Por Andre Romani e Tatiana Bautzer
SÃO PAULO (Reuters) - O Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) acredita que não deve ter dificuldades para obter aprovações regulatórias para a compra do controle da Avenue, corretora que fornece aos brasileiros acesso a mercados estrangeiros, disse um diretor do maior banco privado da América Latina nesta sexta-feira.
A transação foi anunciada nesta manhã e envolve a compra de 35% da Avenue por 493 milhões de reais, além de acerto para aquisição de mais de 15,1% em dois anos - com preço a ser determinado a partir de um múltiplo de receita - e opção de integralizar o restante futuramente. As operações seguirão autônomas.
Na visão de Carlos Constantini, diretor da área de Wealth Management do Itaú, o fato de ser aquisição de uma empresa do exterior, já que a Avenue opera nos Estados Unidos, facilita as aprovações. Além disso, "são focos de negócio diferentes", disse ele a jornalistas.
O Itaú tem se movimentado no mercado em 2022, após questões regulatórias terem barrado suas intenções com a XP (BVMF:XPBR31).
O banco comprou 49,9% da XP em 2018 e planejava assumir o controle da plataforma de investimentos alguns anos depois, mas o Banco Central impediu a transação por questões de defesa da competição. Depois disso, o Itaú decidiu entregar as ações da XP diretamente a seus acionistas, principalmente para evitar potenciais conflitos de interesse entre as duas instituições.
Em janeiro deste ano, o Itaú anunciou a aquisição de 50,1% da corretora digital Ideal por 650 milhões de reais, com o direito de adquirir o restante após cinco anos.
Questionado sobre a relação entre os negócios, Constantini afirmou que a Avenue tem características particulares e que a busca por sua aquisição provavelmente ocorreria independente de qual tivesse sido o cenário do banco em termos de transações nos últimos anos.
Ele disse ainda que não vê impacto da compra da Ideal nos avais necessários à conclusão da aquisição do controle da Avenue. "O fato de uma aprovação não ter saído não influencia na outra."
Às 13h10, as ações do Itaú Unibanco subiam 0,7%, enquanto o Ibovespa mostrava oscilação negativa de 0,25%.
EXPANSÃO DA AVENUE
A Avenue detém uma corretora digital de valores mobiliários norte-americana, constituída há 4 anos, e conta atualmente com mais de 229 mil clientes ativos e aproximadamente 6,4 bilhões de reais sob custódia.
A empresa, até pela questão do pouco tempo de operação, ainda queima caixa, disse o fundador e presidente Roberto Lee, que prevê métricas financeiras robustas em um "curto espaço de tempo", com a entrada do Itaú no negócio aliviando pressão em investimento para aquisição de clientes.
O Itaú tem uma operação de private banking, serviços de investimentos para pessoas ricas, que oferta produtos dos mercados internacionais e a ideia é crescer no varejo através da Avenue, segundo Constantini.
"A Avenue é um pedaço da oferta que falta no nosso ecossistema", disse ele. "É uma oportunidade de criar uma indústria." Segundo o diretor do Itaú, as conversas entre as companhias eram, de início, para uma parceria comercial e evoluíram para uma transação.
A Avenue também vê suas atividades como "muito complementares ao Itaú" e, segundo Lee, não haverá troca de equipes na empresa. Além disso, os atuais investidores seguem na companhia, mas com participação diluída.
A corretora tem planos para expandir seus produtos financeiros, "quem sabe em crédito e seguros", afirmou seu presidente. A Avenue deve lançar "em semanas" uma funcionalidade de transferências internacionais, começando com a operação entre contas de mesma titularidade, de acordo com o executivo.
Lee também não descarta um IPO em alguns anos, ainda que classifique a opção como "futurologia". O direito de compra de 100% da Avenue pelo Itaú em cinco anos é com base no valor econômico da empresa, esclareceram os executivos.
Sobre a integração entre as companhias, que deve ganhar tração apenas após as aprovações regulatórias, Constantini, do Itaú, disse que é muito cedo para falar qual deve ser a participação da Avenue nos clientes do banco. Segundo ele, em média, a diversificação de investimentos no exterior é de 25% na área de private banking, "mas não acho que o varejo vá buscar esses 25%", ressaltou, citando fatores como menos recursos e familiaridade com os produtos internacionais.
O diretor do Itaú ainda afirmou que o segmento de agentes autônomos é outro em que o banco vê como uma "peça" que falta no grupo e que estão "analisando opções", mas não deu mais detalhes.