Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - O primeiro leilão de transmissão de energia no Brasil deste ano surpreendeu ao ter seus dois maiores projetos vencidos por empresas menos tradicionais no setor, que desbancaram propostas oferecidas por grandes grupos do setor elétrico.
Maior projeto do certame, o lote 2 foi arrematado pela Rialma Administração e Participações com um desconto de 51% ante o valor máximo de receita permitida, acima do oferecido por sua rival na disputa viva a voz, a Engie Brasil Energia (BVMF:EGIE3).
A empresa, que atua nos segmentos de energia, agropecuária e mineração, se comprometeu a construir 1,6 mil quilômetros de linhas de transmissão entre Bahia e Minas Gerais, com 4,35 bilhões de reais em investimentos estimados.
Já o segundo maior empreendimento do leilão, o lote 1, foi arrematado pelo consórcio Gênesis, formado pelas empresas The Best Car Transporte de Cargas e Entec, com um deságio de 66,18%. A oferta ficou muito acima da apresentada por outros grandes grupos interessados no ativo, como Eletrobras (BVMF:ELET3), ISA Cteep e Neoenergia (BVMF:NEOE3).
Em coletiva de imprensa após o leilão, o CEO do consórcio Gênesis, Denis Rildon, afirmou que o grupo, apesar de desconhecido, tem experiência e conhecimento "muito vasto" do setor elétrico e do processo licitatório.
"Precisamos ter responsabilidade prévia, durante e pós... E em questão de execução, será cumprida com a garantia de fiel cumprimento e a execução será tão boa e tão séria quanto as (empresas) que já estão há muito tempo (no setor)", disse.
Ele também disse que o consórcio já garantiu financiamento para fazer frente aos investimentos bilionários previstos no projeto, mas não entrou em detalhes.
"Esse grupo veio para ficar...", disse Rildon.
Diretores da agência reguladora Aneel também buscaram tranquilizar uma eventual preocupação quanto à capacidade de novos entrantes de colocar os projetos de pé.
Sandoval Feitosa, diretor-geral da Aneel, destacou que as regras dos leilões foram aperfeiçoadas após experiências ruins no passado com empresas desconhecidas e que se tornaram inadimplentes.
Já o diretor da Aneel Fernando Mosna observou que os empreendedores têm que apresentar garantias de fiel cumprimento para participarem dos certames e que, caso o vencedor do lote não passe no processo de habilitação, a Aneel poderá convocar o segundo colocado na disputa --no caso do lote 1, a ISA Cteep.
VENCEDORES
Apesar disso, as grandes empresas também conseguiram sair vencedoras em outros lotes. A Eletrobras levou para casa um lote de transmissão em Minas Gerais, com 786,62 milhões de reais em aportes previstos.
A Engie conquistou um grande lote entre Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, com 2,67 bilhões de reais em investimentos.
Já a ISA Cteep venceu um projeto de 2,34 bilhões em investimentos e outro de menor porte, para reforços em uma subestação.
Também marcaram presença empresas de controle estrangeiro, como a indiana Sterlite, a chinesa State Grid e a Neoenergia. A estatal mineira Cemig (BVMF:CMIG4), as transmissoras Taesa (BVMF:TAEE11) e Alupar (BVMF:ALUP11) e investidores de perfil financeiro como XP (BVMF:XPBR31) e BTG (BVMF:BPAC11) também participaram, mas não levaram nenhum lote.
Ao todo, os empreendimentos leiloados nesta sexta-feira preveem a construção de 6.184 quilômetros de novas linhas e reforços em uma subestação com capacidade de transformação de 400 mega-volt-ampéres (MVA).
O certame é o primeiro de três licitações que serão realizadas até 2024 visando reforçar a capacidade de escoamento de energia renovável gerada principalmente na região Nordeste para centros de carga do Sudeste e Sul.
O governo vai realizar mais um leilão de transmissão neste ano, mas resolveu adiar a data do certame de outubro para dezembro, informou a Aneel nesta sexta-feira.
O próximo certame será o maior da história, com cerca de 20 bilhões de reais em investimentos estimados.
Apesar do grande interesse do mercado em investir no segmento, o elevado volume de projetos que serão desenvolvidos ao mesmo tempo no país pode criar gargalos. A capacidade da indústria fornecedora de equipamentos tem sido apontada como um dos principais pontos de atenção para os empreendedores.
(Por Letícia Fucuchima)