Os juros futuros fecharam o dia em queda, como resultado da leitura da ata do Copom combinada à expectativa de votação ainda nesta quarta-feira, 3, da PEC dos Precatórios na Câmara. No documento, diretores admitiram terem avaliado na última reunião a possibilidade de uma alta da Selic maior do que a de 1,5 ponto porcentual aplicada na semana passada, o que consolidou na curva as apostas de uma aceleração no ritmo de aperto nas próximas reuniões. Inicialmente, a ponta curta reagiu com avanço firme, mas, na medida em que crescia a movimentação em Brasília indicando esforço para a votação do texto, os curtos inverteram o sinal, dada a avaliação de que a política monetária está refém da política fiscal.
Do exterior, declarações consideradas "dovish" do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, puxaram ainda mais para baixo as taxas na reta final da sessão regular, em entrevista coletiva após a reunião da instituição, cujo comunicado foi considerado dentro do previsto. O Fed confirmou as previsões, anunciando que o tapering começa este mês, com redução de compras em US$ 15 bilhões.
Apesar do alívio, boa parte das taxas segue rodando na casa dos 12%, com inclinação negativa em alguns trechos. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 8,38%, de 8,397% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 12,296% para 12,09%. A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 12,03% (12,496% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,04%, de 12,534%.
O economista-chefe do Banco Original, Marco Antônio Caruso, considera que a questão da PEC na sessão de hoje teve um pouco mais de relevância para o mercado, na medida em que a leitura da ata deixa claro o quanto a política fiscal é determinante nas apostas para a Selic. "Quando se lê a ata, fica bem explícito o que o Roberto Campos Neto já tinha dito, que a política monetária é passageira da política fiscal", disse Caruso.
Na ata, os diretores afirmam que o "esmorecimento no esforço de reformas" e "alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural" e que "a assimetria no balanço de riscos, resultante dos desenvolvimentos no cenário fiscal, implica elevação do risco altista para as projeções do seu cenário básico" e que "esse viés de alta é agora maior do que o anteriormente considerado". O documento traz ainda que o Comitê avaliou cenários com ritmos de ajuste maiores do que 1,5 ponto, prevalecendo, no entanto, a visão de que trajetórias de aperto em tal passo, considerando taxas terminais diferentes, são consistentes, neste momento, com a convergência da inflação para a meta em 2022.
Desse modo, pela manhã a curva chegou a precificar 215 pontos de avanço na Selic no Copom de dezembro, mas por volta de 15h30, com as taxas curtas já tendo invertido a alta, esse prêmio desacelerava a 204 pontos, mas ainda mostrando chances de aumento de mais de 2 pontos. "Não podemos descartar uma alta de 150 pontos na próxima reunião mas se assumirmos somente essas duas possibilidades as probabilidades seriam de 84% para 200 e 16% para 225", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
A curva como um todo começou a melhorar no meio do dia, conforme o noticiário informava sobre o vaivém relacionado à votação da PEC, da qual depende a definição do programa Auxílio Brasil. Várias reuniões de lideranças, costuras de acordos e convocações para o plenário fizeram crescer o otimismo em relação à aprovação, já que a alternativa a um fracasso do texto - risco de novo estado de calamidade e despesas sem freio - seria muito pior para as contas públicas. "De alguma maneira, a PEC gera algum tipo de constrangimento ao aumento das despesas, ao contrário das 'outras soluções' que escancararam que é muito fácil mudar as regras para aumentar gasto", avaliou Caruso. "Mesmo se passar, não acho que os prêmios da curva voltam ao que eram antes, mas ainda assim teremos algum alívio", acrescentou.