no exterior, a State Grid afirmou que "está trabalhando com fornecedores locais e internacionais para o fornecimento de equipamentos que serão utilizados nas linhas que escoarão a produção de Belo Monte".

Como exemplo, a elétrica disse que comprou no exterior condutores e transformadores que não poderiam ser produzidos localmente.

Segundo números de seu site, a State Grid possui atualmente 5,8 mil quilômetros em linhas de energia no Brasil, ante 18,5 mil km da líder privada do segmento, a Cteep.

Em sua atuação no Brasil, a State Grid já tem se cercado de companhias orientais, como a construtora de projetos de energia SEPCO, que foi contratada para tocar obras de transmissão, e a NARI, fabricante chinesa de equipamentos que é subsidiária da State Grid na China.

Na semana passada, a State Grid obteve aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para fechar um contrato de 500 milhões de reais com a unidade brasileira da NARI, que vai fornecer serviços especializados para a integração do centro de operações do sistema da elétrica no país.

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