A segunda fase do open banking, que foi adiada para agosto, vai abrir definitivamente o caminho para o desenvolvimento de novos produtos e serviços financeiros no Brasil. O open banking é um sistema de compartilhamento de dados, informações e serviços financeiros pelos clientes bancários em plataformas de tecnologia, mediante autorização. A ideia é que, com o compartilhamento, os clientes possam ter acesso a melhores taxas, prazos e serviços financeiros.
Embora os efeitos não sejam instantâneos, a expectativa do Banco Central é de que o novo sistema mude a forma como o brasileiro compra imóveis, adquire planos de previdência e investe seu dinheiro. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor de Regulação do BC, Otavio Ribeiro Damaso, projeta maior facilidade de acesso ao crédito imobiliário com o open banking. Além disso, a partir da quarta fase, quando o sistema se transformará no open finance, Damaso espera que haja redução de custos para quem acessa fundos de investimento e planos de previdência privada.
Por que motivo houve o adiamento da segunda fase para 13 de agosto? Isso vai atrasar as fases posteriores?
Foi um ajuste muito pontual, a pedido da governança do próprio open banking (estrutura criada por imposição do BC e gerida pelo mercado financeiro para monitorar o sistema 24 horas por dia, 7 dias por semana, e garantir a sua segurança), que está no processo de finalizar os últimos testes e achou que valeria a pena a gente postergar por mais um mês a entrada do processo para concluir todos os testes possíveis e imagináveis com tranquilidade. Então, é um ajuste pontual, natural num processo de implementação de uma iniciativa com a envergadura que é o open banking. O calendário das outras fases não foi alterado.
O sr. costuma dizer que o open banking será como a internet que, quando foi lançada, ninguém sabia ao certo o que se tornaria. Por que será tão revolucionário?
Em sua origem, a internet era usada para a troca de conhecimento entre instituições de ensino americanas. Com o tempo, as pessoas foram percebendo que ela poderia gerar outros negócios. O open banking é parecido. Estamos criando uma plataforma, e nossa expectativa é de que, a partir dela, vários produtos e serviços financeiros sejam desenvolvidos.
Como isso será possível?
O open banking tem algumas características. A primeira delas é a questão de ser uma iniciativa que, de fato, coloca o cidadão no centro das decisões em relação a seus dados financeiros. O segundo ponto é a padronização das informações. Hoje, há fintechs (startups do setor financeiro) que buscam informações em diferentes instituições para ofertar serviços, mas o acesso é difícil. As instituições nem sempre permitem, e os dados não chegam padronizados. Isso vai mudar no open banking. O terceiro aspecto é que os dados vão fluir de forma digital. Assim, o que o Banco Central está fazendo é criar uma plataforma para que o próprio mercado possa se desenvolver.
A segunda fase do open banking é quando os clientes poderão autorizar o acesso das instituições a suas informações. É a partir daí que começam a surgir os novos serviços?
O open banking é uma jornada. A partir do dia 13 de agosto, muitas coisas começarão a funcionar, mas não necessariamente o mundo vai mudar no dia 14. As instituições vão começar a desenvolver os produtos com as funcionalidades que estarão prontas. É como se no dia 13 de agosto a internet estivesse pronta, mas as empresas ainda estariam desenvolvendo produtos para utilizar na plataforma. O desenvolvimento já começou, na primeira fase. Eu cito sempre o exemplo do cheque especial. No caso de alguém que utilize cheque especial em determinado banco, uma segunda instituição poderá oferecer crédito rotativo, mais barato e em volume maior, quando necessário. A cobertura do saldo poderá ser automática.
Pode citar outro exemplo?
No financiamento imobiliário, dados o volume envolvido e o prazo, o cliente está disposto a procurar o crédito em outras instituições. No open banking, vai aparecer no meio do caminho uma fintech que buscará em todas as instituições financeiras as informações sobre a oferta de crédito imobiliário e reunirá isso para o cliente. Assim, quando ele entrar na plataforma, terá a informação de que no banco A o crédito está saindo a 5% ao ano, no banco B, a 4,8% ao ano, e no banco C, a 5,2% ao ano. Isso vai ser feito quase instantaneamente. E o cliente vai escolher a instituição com a melhor oferta.
Fornecer os dados será seguro?
Tudo o que o Banco Central faz é com o maior nível de segurança possível. A segurança é, inclusive, o pilar de uma instituição financeira. Você só aceita depositar seu salário em um banco porque tem segurança da solidez da instituição. Assim, a segurança do open banking é igual à de todos os outros sistemas do sistema financeiro.
Hoje temos o problema das financeiras, que muitas vezes fazem ofertas excessivas de produtos a determinados públicos. Isso é uma preocupação no open banking?
No open banking, o cliente é que autoriza o uso das informações. Se ele autorizou uma instituição a ter acesso a seus dados, isso pode ser para um fim específico ou para algo mais amplo. Ele vai poder cancelar a qualquer momento a autorização.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.