BRASÍLIA (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente a administração da Vale (BVMF:VALE3) e cobrou mais responsabilidade da mineradora, tanto no pagamento de ações indenizatórias quanto na produção, e diz que empresas precisam se alinhar ao modelo de desenvolvimento do governo.
"O que nós queremos é que a Vale tenha mais responsabilidade. Inclusive a quantidade de minas que está na mão da Vale e que ela não explora há mais de 30 anos e fica funcionando como se fosse dona e vendendo. A Vale, ultimamente, está vendendo mais ativo do que produzindo o minério de ferro", criticou, em entrevista para a RedeTV! na noite de terça-feira.
"O dado concreto é que o potencial do Brasil tem que ser explorado e a Vale não pode ter o monopólio. A Vale tem que ser mais uma empresa. Ela é maior, que trabalhe mais."
Lula negou que tenha tentado interferir na sucessão para a presidência da companhia e que tenha discutido o tema. No entanto, fontes ouvidas pela Reuters confirmaram que o presidente gostaria de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no comando da companhia.
A resistência dos acionistas terminou por engavetar a ideia, já que o governo sozinho não tem poder para garantir seu candidato na sucessão.
Uma das razões para o presidente tentar influenciar na sucessão da empresa é a discordância com decisões administrativas.
"A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil. Ela não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então, o que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos", cobrou.
Procurada, a Vale afirmou que não faria comentários sobre as falas do presidente.
Lula tem feito diversas críticas públicas contra a Vale, inclusive cobrando ações de reparação e compensação por rompimentos de barragens de rejeitos.
No caso do rompimento de estrutura da mineradora em Brumadinho (MG), em 2019, foram indenizadas mais de 15,4 mil pessoas do municípios e outros próximos, totalizando 3,5 bilhões de reais em pagamentos de indenizações cíveis e trabalhistas, além do fechamento do acordo coletivo de quase 38 bilhões de reais com autoridades.
Já no caso do rompimento de barragem da Samarco, joint venture da Vale com a BHP, até dezembro passado, foram destinados 34,7 bilhões de reais em ações de reparação e compensação a cargo da Fundação Renova (BVMF:RNEW11), responsável por gerir os trabalhos. Nesse caso, um acordo global ainda está em negociação entre mineradoras e autoridades.
Lula voltou a criticar a privatização da Eletrobras (BVMF:ELET3) durante o governo de Jair Bolsonaro, um tema que tem sido seu assunto desde a campanha eleitoral, e que chamou de "crime de lesa-pátria".
No entanto, o presidente garantiu que não irá tentar reverter a privatização, o que chegou a ser aventado e estudado pelo governo. Uma das alternativas seria recomprar ações que foram colocadas no mercado, já que a forma de privatização foi a de venda de ações pertencentes ao governo federal e diluição da sua participação.
"Não, porque também não vai gastar dinheiro do povo nisso agora. Eu tenho coisa mais importante para fazer, Não vou ficar utilizando o dinheiro", afirmou quando perguntado se poderia tentar reverter.
(Reportagem de Lisandra ParaguassuEdição de Eduardo Simões e Pedro Fonseca)