RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras continuará reivindicando o reajuste dos preços dos combustíveis, apesar da recente redução da defasagem entre os preços praticados no mercado interno e externo, que tem gerado prejuízo para a estatal, disse à Reuters uma fonte do alto escalão da empresa.
Os preços de petróleo no mercado externo atingiram as mínimas de vários meses, pressionando na mesma medida os preços dos combustíveis que a estatal compra no mercado global para atender a demanda interna. As cotações do petróleo Brent, referência do mercado internacional, do petróleo nos Estados Unidos acumulam queda de cerca de 10 dólares por barril desde junho.
O cenário de preços menores no exterior dá um alívio ao caixa da empresa, cujo acionista controlador, o governo federal, não permite o repasse aos consumidores brasileiros dos preços mais elevados praticados no exterior, para não pressionar a inflação.
"Se continuar assim a tendência é de uma convergência no momento atual, mas houve divergência até pouco tempo", afirmou a fonte, em condição de anonimato. "Pode ser um alívio momentâneo, mas não é ainda a solução...trabalhamos sempre pela convergência."
No primeiro semestre, a estatal importou 415 mil barris de derivados de petróleo por dia, 31 por cento acima do registrado no mesmo período de 2013, de 318 mil barris/dia.
Segundo um estudo da GO Associados divulgado na quinta-feira, a defasagem do preço da gasolina no Brasil ante o valor registrado nas refinarias nos EUA deve ficar em 11 por cento em agosto, abaixo da defasagem de 13 por cento em julho e dos 18 por cento de junho.
Esse percentual é o menor registrado pela consultoria desde novembro do ano passado, quando houve o último reajuste do combustível no Brasil, de 4 por cento nas refinarias.
"A queda do Brent claramente é uma notícia boa para nós", disse a fonte à Reuters. "Os preços estão se aproximando dos internacionais; mas ainda há uma defasagem."
Segundo o estudo, a diferença do preço do diesel --combustível mais vendido pela Petrobras-- deverá ficar neste mês em 4 por cento, menor nível desde o início dos registros pela consultoria em agosto de 2013. Em agosto do ano passado, a defasagem do diesel ante a cotação externa era de 22 por cento.
As fortes importações de combustíveis têm pressionado o caixa da Petrobras. No segundo trimestre a área de abastecimento, responsável pela compra e venda de combustíveis, registrou prejuízo de 3,9 bilhões de reais.
Para que a situação da empresa melhore e o caixa seja menos pressionado, além de um reajuste nos preços dos combustíveis, a Petrobras precisaria aumentar a produção interna de petróleo e ampliar sua capacidade de refino, ressaltou a fonte.
Uma das apostas é a entrada em operação da Refinaria do Nordeste (Rnest) no mês de novembro.
A construção de duas novas unidades de processamento, Premium 1 e 2, no Nordeste do país, estão no Plano de Negócios da Petrobras, mas a viabilidade econômica dos projetos ainda não foi comprovada. Com a entrada das unidades, o Brasil poderá eventualmente se tornar autossuficiente na produção de óleo diesel.
"Não se resolve a questão da importação de uma tacada só. Um monte de coisa tem que acontecer. Tem que entrar refinaria, aumentar produção para chegar na questão do preço", afirmou a fonte.
Outro fator que reduzirá a dependência externa será o aumento da produção de petróleo, que esse ano pode chegar a 7,5 por cento (com margem de erro de 1 ponto para cima ou para baixo), nas estimativas da própria estatal.
"Estou otimista com a meta de 7,5 por cento; temos muitas plataformas e campos entrando. O ritmo tem que apertar no segundo semestre para chegar aos 7,5 por cento", acrescentou.
(Por Rodrigo Viga Gaier; Reportagem adicional de Marta Nogueira; Edição de Gustavo Bonato e Raquel Stenzel)