Por Brad Haynes e Alberto Alerigi
SÃO PAULO (Reuters) - Os estandes cheios de metais brilhantes são menores do que em outros tempos e modelos totalmente novos são raros. Até a maior parte das previsões de recuperação das vendas foi modesta, para combinar com o clima da abertura do Salão do Automóvel de São Paulo deste ano.
Isso tudo reflete a crise que abala o mercado automobilístico brasileiro, que já foi o quarto maior do mundo. Desde que atingiu os 3,8 milhões de veículos em 2012, o mercado diminuiu quase pela metade.
Executivos procuraram mostrar otimismo. A maioria disse que o esperado fim da recessão no ano que vem permitirá crescimento de um dígito para o mercado, o primeiro aumento de vendas em cinco anos.
Ainda assim poucos pareceram prontos para fazer novas apostas em um mercado em que as montadoras investiram bilhões em novas fábricas às vésperas da recessão. Mais da metade da capacidade produtiva no Brasil está ociosa.
A Volkswagen anunciou que vai investir 7 bilhões de reais até 2020, ante plano anterior de 10 bilhões entre 2014 e 2018, disse o presidente-executivo da montadora no Brasil, David Powels.
O novo presidente da Ford para a América do Sul, Lyle Watters disse que a montadora norte-americana planeja se recuperar após ter caído do quarto para o sexto lugar no mercado, mas não explicou como.
"Eu não saio da cama de manhã para estar em sexto lugar", disse Watters. O único novo modelo anunciado por ele, o Mustang, começará a ser importado para o Brasil em 2018.
Watters e outros executivos que estão projetando uma recuperação aumentaram seu otimismo para o segundo semestre do ano que vem, uma vez que as taxas de juros deva recuar ainda mais após máximas em um década e a taxa de desemprego, de dois dígitos, deve diminuir.
As previsões mais agressivas vieram de marcas posicionadas para capturar uma fatia do crescente segmento de veículos esportivos utilitários, especialmente os compactos e os crossovers.
A Jeep, divisão da Fiat Chrysler Automobiles visa vender 90 mil veículos no Brasil ano que vem, ante os 60 mil deste ano, conforme aumenta a produção doméstica do Compass, segundo o diretor para América Latina, Sergio Ferreira.
As vendas de modelos SUV devem crescer mais de 17 por cento do mercado brasileiro no ano que vem, disse Ferreira, uma alta ante 15 por cento este ano. Isto é mais que o dobro do crescimento dos 7 por cento vistos em 2012, antes de a Jeep construir sua fábrica no Nordeste.
O cenário mais otimista para o mercado, que destoa das outras projeções, veio da General Motors (NYSE:GM), dona da Chevrolet, que passou a Fiat este ano como a marca mais vendida no Brasil pela primeira vez em uma década.
A GM, que está trazendo seu SUV Tracker para o Brasil, espera que os brasileiros comprem 2,4 milhões de novos carros e picapes leves em 2017, uma alta ante os 2,1 milhões deste ano, disse o presidente da GM no país, Carlos Zarlenga.
Isto ainda está muito longe dos 3,8 milhões de vendas em 2012.
"Nós achamos que o mercado vai acelerar no segundo semestre do ano", disse Zarlenga.
Poucos estão contando com um ritmo de crescimento tão rápido no que a Anfavea, associação que representa as montadoras, considera agora o sétimo maior mercado automobilístico do mundo.
Mas a Toyota, que triplicou sua parcela de mercado durante a crise, para 9 por cento, e aumentou as vendas em 1 por cento este ano, disse nesta terça-feira que planeja aumentá-las de novo em 1 por cento no próximo.
O principal executivo da Toyota na América Latina, Steve St. Angelo, está entre os que estão contando com uma aceleração do mercado, que há muito tempo está estagnado ou recuando. Em uma entrevista antes do salão, ele disse à Reuters esperar que, no geral, o mercado brasileiro cresça em torno de 5 por cento ano que vem.