Por Gabriel Codas
Investing.com - Nos primeiros negócios da manhã desta sexta-feira, as ações da Petrobras operam com importante valorização na B3, mesmo depois de reportar prejuízo líquido de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre do ano. O prejuízo veio após grande baixa contábil devido a uma revisão das premissas de longo prazo para o petróleo Brent, registrando uma perda muito maior que os quase R$ 37 bilhões do quarto trimestre de 2015, quando a companhia ainda se recuperava das denúncias de corrupção da Lava Jato e também por baixas contábeis relacionadas ao declínio dos preços do petróleo e à perda do grau de investimento naquele ano.
A alta da estatal é influenciada pela subida do preço do petróleo no mercado internacional. O contrato futuro do petróleo Brent, negociado em Londres e referência de preço para a Petrobras, tinha alta de 1,41% a US$ 31,57.
Por volta das 10h34, os ganhos das ações preferenciais (SA:PETR4) eram de 3,39% a R$ 17,98, enquanto as ordinárias (SA:PETR3) tinham alta de 4,98% a R$ 18,57. O Ibovespa apresentava volatilidade, alternando baixa e alta na primeira hora de negociação, sem apontar direção. O principal índice acionário brasileiro caía 0,02% a 78.990 pontos.
Mais informações do balanço
No primeiro trimestre deste ano, a empresa lançou uma baixa contábil de 65,3 bilhões de reais ao reavaliar ativos principalmente de exploração e produção, considerando preços mais baixos do petróleo, devido a uma crise global causada pela pandemia do novo coronavírus, que reduziu a demanda pela commodity.
“Estamos assumindo agora que o preço do Brent de longo prazo será em média 50 dólares/barril, contra 65 dólares/barril anteriormente”, afirmou a Petrobras, em seu balanço financeiro trimestral, que projeta o valor médio neste ano de 25 dólares/barril.
A baixa contábil engloba principalmente mudanças no valor recuperável de diversos campos, como em Roncador, Marlim Sul, Polo Norte, Albacora Leste, Polo Berbigão-Sururu, Polo CVIT e Mexilhão, com um impacto total de 57,6 bilhões de reais.
Outros 6,6 bilhões de reais em baixas ocorreram com a hibernação de campos e plataformas em águas rasas, afetando os Polos Norte, Ceará-Mar e Ubarana e os campos de Caioba, Guaricema e Camorim.
A petroleira, que vinha de um lucro líquido de mais de 8 bilhões de reais no quarto trimestre de 2019, após lucrar 4 bilhões de reais de janeiro a março do mesmo ano, teve um resultado operacional acima das expectativas, contudo.
Desconsiderando os efeitos especiais, principalmente impairment e ágio na recompra de bonds, a empresa registraria um prejuízo menor, de 4,6 bilhões de reais no primeiro trimestre.
Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado seria de 36,9 bilhões de reais, em vez dos 37,5 bilhões de reais registrados.
O Ebitda ajustado teve alta de 36,4% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado e avanço de 2,7% em relação ao quarto trimestre, apesar da redução do Brent, principalmente devido ao aumento das exportações, principalmente de petróleo, com níveis recordes em janeiro e fevereiro, quando a queda no Brent ainda era moderada em relação ao mês de março.
Avaliação dos analistas
A geração de caixa da Petrobras (SA:PETR4) superou todas as expectativas, com baixos custos de extração do pré-sal impulsionando os resultados da unidade de Exploração & Produção (E&P) em um primeiro trimestre desafiador, destacaram analistas.
Para o BTG Pactual (SA:BPAC11), embora possivelmente mais lenta do que se pensava inicialmente, a recuperação econômica global permanece como um fator essencial antes do reequilíbrio dos mercados globais de petróleo. Os analistas seguem vendo os preços atuais do petróleo como insustentáveis a longo prazo, o que, combinado com um real mais fraco e a sensação de que a Petrobras permanece independente para retomar seu programa de venda de ativos, apoia a visão de que as avaliações ainda são convincentes com base em setores mais normalizados.
O UBS destaca que não é surpresa que 2020 seja um ano desafiador para as empresas de petróleo e será um bom teste de resiliência. Para os analistas, a Petrobras é uma empresa diferente de 4-5 anos atrás, com uma estrutura de custos mais baixos, alocação inteligente de capital e uma estratégia orientada a valor.
A tese de investimento baseada na transferência de valor da dívida para o patrimônio líquido, devido a um rápido processo de desalavancagem, pode levar mais tempo do que o esperado, mas continua sustentando a classificação de Compra.
A recuperação prevista de petróleo, juntamente com um equilíbrio de FCF competitivo no Brent de US$ 28 rendimento de FCF de 15% (U$$ 40), coloca a Petrobras bem posicionada. Os desinvestimentos podem enfrentar atrasos, mas oferecem uma proteção a longo prazo contra interferências do governo e ajudam no processo de desalavancagem.
"Saudáveis realizações e baixos custos de extração guiaram a performance superior, enquanto menores custos de gás natural liquefeito explicam o resultado gás e energia", disse o Morgan Stanley (NYSE:MS) em relatório.
A instituição ainda lembrou que a baixa contábil bilionária em ativos após revisão para baixo dos preços do petróleo, que resultou no prejuízo, "é difícil de ignorar, ainda que os ajustes tenham sido feitos em campos maduros do pós-sal".
O Morgan Stanley pontuou que a empresa está em situação de liquidez mais confortável na comparação com outros períodos de baixa do preço do petróleo no passado.
O Credit Suisse também lembrou que o Ebitda da estatal superou o consenso e próprias estimativas do banco "por grande margem", acrescentando que os resultados operacionais geraram "substancial" geração de caixa.
O J.P. Morgan também destacou o "lado operacional", ressaltando que a unidade de E&P reportou números "muito sólidos impulsionados por melhora do preço de realização associados a custos menores".
"Os custos de extração do pré-sal alcançaram incríveis 4,52 dólares por barril de óleo equivalente no trimestre", disse o J.P Morgan, destacando que o que importa é o "forte fluxo de caixa livre e performance de E&P".
A diretor financeira e de relações com investidores da Petrobras, Andrea Almeida, lembrou em mensagem divulgada pela assessoria de imprensa que a companhia tem tomado medidas para garantir "saúde financeira durante a crise".
"Fizemos ajuste da produção, revisão de investimentos, postergação do pagamento de dividendos, renegociação de grandes contratos e também redução e postergação de gastos operacionais", comentou.
Ela disse ainda que a crise mostrou a importância da estratégia da Petrobras, de focar em ativos de classe mundial, como o pré-sal.
*Com contribuição de Reuters