Arena do Pavini - A Movida, empresa de locação de veículos que estreou no Novo Mercado no ano passado, registrou lucro líquido de R$ 39,9 milhões no segundo trimestre, valor 258,6% maior que no mesmo período do ano passado. Com isso, o retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 10,7%, superando em 5,2% o custo da dívida da empresa. “Nosso retorno passou a superar o custo da dívida, ou seja, estamos criando valor para o acionista”, afirma Edmar Lopes, diretor financeiro da companhia. Ele admite que o retorno ainda é baixo em relação à concorrência, mas destaca que a tendência é de melhora. “Estamos no quarto trimestre de melhora dos resultados”, destaca Lopes.
Melhora nas informações ao acionista
Além da melhora do resultado, a Movida está promovendo um movimento de aproximação com os acionistas e o mercado de pessoas físicas que investe em bolsa. Para isso, está integrando todo o conteúdo de relações com investidores (RI), as informações e dados da empresa, nas plataformas de mídia social da companhia, como Facebook e Linkedin. “Como empresa de varejo, já somos bastante ativos em comunicação com o público e nessas plataformas e agora queremos plugar nosso RI nelas”, afirma. “Queremos estar mais perto do nosso cliente, que também pode ser nosso investidor”, explica Lopes. “Tem investidor que é usuário do aluguel de carros e usuário que é potencial investidor”, afirma.
Hoje, 65,6% das ações estão nas mãos da controladora da empresa, a JSL (SA:JSLG3), que comprou a Movida em 2013. Depois, há um fundo de investimentos americano, a Van Eck Associates, com 5,7% da companhia, e os 28% restantes estão pulverizados no mercado, com fundos e pessoas físicas.
Marca influencia o investidor
A empresa acredita que o conhecimento da marca ajuda na referência do cliente, não só para tomar a decisão pelo produto, mas para decidir o investimento. “Temos grandes clientes institucionais, mas queremos ampliar nossa base, além das milhares de pessoas físicas que hoje já possuem ou negociam nossas ações”, diz. “Se temos 600 mil CFPs na bolsa, ou 200 mil ativos apenas, que seja, podem ser 200 mil investidores na Movida”, afirma Lopes. “E, como empresa de varejo, estamos preparados para o outro lado dessa maior abertura ao público, que são as críticas”.
Expectativa de alta no payout
Para atrair esse investidor, além dos canais de comunicação, a Movida pretende melhorar a remuneração dos acionistas, afirma Lopes. Ele lembra que quando a empresa abriu o capital, comprometeu-se a pagar apenas o mínimo de 25% de dividendos sobre o lucro em 2017 e 2018. Já em 2019, dependendo dos resultados, a companhia pensa em melhorar esse percentual do lucro distribuído, o chamado “payout”. “Para o ano que vem, esperamos aumentar o payout pois sabemos que o setor é historicamente um bom pagador de dividendos”, diz o executivo. Além disso, a empresa tem pago juros sobre capital próprio semestralmente para antecipar a remuneração dos investidores.
Lopes destaca a melhora no resultado da Movida deste a abertura de capital. No início, a empresa se preocupou muito com o crescimento, o que afetou sua rentabilidade. Mas, desde o segundo semestre do ano passado, as prioridades mudaram. “Passamos a focar menos no crescimento e mais na eficiência, no controle, na gestão e na execução”, explica.
O trimestre passado foi o quarto seguido de melhora nos resultados. “E batemos vários recordes, como o crescimento nas receitas do “rent a car” (aluguel de veículos para pessoas) de 17% em um ano e do aluguel de frotas de 45%, chegando a 20.700 carros.
Lucro do semestre supera o de todo o ano passado
A geração de caixa, medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida ou Ebitda) foi de R$ 118 milhões no trimestre. Já o lucro líquido no primeiro semestre atingiu R$ 67 milhões, mais que o resultado de todo o ano passado, de R$ 66 milhões. E isso mesmo com a paralisação dos caminhoneiros no fim de maio, que afetou os negócios. “Nem estamos fazendo estimativas do que perdemos com a greve, e que não temos como recuperar, mas os números mostram que evoluímos onde estávamos com dificuldades”, diz.
Reforço de caixa
A Movida anunciou um aumento de capital em junho, de R$ 300 milhões, que deve reforçar o caixa da empresa e dar mais tranquilidade neste ano. “Estamos com uma abordagem cautelosa ao mercado, até pelo cenário mais incerto, por conta das eleições, mas já temos R$ 200 milhões do controlador, a JSL, e R$ 100 milhões viriam do mercado”, estima Lopes. Com isso, a empresa terá recursos para quitar os débitos que vencem nos próximos 12 meses. A Movida está também alongando sua dívida, de um prazo ponderado pelos vencimentos (duration) de 15 meses para 3 anos. “Estamos nos preparando para todos os cenários.”
Mudanças na sociedade favorecem a locação de carros
Lopes reforça o potencial do negócio diante das mudanças da economia e da própria sociedade. Ele lembra que aumenta o número de pessoas que não querem mais ter carro, por causa do trânsito, do custo, da poluição ou simplesmente por princípio, e preferem alugar um no fim de semana para viajar. Há ainda os motoristas de aplicativos que, em vez de comprar um carro, alugam. “Esse é um mercado que cresce 10% a 15% ao ano”, estima Lopes. Para acompanhar essas mudanças, a empresa criou o Movida Mensal Flex, que segue o modelo americano de leasing, no qual a pessoa aluga o carro por um mês e pode ter desconto de acordo com o prazo ou o uso do veículo. “Há uma mudança, não há mais a necessidade da posse do carro.”
Com as empresas, o objetivo é reduzir custos e focar na atividade principal, liberando também capital. “Tudo isso cria oportunidades para um setor que cresceu 45% a 50% em quatro anos, enquanto a economia encolhia”, diz.
Consolidação por crescimento orgânico
Lopes acredita que o setor de locação de veículos ainda tem muto para se consolidar no Brasil, mas esse movimento não será por compras de empresas. “Temos três empresas hoje em bolsa que ficaram muito grandes, nós, a Localiza (SA:RENT3) e a Locamérica (SA:LCAM3), e os pequenos ficaram muito pequenos e sem escala”, explica. No caso, a Movida tem 60 mil carros para aluguel (rent a car) enquanto o concorrente menor tem 30 mil e o terceiro, 6 mil. “A diferença é muito grande e a tendência é crescermos organicamente conquistando esse mercado dos pequenos”, explica.
Já no segmento de frotas, o mercado é mais fragmentado, mas a consolidação também deve vir com o tempo. “Temos a vantagem da escala e o acesso ao mercado de capitais que nos ajuda a financiar esse crescimento”. Por isso também o interesse em incentivar que mais investidores pessoas físicas participem do mercado de capitais. “Se o mercado de capitais avança, é bom para todos, para as empresas, para os investidores e para os clientes.”
Por Arena do Pavini