Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A temporada de balanços do terceiro trimestre prevista para começar no Brasil na próxima semana deve mostrar resultados sólidos das companhias atreladas a commodities e ao mercado externo, enquanto aquelas com foco doméstico podem refletir o quadro político-econômico ainda difícil no país, mas com algumas exceções, de acordo com prévias compiladas pela Reuters.
"Esperamos crescimento dos lucros no terceiro trimestre, continuando a tendência observada nos últimos trimestres, porém abaixo do potencial uma vez que a incerteza política pesou de certa forma na atividade no Brasil", avalia a equipe de estratégia e análise da XP Investimento, liderada por Karel Luketic, conforme relatório a clientes enviado a clientes nesta sexta-feira.
O trimestre teve forte volatilidade no cenário eleitoral, em meio ao embate jurídico envolvendo a participação na disputa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, além das incertezas sobre o desfecho da votação dado o elevado percentual de indecisos nas primeiras pesquisas e relativa paralisação em votações no Congresso Nacional.
Do lado macroeconômico, os três meses encerrados em setembro viram o dólar subir 4 por cento ante o real e queda nos preços de commodities, como o cobre, milho, soja e açúcar. Dados de atividade e emprego no país também seguiram mostrando desempenho fraco nos últimos meses. O IBC-BR acumulado em 12 meses até agosto mostrou alta de apenas 1,50 por cento.
Para os estrategistas do Santander Brasil Daniel Gewehr e João Noronha as companhias brasileiras devem mostrar outro conjunto de resultados consolidados "decentes" no período. Dentro do seu universo de cobertura total, eles estimam aumento de 26,3 por cento no Ebitda, enquanto o lucro líquido por ação deve crescer 9,6 por cento. "Em termos de difusão, nós esperamos crescimento de dois dígitos no Ebitda de 9 dos 17 setores, com apenas um (agronegócio) mostrando declínio ano a ano e aumento de dois dígitos do lucro líquido em 8 setores."
A equipe do Itaú BBA avalia que o Brasil deve mostrar um desempenho melhor na América Latina, como no segundo trimestre. Os estrategistas liderados por Gregorio Tomassi preveem expansão de 30 por cento no Ebitda do terceiro trimestre, com aumento de 55 por cento no lucro líquido. Para o México, projetam alta de 9 por cento no Ebitda, mas queda de 8 por cento nos lucros.
A equipe de estratégia e análise de ações do Morgan Stanley (NYSE:MS) para América Latina calcula elevação de 10 e 51 por cento (em dólar) no Ebitda e no lucro por ação, respectivamente, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
O avanço de 9 por cento do Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, que reúne as empresas mais líquidas e com maior valor de mercado negociadas na bolsa brasileira, no período de julho a setembro, corrobora as expectativas positivas para a safra de balanços, embora fatores políticos e externos também tenham influenciado o movimento.
"Esperamos que a tendência positiva (nos balanços) acelere nos próximos trimestres, com recuperação gradual das expectativas", afirma a XP.
SETORES
A partir de uma compilação de 153 empresas de 18 setores listadas em bolsa na América Latina, a equipe de estratégia do Morgan Stanley liderada por Guilherme Paiva destaca que as companhias no setor siderúrgico devem divulgar números bons no terceiro trimestre, na esteira do aumento dos preços de aço no mercado doméstico e melhora em volumes.
Fabricantes de papel e celulose também estão entre os destaques positivos de Paiva, em razão de maiores exportações, preços de celulose estáveis e real mais fraco. Tal percepção poderá ser confirmada ou não logo no começo da temporada, uma vez que Fibria (SA:FIBR3) é uma das empresas que abre o calendário das companhias listadas no Ibovespa no próximo dia 24.
Também na quarta-feira estão previstos os resultados de Localiza (SA:RENT3), Vale (SA:VALE3), Via Varejo (SA:VVAR11) e WEG (SA:WEGE3)
Para Via Varejo, a XP Investimentos aguarda um resultado fraco, citando que, apesar de crescimento de vendas online e venda mesmas lojas, as "margens devem ser deterioradas pela dificuldade na implementação de novo sistema de vendas". Os concorrentes Magazina Luiza e B2W (SA:BTOW3), por sua vez, estão entre os destaques positivos da XP.
Os estrategistas do Banco Santander Brasil (SA:SANB11) calculam expansão de 46 por cento no Ebitda das empresas cíclicas globais, enquanto as empresas voltadas ao mercado doméstico devem entregar expansão de 9,7 por cento.
A visão da equipe da XP endossa tal prognóstico, uma vez que avalia que a depreciação do real continuou a contribuir positivamente para os resultados de nomes relacionados a commodities, como Vale, Suzano (SA:SUZB3), siderúrgicas e frigoríficos. Já as companhias áreas - Gol (SA:GOLL4) e Azul (SA:AZUL4) - devem vir com as margens pressionadas pelo real depreciado e custo de combustível mais elevado, destaca a XP.
Para os analistas do Itaú BBA, entre os setores guiados pela demanda doméstica, bancos, bens de capital e varejo devem apresentar bons resultados.
Do lado negativo, a equipe do Morgan Stanley lista o setor de educação, companhias de saneamento e energia e de bebidas.
No caso de educação, o analista do banco norte-americano avalia que Estácio (SA:ESTC3) deve continuar sendo o único participante com evolução positiva de margem, apesar do mercado pressionado no processo de matrícula do terceiro trimestre, o que deve se refletir em menores volumes, preços e margens entre as companhias de ensino.