Os juros futuros fecharam a segunda-feira em baixa, influenciadas pelo impulso dos ativos no exterior e ajustes de posições antes do IPCA de agosto amanhã. A mediana das estimativas para o dado cheio (0,28%) é considerada relativamente alta para os padrões recentes, o que daria margem a apostas mais otimistas. Além disso, a perspectiva é positiva para o desempenho de alguns preços na abertura, como serviços, aos quais o Banco Central dedica atenção especial. Com isso, a curva doméstica superou a pressão dos Treasuries, amparada ainda no comportamento do dólar, que caiu mais durante à tarde.
No fechamento da sessão, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,495%, de 10,535% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026, taxa de 10,16%, de 10,21% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2027 passava de 10,45% para 10,39%, e a do DI para janeiro de 2029, de 10,96% para 10,91%. O DI para janeiro de 2031 fechou com taxa de 11,19%, na mínima, de 11,25%.
Até o meio da tarde, os juros tinham o desempenho mais tímido entre os ativos domésticos, travados entre o recuo do dólar, o avanço dos rendimentos dos Treasuries e a expectativa pelo IPCA. Em meados da etapa vespertina, porém, passaram a cair, com o mercado tentando se antecipar a uma eventual surpresa do IPCA. O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, lembra que o IPC-S da primeira quadrissemana de agosto e a primeira prévia do IGP-M, divulgados hoje, vieram bastante baixos. Ambos se mantiveram no campo deflacionário, com variações de -0,02% e -0,50%, respectivamente. "O mercado tem uma expectativa de IPCA relativamente alta para amanhã e pode estar se posicionando para um número mais baixo", disse.
Na pesquisa do Projeções Broadcast, a mediana é de 0,28%, mais do que o dobro da inflação de julho, de 0,12%. Os principais impactos, dizem os economistas, devem vir do fim do desconto nas tarifas de energia e do reajuste da gasolina no mês passado, mas podem estar sendo superestimados. Para a média dos núcleos, a pesquisa aponta taxa de 0,30% (0,18% em julho). Por outro lado, é esperada ampliação da queda em alimentação no domicílio (-0,72% para -1,08%); preços livres devem ir para o campo negativo (0,00% para -0,06%); e serviços, desacelerar a alta (0,25% para 0,15%).
A dúvida é saber até que ponto o IPCA poderá alterar o cenário de apostas para o Copom. A expectativa de que o ritmo das próximas reuniões deve ser mantido nos atuais 50 pontos-base vem se consolidando, na medida em que as projeções futuras não só pararam de melhorar como vêm piorando, ainda que a conta gotas, nas últimas semanas. No Boletim Focus desta segunda-feira, a mediana de IPCA para 2023 passou de 4,92% para 4,93% e a de 2024, de 3,88% para 3,89%. Para 2025 e 2026, mantiveram-se em 3,50%. Todas elas estão acima das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
"É improvável que o BC venha a alterar o ritmo de queda este ano", diz o estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG), Luciano Rostagno, acrescentando que o discurso "hawkish" do Federal Reserve e o PIB do segundo trimestre melhor do que o esperado também desautorizam ampliação da dose.
Os vencimentos longos ainda tiveram algum estímulo do ambiente externo para exibir um viés de queda. A melhora na perspectiva para a economia da China, após leitura dos dados de inflação e empréstimos e de medidas do governo, favoreceu commodities metálicas e agrícolas, pressionando o dólar para baixo. Os juros dos bônus no exterior, porém, tiveram alta firme. O rendimento do japonês JGB de 10 anos atingiu o maior nível desde janeiro de 2014, a 0,705%, o que também se refletiu em juros de títulos europeus e americanos.