Os juros futuros fecharam a sexta-feira em queda, devolvendo hoje os prêmios acumulados ontem na curva, principalmente nos vértices intermediários, mais sensíveis à política monetária nos próximos meses, também ontem os que mais tinham avançado. O cenário externo teve maior peso na dinâmica das taxas, que acompanharam o alívio nos rendimentos dos Treasuries, com ajuda da leitura positiva dos preços de abertura do IPCA-15 de março, apesar do índice cheio ter superado levemente a mediana das estimativas.
Os receios sobre uma crise no sistema financeiro que possa contaminar a economia real cresceram hoje por causa da sinalização emitida pela disparada do Credit Default Swap (CDS) do Deutsche Bank, na esteira dos problemas já conhecidos em três bancos nos EUA e do Credit Suisse (SIX:CSGN). O mercado voltou a ampliar fichas na aposta de corte para a Selic, inclusive para o Copom de maio. Na semana, a curva registrou perda de inclinação, com leve avanço da ponta curta e queda nas demais, ante os níveis da última sexta-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,06%, de 13,18% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,12% para 11,93%, pela primeira vez abaixo de 12% desde 7/11/2022, quando encerrou a 11,95%. O DI para janeiro de 2027 fechou a 12,20%, de 12,37% ontem. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 12,75%, de 12,84%.
As preocupações com a escalada dos conflitos entre o Banco Central e o governo após o comunicado do Copom que ontem puxaram as taxa para cima hoje foram colocadas em stand by, dando lugar à cautela com a situação do sistema financeiro global. "Há medo de contaminar a atividade e a desaceleração ser mais forte que o antecipado", resume o economista da BlueLine Asset Flávio Serrano.
A nova onda de tensão foi deflagrada pelo avanço do CDS, um instrumento de proteção contra calotes, do Deutsche às máximas em quatro anos, para perto de 200 pontos. Na linha dos discursos de outras autoridades buscando passar uma mensagem de tranquilidade após os casos do Credit Suisse, Signature Bank e SVB, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse não haver motivos para preocupações.
Ao mesmo tempo, sugiram relatos de investigações contra o UBS nos Estados Unidos, por supostamente ter contribuído com oligarcas russos para burlar sanções. Os custos do Credit Default Swap (CDS) em dívidas subordinadas de 5 anos do UBS subiram 35 pontos entre hoje e ontem, para 336 pontos, segundo informações da S&P Market Intelligence.
Apesar do recado duro do Copom, o mercado voltou a aumentar as apostas no ciclo de afrouxamento da Selic, com a crise dos bancos elevando as chances de postura dovish dos bancos centrais das economias principais. As ferramentas do CME Group mostram quase 100% de probabilidade de manutenção dos juros pelo Federal Reserve no encontro de maio e para a reunião de junho, a chance de corte já é majoritária. Aqui, o mercado recolocou a possibilidade de queda da Selic em maio, ontem zerada, em 20% para uma queda de 25 pontos-base. Para junho, essa probabilidade sobe para 40%. Para o fim de 2023, a curva aponta Selic em 12,25% e para o fim de 2024, em 10,25%. Os números são da BlueLine. Ontem, a curva indicava Selic perto de 12,50% para o fim deste ano e de 12% no fim do ano que vem.
A leitura dos dados do IPCA-15 de março foi benigna, ainda que o índice cheio, de 0,69%, tenha vindo acima da mediana das estimativas (0,67%). "Apesar da surpresa para cima, a inflação cedeu em comparação com a prévia de fevereiro (0,76% m/m) e o fechado de fevereiro (0,84% m/m)", avaliam os economistas da Terra Investimentos. O índice de difusão caiu, a média dos núcleos desacelerou e ficou abaixo da mediana estimada e os preços de serviços também subiram menos, ainda que sigam em patamar elevado no acumulado em 12 meses. Ainda assim, para a equipe da gestora, é prematuro comemorar a melhora da abertura da inflação, tomando-a como uma inflexão na tendência.