MADRI/LONDRES (Reuters) - Ana Patricia Botín foi educada por décadas para suceder seu pai, Emilio Botín, no comando do banco espanhol Santander e, assim, garantir que a dinastia de banqueiros continue segurando as rédeas do maior banco da zona do euro.
Por unanimidade, o Conselho de Administração do Santander a nomeou nesta quarta-feira como nova presidente da entidade, um dia após seu pai morrer de ataque cardíaco aos 79 anos. Assim, aos 53 anos, ela representa a quarta geração da família Botín no comando da instituição financeira.
O banco espanhol controla o Santander Brasil, o maior banco estrangeiro que atua no país. Nos últimos anos, Emilio Botín veio ao Brasil várias vezes, a última delas em julho.
Desde 2010, Ana Patricia respondia pela divisão britânica do Santander.
"O que é uma perda para a Grã-Bretanha se tornará ganho para a Espanha", disse Mark Garnier, político britânico membro do Comitê do Tesouro que submete os principais banqueiros a um exame minucioso sobre questões regulamentares.
"É uma mulher que está claramente a par das coisas e sua presença se destaca. Sua contribuição tem sido muito positiva, em contraste com tantos exemplos negativos que marcaram muitos outros bancos", acrescentou.
Ana Patricia Botín sofrerá grande pressão desde o primeiro dia para se defender contra qualquer crítica de nepotismo.
"A questão principal aqui não é se o controle da família é bom ou ruim. Em última análise, depende das pessoas e sua filha foi feita no mesmo molde (Emilio Botin)", disse Philip Saunders, chefe de gestão de ativos da Investec Management.
Nascida em 1960 em Santander, na Espanha, ela estudou na Universidade de Harvard e graduou-se em Economia pela Bryn Mawr, nos Estados Unidos. Foi nomeada pela primeira vez conselheira do Santander em 1989.
Antes de ingressar no banco, passou sete anos no JP Morgan, entre Madri e Nova York, até 1988.
A executiva é apreciadora de música clássica e extremamente zelosa de sua privacidade, apesar de sua presença na mídia transcender as fronteiras sempre que a revista Forbes publica o ranking anual das mulheres mais poderosas do mundo.
Filha mais velha de Emilio, ela tem sido responsável pela supervisão de uma grande mudança de estratégia na divisão britânica, com redução no ritmo de empréstimo imobiliários e aumento do fluxo de recursos para empresas, antes de prosseguir com a oferta inicial de ações do Santander na bolsa de Londres.
Amante de esportes, em especial do golfe como o pai, seu domínio de cinco idiomas a tem feito representar o banco no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), e confraternizar com políticos, como o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Casada e mãe de três filhos, Ana Patricia tem sido um defensora feroz da conciliação entre trabalho e família de seus funcionários, embora pessoalmente tenha herdado do pai o vício em trabalho.
Banqueiros que a conhecem dizem que provavelmente ela escolherá boas equipes, o que poderia também levar a uma mudança no estilo de gestão, após quase três décadas de dominância da personalidade de Emilio Botín no Santander.
(Reportagem de Jesús Aguado)