Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Uma pesquisa do setor de investimentos de risco divulgada nesta quarta-feira identificou um significativo percentual de investidores estrangeiros interessados em ampliar exposição a ativos brasileiros nos próximos anos, informou a associação que representa a indústria, ABVCAP.
Segundo o levantamento, 88 por cento dos investidores internacionais têm interesse em ampliar nos próximos três anos suas alocações em private equity e venture capital no Brasil ao passo que entre os investidores nacionais esse percentual foi de apenas 21 por cento.
O levantamento, feito entre abril e maio em parceria com a KPMG, reuniu 38 empresas ligadas ao setor, sendo metade nacional e metade estrangeira.
Para o coordenador do comitê de regulamentação da ABVCAP e responsável pela área de investimentos alternativos do BNP Paribas (PA:BNPP) Asset Management, Luiz Eugênio Figueiredo, a diferença entre o apetite dos investidores nacionais e estrangeiros pode ser traduzida pela cultura.
"O investidor internacional já investe nesta classe de ativos há mais longo prazo, de forma mais abrangente e estratégica. Por isso, ele é menos suscetível a eventos políticos e econômicos", disse Figueiredo à Reuters durante congresso promovido pela entidade.
"Se ele vê que tem fundamentos de longo prazo, não vai quebrar e não vai ser uma Venezuela, você vai ter bons resultados no private equity e um papel muito relevante do desenvolvimento de um país... E eles sabem que os investimentos feitos em momentos de crise têm um melhor retorno", acrescentou. "Há uma acomodação que não acontece no exterior", complementou.
Para Figueiredo, os investidores nacionais além de estarem mais impressionados pelo ambiente turbulento do país nos últimos meses, ainda carregam a cultura de olharem mais para os investimentos em renda fixa, que dão mais retorno no curto prazo uma vez que o juro está acima dos 14 por cento.
"A diferença entre os percentuais é muito cultural e o brasileiro aproveita o juro a 14 por cento e vai para renda fixa. No ciclo de queda nos juros no passado houve uma alocação dos fundos de pensão em private e venture, que foi desacelerado com o aumento das taxas de juros", disse ele.
Figueiredo acredita que a maior parte dos recursos que serão alocados nos próximos três anos no país deverá se concentrar mais em fundos generalistas, onde o gestor vai definir onde será feito o investimento, do que em fundos setoriais que estão em menor número no país.
O presidente da ABVCAP, Fernando Borges, admitiu que no primeiro semestre de 2016 houve poucas operações de fusões e aquisições e que a tendência é que o volume investido neste ano menor. Contudo, em meio a um ambiente de instabilidade global e juros baixos ou até negativos no exterior, o Brasil pode acabar se beneficiando pelo aumento da liquidez internacional.
"O grande desafio do investidor lá fora é que tem muito dinheiro e não tem onde alocar. Não dá para descartar o Brasil", disse Borges.
AMÉRICA LATINA
Já a presidente da associação latino-americana de private equity e venture capital, Lavca, Cate Ambrose, os mercados latino-americanos podem ser oportunidades de investimentos nos próximos anos visto que os Estados Unidos e a União Européia estão adotando políticas que s tornam mais fechados. Ela citou os recentes resultados das eleições presidenciais de Peru e Argentina como sinônimos de avanço e de potencial atração de recursos para a região.
"Enquanto UE e EUA caminham para governo mais fechados, na América Latina o processo é contrário. O Macri (presidente argentino Mauricio Macri) tem tido sucesso na percepção dos investidores. Tivemos eleição no Peru e o presidente eleito foi um dos primeiros gestores de fundos na América Latina", disse ela, em referência ao presidente eleito do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, ex-executivo em banco de investimentos e ex-economista do Banco Mundial.
"A América Latina está com governos mais favoráveis a empresas e investimentos", disse Ambrose.